Os "Intelectuais" Homologados

Villas, Pondés e afins são frutos de uma época sombria. Nunca criticam estruturas. Diluem, em favor da rapidez e simplismo, tempo e esforço exigidos pelo pensar

O "historiador" Marco Antonio Villa: suas falas podem ser confundidas com apresentações de stand-up comedy. Os intelectuais homologados sabem animar auditórios como poucos. São o produto mais recente da indústria cultural

O “historiador” Marco Antonio Villa: suas falas podem ser confundidas com apresentações de stand-up comedy. Os intelectuais homologados são o produto mais recente da indústria cultural

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Villas, Pondés e afins são produtos de uma época sombria. Nunca criticam estruturas. Diluem, em favor da rapidez e do simplismo, o tempo e esforço exigidos pelo trabalho do pensamento

Por Fran Alavina

Não é de hoje que os intelectuais passaram a exercer uma função midiática para além das antigas aparições públicas, nas quais a fala do acadêmico se apresentava como um diferenciador no âmbito do debate público. Entre a tagarelice das opiniões de pouca solidez, porém repetidas como se certezas fossem, a figura do conhecedor, do estudioso, ou mesmo do especialista surgia como um tipo de freio às vulgarizações e distorções do cotidiano. Não que isso representasse uma alta consideração e respeito da mídia hegemônica em relação ao conhecimento acadêmico, uma vez que a fala do intelectual ao se inserir em um debate cujas regras lhes são alheias facilitava a distorção de suas falas, todavia mantinha-se a diferença explícita entre o conhecimento e a simples informação.

Ademais, a identificação dos intelectuais com certas causas os afastavam do centro do poder e de seus bajuladores: os donos da mídia. Tal representava um entreve por princípio. Era melhor não chamá-los a ocupar um espaço voltado para um público amplo. Entre uma fala e outra surgiria a criticidade que a mídia hegemônica procurava “amansar”. Quando era inevitável ceder-lhes espaço, suas falas nunca poderiam ser identificadas com a informação, nem apresentada na forma da informação. Isto era o signo divisor, como que dizendo: “não liguem muito, é coisa de intelectual (…)”. Nos últimos anos, contudo, essa diferença (entre conhecimento e informação, entre o papel do intelectual e a função midiática) não apenas se esgarçou, como se tornou quase nula. Por isso, hoje estamos diante de um novo tipo de intelectual: o intelectual homologado.

Este tipo de intelectual surge nos espaços da mídia hegemônica como uma espécie de adendo à informação, um plus, pois o saber, representado pela sua presença, que supostamente emprestaria prestigio às notícias é dado sempre na forma da informação, portanto descaracterizando os elementos que constituem qualquer tipo de conhecimento. Ou seja, sobre critérios que fazem do saber um não saber. Dilui-se na torrente informacional midiática o tempo demandado e o esforço necessário exigidos pelo trabalho do pensamento, em favor da rapidez e do simplismo. Porém, tais aspectos, embora importantes, não configuram o fator determinante da homologação.

Estes intelectuais são homologados na medida em que suas falas públicas têm aparente criticidade e profundidade. Em verdade, nunca dizem algo que seja contra os interesses dos meios midiáticos que lhes dão guarida, nunca fazem um crítica profunda que mexa com as estruturas mais acomodadas do seu público, pois este já não é mais uma plateia que dá ouvidos às palavras do homem de saber, mas um grande fã-clube que ele não pode jamais desapontar. A formação deste fã-clube impede a autonomia que caracteriza o sujeito de saber. Desse modo, não se estabelece, de fato, uma relação que enseja conhecimento, mas uma relação de poder, na qual o liame é a dependência entre os ditos e gestos e a obediência na forma do consentimento Tanto é assim que nos raros momentos em que o fã-clube do intelectual homologado se volta contra ele, o objeto da “revolta” não é de cunho teórico, ou seja, não é um debate sobre suas obras ou suas ideias, porém diz respeito a um fato de sua vida privada. Seus fãs exercem uma vigilância policialesca, como os fãs de qualquer astro pop, pois a relação se, por um lado, exige o consentimento, por outro lado, faculta a vigilância aos que consentem. A figura do intelectual homologado traz consigo uma legião de homologados intelectuais. Ora, não foi isto que ocorreu nos últimos dias, com a pantomima em torno de uma foto postada nas redes sociais pelo nosso mais bem acabado exemplo de intelectual homologado?

