O Brasil no epicentro da Guerra Híbrida

Que são, nos manuais americanos, ações não-convencionais contra “forças hostis” aos EUA. Impeachment e Pré-sal. Como super-ricos cooptam a classe média

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Que são, nos manuais norte-americanos, as ações não-convencionais contra “forças hostis” a Washington. A centralidade do Pré-Sal no impeachment. Como os super-ricos cooptam a velha classe média

Por Pepe Escobar | Tradução: Vinícius Gomes Melo e Inês Castilho

Revoluções coloridas nunca são demais. Os Estados Unidos, ou o Excepcionalistão, estão sempre atrás de atualizações de suas estratégias para perpetuar a hegemonia do seu Império do Caos.

A matriz ideológica e o modus operandi das revoluções coloridas já são, a essa altura, de domínio público. Nem tanto, ainda, o conceito de Guerra Não-Convencional (UW, na sigla em inglês).

Esse conceito surgiu em 2010, derivado do Manual para Guerras Não-Convencionais das Forças Especiais. Eis a citação-chave: “O objetivo dos esforços dos EUA nesse tipo de guerra é explorar as vulnerabilidades políticas, militares, econômicas e psicológicas de potências hostis, desenvolvendo e apoiando forças de resistência para atingir os objetivos estratégicos dos Estados Unidos. […] Num futuro previsível, as forças dos EUA se engajarão predominantemente em operações de guerras irregulares (IW, na sigla em inglês)”.

“Potências hostis” são entendidas aqui não apenas no sentido militar; qualquer país que ouse desafiar um fundamento da “ordem” mundial centrada em Washington pode ser rotulado como “hostil” – do Sudão à Argentina.

As ligações perigosas entre as revoluções coloridas e o conceito de Guerra Não-Convencional já desabrocharam, transformando-se em Guerra Híbrida; caso perverso de Flores do Mal. Revolução colorida nada mais é que o primeiro estágio daquilo que se tornará a Guerra Híbrida. E Guerra Híbrida pode ser interpretada essencialmente como a Teoria do Caos armada – um conceito absoluto queridinho dos militares norte-americanos (“a política é a continuidade da guerra por meios linguísticos”). Meu livro Império do Caos, de 2014, trata essencialmente de rastrear uma miríade de suas ramificações.

Essa bem fundamentada tese em três partes esclarece o objetivo central por trás de uma Guerra Híbrida em larga escala: “destruir projetos conectados transnacionais multipolares por meio de conflitos provocados externamente (étnicos, religiosos, políticos etc.) dentro de um país alvo”.

Os países do BRICS (Brasil Rússia, Índia, China e África do Sul) – uma sigla/conceito amaldiçoada no eixo Casa Branca-Wall Street – só tinham de ser os primeiros alvos da Guerra Híbrida. Por uma miríade de razões, entre elas: o plano de realizar comércio e negócios em suas próprias moedas, evitando o dólar norte-americano; a criação do banco de desenvolvimento dos BRICS; a declarada intenção de aumentar a integração na Eurásia, simbolizada pela hoje convergente “Rota da Seda”, liderada pela China – Um Cinturão, Uma Estrada (OBOR, na sigla em inglês), na terminologia oficial – e pela União Econômica da Eurásia, liderada pela Rússia (EEU, na sigla em inglês).

Isso implica em que, mais cedo do que tarde, a Guerra Híbrida atingirá a Ásia Central; o Quirguistão é o candidato ideal a primeiro laboratório para as experiências tipo revolução colorida dos Estados Unidos, ou o Excepcionalistão.

No estágio atual, a Guerra Híbrida está muito ativa nas fronteiras ocidentais da Rússia (Ucrânia), mas ainda embrionária em Xinjiang, oeste longínquo da China, que Pequim microgerencia como um falcão. A Guerra Híbrida também já está sendo aplicada para evitar o estratagema da construção de um oleoduto crucial, a construção do Ramo da Turquia. E será também totalmente aplicada para interromper a Rota da Seda nos Bálcãs – vital para a integração comercial da China com a Europa Oriental.

Uma vez que os BRICS são a única e verdadeira força em contraposição ao Excepcionalistão, foi necessário desenvolver uma estratégia para cada um de seus principais personagens. O jogo foi pesado contra a Rússia – de sanções à completa demonização, passando por um ataque frontal a sua moeda, uma guerra de preços do petróleo e até mesmo uma (patética) tentativa de iniciar uma revolução colorida nas ruas de Moscou. Para um membro mais fraco dos BRICS foi preciso utilizar uma estratégia mais sutil, o que nos leva à complexidade da Guerra Híbrida aplicada à atual, maciça desestabilização política e econômica do Brasil.

No manual da Guerra Híbrida, a percepção da influência de uma vasta “classe média não-engajada” é essencial para chegar ao sucesso, de forma que esses não-engajados tornem-se, mais cedo ou mais tarde, contrários a seus líderes políticos. O processo inclui tudo, de “apoio à insurgência” (como na Síria) a “ampliação do descontentamento por meio de propaganda e esforços políticos e psicológicos para desacreditar o governo” (como no Brasil). E conforme cresce a insurreição, cresce também a “intensificação da propaganda; e a preparação psicológica da população para a rebelião.” Esse, em resumo, tem sido o caso brasileiro.