Como a celebridade pop que depois de flagrada fazendo algo que desagradou aos seus fãs, foi obrigado a redigir um pedido de desculpas. Na “prestação de contas” ao seu fã-clube deixou-se escapar toda a vaidade e o exibicionismo. Ele dividiu o mundo entre aqueles que o amam e aqueles que o odeiam. Crença típica das celebridades midiáticas, segundo a qual uma vez alcançado o posto de famoso, as pessoas ou o invejam, ou lhes prestam deferência. Qualquer coisa fora desse script é visto como algo sem sentido. Em alguns casos são críticos das religiões, mas agem como os pastores que criticam, formando um rebanho não pequeno. O que atesta que se trata de uma relação de poder, e de um poder sedutor, pois travestido de saber.

O grande fã-clube reforça a secular vaidade dos intelectuais, que hoje já não medem mais o êxito de suas carreiras pela qualidade de suas publicações, ou por terem se tornado referência em suas áreas, ou mesmo pelo número de citações de seus trabalhos em outros estudos. O produtivismo do currículo lattes não lhe sacia mais. O êxito e a qualidade são confundidos com o sucesso de público, a qualidade mede-se pela quantidade de curtidas que suas páginas virtuais possuem, pelos vídeos postados que se tornam virais e pelo maior número de palestras pagas que podem amealhar. Embora, na maioria dos casos, suas formações e carreiras sejam devidas ao sistema público e gratuito de ensino superior, ao venderem palestras e workshops pagos e fora das universidades públicas, além de distorcerem a função social do saber, tornam-se um tipo de mercadoria. Por conseguinte, expressam a ideologia neoliberal segundo a qual todo indivíduo é um empreendedor de si mesmo. Como empreendedores, eles se vendem para um público determinado, cujo nicho de mercado descortinaram. Tal é o caráter mercadológico que perpassa a atividade do intelectual homologado.

Em alguns casos, seus discursos públicos e “intervenções” parecem ter uma singular acidez crítica. Porém, se trata de uma semelhança aparente, o intelectual homologado tem um efeito placebo sobre o grande público, sua crítica nunca visa a raiz das coisas, mas alguns aspectos modísticos, oportunistas. Aceitando a homologação, seu papel é entreter, desviando a atenção do público com base no conhecimento e na posição que lograram.

Dessa maneira, suas falas podem ser confundidas com apresentações de stand-up comedy. Sabem animar auditórios como poucos. O intelectual homologado, com efeito, é o produto mais recente da indústria cultural. Tal figura, típica do farsesco debate público contemporâneo, contudo não surgiu do nada. Embora seja uma figura recente, o intelectual homologado é precedido por uma história própria da intelectualidade e suas determinações de classe. Ainda que, muitas vezes, ele queira se apresentar como alguém que fala de fora e acima do corpo social, assim observa sem sujar as mãos, supondo uma posição privilegiada e imparcial, quase sempre tende a repetir, sob o manto do discurso abalizado, a visão parcial de sua classe social.

O intelectual homologado é precedido pela figura do intelectual orgânico que outrora se comprometia com um projeto nacional-popular; este, um pouco depois, deu lugar ao intelectual engajado. Já nos anos 1990, verificou-se o silêncio dos intelectuais após o fim das utopias e a derrota histórica das formas alternativas de organização social até então constituídas. Esta derrota histórica e este silêncio, que apareciam como um gesto de mea culpa, formaram um interdito que reduziu os objetos do discurso público do intelectual, objetos que à medida que diminuíam de dimensão propiciaram a identificação do intelectual com o especialista. Tal se configurou, primordialmente, na figura do economista. Todavia, depois da crise mais recente do capital, a fala pública do economista perdeu crédito, surgindo em seu lugar o intelectual homologado que na maioria dos casos são homens saídos das ciências humanas, mais particularmente da filosofia, da história e da educação. Por enquanto, os geógrafos, antropólogos, e parte dos cientistas sociais, parecem resistir à homologação, ainda que ela seja extremamente sedutora.

Pasolini, em seus textos corsários e luteranos, que tinham como objeto a Itália dos anos 1970, já diagnosticava a figura do intelectual homologado como um produto que perduraria por longo tempo no espaço público, pois sua vitalidade se alimenta justamente de um crescente anti-intelectualismo. Enquanto a postura do intelectual requer algo contrário do que aí se apresenta, aceita-se o simulacro como se fosse a própria coisa. A tagarelice do intelectual homologado, que discursa sobre tudo por medo de ser esquecido, não é o fim do silêncio dos intelectuais, mas sua confirmação. Quanto mais falam, mais se mostra sobre o que silenciam.

Entre nós, não faltam casos ilustrativos. Como vivem da imagem midiática que construíram, os intelectuais homologados apresentam-se com certo aspecto caricatural, como o personagem que se identifica pelo bordão. O historiador da UFSCar, por exemplo, quase sempre se apresenta em tom elevado, dedo em riste, e no auge de suas “intervenções” mais acaloradas não fica com um fio de cabelo fora do lugar. Bate-boca e indisposição com políticos de esquerda, como se isto fosse sinal do bom debate, é o diferencial de seu produto. Já o filósofo do politicamente incorreto ressuscitou o cachimbo como secular excentricidade do intelectual. Perfazendo uma imagem que beira o kitsch, com frequência posta vídeos em que aparece fumando (talvez seja este o signo do politicamente incorreto?!) e cercado de livros que lhe emprestam a áurea de sabichão.

Seria apenas cômico, se não configurassem a expressão trágica do pensamento fácil. O intelectual homologado é o último estágio da miséria dos intelectuais. Indica a perda de dignidade do pensamento crítico, na verdadeira acepção do termo, e, talvez, o vislumbre de sua derrota.

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26 comentários para "Os "Intelectuais" Homologados"

  1. RICARDO LOBO disse:

    É isso aí! MARILENA CHAUÍ NELES!

  2. Finalmente encontrei uma boa expressão por uma idiosincrasia crescente frente a figuras midiáticas recorrentes, regulares etc etc da mídia que ainda atraem um público desesperado por não saber mais pensar. Muito obrigada mesmo

  3. João Bosco Coelho Costa disse:

    Um texto que vale cada segundo para ler tal a pertinência e acuidade.

  4. Danilo Lucci disse:

    Esse texto me trouxe dois pensamentos distintos:
    Por um lado, concordo plenamente que essa “nova” categoria de pensadores traz em si um tom pop, com seguidores ávidos por comprar suas idéias de pronto, como tudo em nossa sociedade parece exigir uma rapidez mercuriana, transformando o saber em um produto de massa.
    Porém, por outro, ao oferecer sínteses de certas correntes de pensamentos e autores, imagino se não teriam eles, também um papel interessante na introdução ao grande público, já que nossas escolas são tão carentes nesses aspectos. Mesmo que não atinja a todos com mesma intensidade, talvez sirvam de porta de entrada de alguns ao pensamento crítico e sua importância cotidiana.
    O que pensam sobre essa segunda hipótese?

  5. Estevam disse:

    Uma pro-vocação necessária na contemporaneidade. ..

  6. 1. Uma análise busca descrever com fins de tornar o objeto relativo a seu entorno e conhecido a partir de seu modo de ser, no caso, o que é ser um intelectual homologado.
    2. Um projeto busca por proposição instaurar um novo modo de ser, no caso, um substituto do intelectual homologado. Coisa que o artigo não se ocupa.
    Conclusão:
    Uma análise não pode ser “fraca” como consequência de uma ausência propositiva para o que se analisa.

  7. Jorge Luis disse:

    Li alguns livros de Robert Kurz, sua visão pós-marxista, sendo marxista ao resgatar o Marx dos Grundrisse e criticando o de O Capital. Assim como li também Anselm Jappe “As aventuras da Mercadoria”, a qual tenho algumas críticas de cunho teórico sobre a questão do fim do trabalho, da política. Mas nada que me impeça concordar com outras reflexões sobre o colapso do processo de acumulação do capital. Tive algumas discussões e divergências com o Grupo Crítica Radical, mas apenas de caráter de abordagem teórica de Marx, em que o grupo não entende o caráter ontológico do pensamento de Marx, nem mesmo Kurz. Acho que é uma questão de método de análise ou conceituação do que seja ontologia de Lukács, preso ao livro “História e Consciência de Classe” o qual o próprio fez uma autocrítica em 1968 sobre o livro. Mas o quero dizer sobre Verdade Histórica é que ela não é produto de uma teoria idealista, mas da materialidade social. Não que o marxismo enquanto forma de conhecimento da realidade capitalista seja um dogma ou uma doutrina inquestionável, pelo contrário, há vários marxismos e daí sua riqueza reflexiva. É como diz Sarte no seu livro “Crítica da Razão Dialética”: “Enquanto houver capitalismo, vai haver marxismo.” ou “O marxismo é a filosofia insuperável de nosso tempo”. Uma “ciência” que faz tremer a burguesia e suas instituições sociais consolidadas. Se o trabalhador lesse um pouco de Marx como lê a Bíblia, a burguesia tava lascada na sua hegemonia mundial. Risos. Marx X Jesus. Não dá pra competir com Deus.

  8. Lilith Mariah disse:

    Perfeito comentário Jorge Luis

  9. damo disse:

    Na incerteza grandemente generalizada, a reorientação é tanto mais difícil quanto a teoria pós-moderna se procura imunizar contra uma possível crítica à sua espécie de crítica do pensamento anterior (não em último lugar marxista), de modo que ela não promete porventura superar a incerteza transitória através de uma nova certeza histórica, pelo contrário, ergue como dogma a “perda de todas as certezas”. Esta “perda” não é sentida como problemática, mas sim como uma espécie de sucesso, em que francamente se rejubila. Tudo é incerto, excepto o facto de que já não pode haver mais certezas. Declara-se como verdade eterna que já não há qualquer verdade, nem sequer uma verdade historicamente limitada. Só o relativismo deve ser agora absoluto. Nesta determinação formal de que a verdade será produzida e uma pura questão de poder, tal a solícita afirmação no sentido de uma “questão negociável” liberal, o conteúdo parece tornar-se arbitrário, ou pelo menos com vários sentidos. Já não é claro que justamente este paradigma constitui ou corresponde ele próprio a um determinado conteúdo que se pretende que seja inatacável na luta pela verdade.”Ronbert Kurz(A Luta pela Verdade)Excerto)
    Qunato ao texto de Fran Alavina, bom demais…Excreva mais ..

  10. AJ disse:

    Pontos de vista… Só isso.

  11. Jorge Luis disse:

    risos…

  12. damo disse:

    Boa, Jorge, acertou no alvo

  13. Jorge Luis disse:

    “A revolução faz emergir verdades e produz outras verdades… ” a meu ver, e revolução é um conceito que vai além do discurso jacobinista.

  14. Jorge Luis disse:

    Fran responda as críticas com uma premissa que Marx escreveu em Tese sobre Feurbach… “A verdade de um pensamento se prova na terrenalidade da realidade”. Sua discussão não se limita a lógica de falso ou verdadeiro, certo ou errado, essa dicotomia reflexiva ou falsa questão que não observa as contradições sociais. Ou como disse Marx: “as ideias dominantes de um período histórico são sempre as ideias das classes dominantes”. Quem é Villa e a quem ele serve? Quem é Pondé e qual é a sua ideologia reflexiva? Ninguém é neutro ou imparcial. Dizer que o capitalismo é o sistema final da humanidade, não criticá-lo e não perceber os limites do seu processo de produção e acumulação é cair na ignorância do senso comum empresarial e midiático. Esta pergunta capciosa se alguém detém a verdade é um sofisma lógico e não uma lógica real, baseado na materialidade social. Confundir crítica com acusação, não sei se é por aí. É o discurso vitimista que não sabe contra-argumentar. Também não podemos cair no discurso arendtiano de Opinião como fundamento da comunidade. Opinismo é cair no relativismo, ou seja, “é a minha opinião”, então nunca vamos construir um consenso? Ficaremos no individualismo opinativo? Como diz Trotski, “a verdade é revolucionária” e não um desejo da pessoa. Ela emerge da realidade… O real é racional ou racional é real? Eis o dilema do debate filosófico. Da questão da fundamentação da filosofia. A pragmática linguística como reviravolta filosófica quando invoca a questão da falibilidade do conhecimento… ver Manfredo Araújo sobre a questão da fundamentação.

  15. Jorge Luis disse:

    dizer que é bla bla não disse nada… pontue suas críticas… quem disse bla bla na verdade foi você.

  16. marcos disse:

    Fran, na boa, um ótimo texto e bastante ousado. Há um tempo penso questões do tipo. Entretanto, por vezes me acho contraditório, pois: em que medida podemos separar o “intelectual” em classes de bons ou ruins? Além disso, toda essa retórica que você analisa no chamado intelectual homologado, essa retórica é também a dos intelectuais não homologados, os que se aproximam dos bons segundo sua analise. É assim que vejo. Platão e Aristóteles fizeram passar os sofistas por meros falaciosos dando a si próprios o título de mestres da verdade, e àqueles o de mentirosos. Enfim, esses ditos homologados são em muito semelhante a muitos que vemos na acadêmia, e que são mais privados de publicidade. O que gostaria de provocar é: não está tomando para si uma posição de detentora da verdade e acusando aqueles que não lhe agradam de mentirosos?

  17. Cairo Rocha disse:

    Fraca a sua análise.
    Muito bla bla bla, sem uma proposta melhor e conclusiva, como alternativa ao que se crítica.

  18. Jorge Luis disse:

    CONSERTANDO: LIVRO DO VILLA É: Mensalão – O Julgamento do Maior Caso de Corrupção da História Política Brasileira

  19. Jorge Luis disse:

    Desculpe os errinhos… abraço….

  20. Jorge Luis disse:

    Fran, não tenho mais nada acrescentar. Uma reflexão primorosa. Pondé e Villa são uma vergonha de intelectuais de direita, pró-neoliberalismo, o primeiro anti-esquerda, o outro anti-tudo, esquerda, PT, Lula, comunismo, um estoriador…que faz livros baseado em noticiários jornalistas puramente. Quando escreveu o livro “O Chefe”, como historiador deveria ter feito entrevistas com Lula, com os que foram presos pela condenação da Ação Penal 470. Não o fez, porque não é um pesquisador, é um ideólogo da direita brasileira, a saber, do tucanato paulista. Agressivo, sem elegância nas Palavras, Villa foi humilhado pelo ministro do trabalho do governo Jango no Roda Viva, quando este o perguntou se ele havia entrevistados “mensaleiros” para escrever o livro ou só fez Control + C de jornais e revistas. Jornais brasileiros estes tendenciosos e inconfiáveis. Me lembrei do grande teórico italiano Antonio Gramsci quando advoga que todo homem é intelectual, porque antes de tudo usa o intelecto, mas fala que o intelectual que pensa a realidade sistematicamente ou cientificamente, como o intelectual orgânico que é um revolucionário que se insere no meio das massas para trocar conhecimentos. O intelectual revolucionário e não burguês. A burguesia tem seus ideólogos, seus intelectuais, para legitimar sua visão de mundo, de sociedade. Se a burguesia tem seus intelectuais para justificar sua hegemonia de classe, o proletariado tem os seus para desconstruir essa ideologia da dominação de uma classe pela outra. Na Ideologia Alemã, Marx trata um pouco disso. Max Weber, apesar de sua importância no desenvolvimento da sociologia, era um intelectual de direita. E mesmo assim elogiou Marx, sua genialidade. No Brasil, parece que temos intelectoides na Universidade como Villa, Janaína e Pondé que faz relativismo filosófico nas suas reflexões, chegando a ponto de dizer que essa divisão de esquerda e direita no mundo hoje não tem diferencial. Então meu amigo, parabéns. Na verdade o texto me lembra de padres ou pastores pop star que são incapazes de criticar a estrutura econômica perversa do capitalismo e limita a dizer que o mérito ou o demérito de uma pessoa é devido a sua fé forte ou fraca. Não fazem uma crítica a crise estrutural e sistêmica do capital, quando fica benzendo carteiras de trabalhos, pedindo os fieis para agradecer a Deus porque conseguiu um trabalho explorado, indecente na sociedade capitalista, em que o trabalhador vai esgotar seu organismo humano para enriquecer minorias sociais, depois se aposenta e olhe lá, para cuidar das doenças adquiridas com seu sofrimento laboral e esperara a morte chegar. Chega de resignação alienante… é hora de se rebelar contra o sistema da acumulação de riqueza para capitalistas egoístas. Um abraço.

  21. Alex Baoli disse:

    Fran Alavina, li o texto não com a avidez de um fã, o que seria apropriado aos intelectuais homologados, dada a desrazão com que eles subestimam a percepção (e recepção) da sua claque; mas como alguém que se queda diante de uma análise de tanta lucidez. Queda-se para se reerguer mais forte e diante da palavra compartilhada. Intelectuais desse tipo são os que me fazem esquecer um tanto Gramschi e lembrar de um outro verdadeiro intelectual que os poria no lugar: Debord. É fato que todas as firulas engendradas por esses sujeitos ganham espaço fácil em terreno lodoso, metáfora simples para a igualmente ideologia da claque desses homens: mentes superficiais compreendem o superficial apenas. A sua “genealogia” sobre o intelectual me autoriza a afirmar que esses sujeitos eivaram o que seria sacralizado por uma mesma ideia/noção de intelectualidade. Estão mais dispostos a aparecerem e falarem qualquer coisa (homens-gêisers) , sempre lembrando, sem tocarem o essencial da coisa, pois ficam blindados pela parca problematização da doxa. Aristóteles ainda põe a tragédia num posto elevado em detrimento da comédia. O que Pondé e cia fazem é espetacularizar mesmo a figura do intelectual. A referência ao careca-pseudo-esquerdista-apressado-nas-análises foi magistral. Você ainda cita Pasolini, cuja grandiosíssima obra traz lume novo, em tempos sombrios. Dizer um mero (no sentido mais simples do termo, aqui) parabéns,seria um reducionismo diante de uma análise tão abissal da conjuntura atual e dos últimos tempos da figura do intelectual. Antes um vibrante “muito obrigado” por esse texto, dirijo a você. Não me porto como fã, como falei, o verdadeiro intelectual rejeita qualquer natureza de claque, pois pressupõe a liberdade do Outro. E sei que, dada a sua intelectualidade, você rejeitaria tal postura vinda de um leitor. Obrigado pela palavra. Você é sério, razão pela qual tem meu respeito. Que análise!!!

  22. Arthur disse:

    Não sei nem mesmo se é correto chamar essa turma de intelectuais tal é a vulgaridade e os trejeitos e falas ensaiadas, muito mais no estilo de atores de telenovelas do que de especialistas em alguma área do conhecimento. Tomando como exemplo a quase totalidade daqueles que participam do Jornal da TV Cultura à noite, observa-se comentários tendenciosos e superficiais, sempre de acordo com o figurino neoliberal e direitista e que nada contribuem para uma reflexão crítica e equilibrada. Tristes tempos.

  23. Sergio S. Brasil disse:

    excelente reflexão, aliás rara em tempo de hegemonia do pensamento simplório.

  24. E se esses tipos forem apenas a deterioração do filisteu educado cujo retrato Nietzsche já havia desenhado na segunda metade do séc. XIX?

  25. Ruy Mauricio de Lima e Silva Neto disse:

    Absolutamente perfeita esta análise. Já era tempo de aparecer alguém superdotado intelectualmente para desmascarar esta trágica modalidade de stand-up. Uma mistura tragicômica de Silvio Santos, Karl Marx e Max Weber (como se fossem compatíveis) Tudo absolutamente perfeito e procedente. Que tragédia estes nossos tempos! Dizer que há coisa de 40, 50 anos ainda recebíamos a visita benfazeja em nossas casas de um Silveira Sampaio, de um Antonio Maria, de um Antonio Callado, de um Otto Lara Resende, de um Sergio Porto (entre muitos outros)…Tristes tempos.Tristes Trópicos.

  26. Sonia carbonell disse:

    Excelente artigo. Botou o dedo na ferida. Parabéns!

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