Precisamos do nosso próprio Saddam

Um dos maiores objetivos estratégicos do Excepcionalistão é em geral um mix de revolução colorida e Guerra Híbrida. Mas a sociedade brasileira e sua vibrante democracia eram muito sofisticadas para métodos tipo hard, tais como sanções ou a “responsabilidade de proteger” (R2P, na sigla em inglês).

Não por acaso, São Paulo tornou-seo epicentro da Guerra Híbrida contra o Brasil. Capital do estado mais rico do Brasil e também capital econômico-financeira da América Latina, São Paulo é o nódulo central de uma estrutura de poder interconectada nacional e internacionalmente.

O sistema financeiro global centrado em Wall Street – que domina virtualmente o Ocidente inteiro – não podia simplesmente aceitar a soberania nacional, em sua completa expressão, de um ator regional da importância do Brasil.

A “Primavera Brasileira” foi virtualmente invisível, no início, um fenômeno exclusivo das mídias sociais – tal qual a Síria, no começo de 2011.

Foi quando, em junho de 2013, Edward Snowden revelou as famosas práticas de espionagem da NSA. No Brasil, a questão era espionar a Petrobras. E então, num passe de mágica, um juiz regional de primeira instância, Sérgio Moro, com base numa única fonte – um doleiro, operador de câmbio no mercado negro – teve acesso a um grande volume de documentos sobre a Petrobras. Até o momento, a investigação de dois anos da Lava Jato não revelou como eles conseguiram saber tanto sobre o que chamaram de “célula criminosa” que agia dentro da Petrobras.

O importante é que o modus operandi da revolução colorida – a luta contra a corrupção e “em defesa da democracia” – já estava sendo colocada em prática. Aquele era o primeiro passo da Guerra Híbrida.

Como cunhado pelos Excepcionalistas, há “bons” e “maus” terroristas causando estragos em toda a “Siraq”; no Brasil há uma explosão das figuras do corrupto “bom” e do corrupto “ruim”.

O Wikileaks revelou também como os Excepcionalistas duvidaram da capacidade do Brasil de projetar um submarino nuclear – uma questão de segurança nacional. Como a construtora Odebrecht tornava-se global. Como a Petrobras desenvolveu, por conta própria, a tecnologia para explorar depósitos do pré sal – a maior descoberta de petróleo deste jovem século 21, da qual as Grandes Petrolíferas dos EUA foram excluidas por ninguém menos que Lula.

Então, como resultado das revelações de Snowden, a administração Roussef exigiu que todas as agências do governo usassem empresas estatais em seus serviços de tecnologia. Isso poderia significar que as companhias norte-americanas perderiam até US$ 35 bilhões de receita em dois anos, ao ser excluídos de negociar na 7ª maior economia do mundo – como descobriu o grupo de pesquisa Fundação para a Informação, Tecnologia & Inovação (Information Technology & Innovation Foundation).

O futuro acontece agora

A marcha em direção à Guerra Híbrida no Brasil teve pouco a ver com as tendências políticas de direita ou esquerda. Foi basicamente sobre a mobilização de algumas famílias ultra ricas que governam de fato o país; da compra de grandes parcelas do Congresso; do controle dos meios de comunicação; do comportamento de donos de escravos do século 19 (a escravidão ainda permeia todas as relações sociais no Brasil); e de legitimar tudo isso por meio de uma robusta, embora espúria tradição intelectual.

Eles dariam o sinal para a mobilização da classe média. O sociólogo Jesse de Souza identificou uma freudiana “gratificação substitutiva”, fenômeno pelo qual a classe média brasileira – grande parte da qual clama agora pela mudança do regime – imita os poucos ultra ricos, embora seja impiedosamente explorada por eles, através de um monte de impostos e altíssimas taxas de juros.

Os 0,0001% ultra ricos e as classes médias precisavam de um Outro para demonizar – no estilo Excepcionalista. E nada poderia ser mais perfeito para o velho complexo da elite judicial-policial-midiática do que a figura de um Saddam Hussein tropical: o ex-presidente Lula.

“Movimentos” de ultra direita financiados pelos nefastos Irmãos Kock pipocaram repentinamente nas redes sociais e nos protestos de rua. O procurador geral de justiça do Brasil visitou o Império do Caos chefiando uma equipe da Lava Jato para distribuir informações sobre a Petrobras que poderiam sustentar acusações do Ministério da Justiça. A Lava Jato e o – imensamente corrupto – Congresso brasileiro, que irá agora deliberar sobre o possível impeachment da presidente Roussef, revelaram-se uma coisa só.

Àquela altura, os roteiristas estavar seguros de que a infra-estrutura social para a mudança de regime já havia produzido uma massa crítica anti-governo, permitindo assim o pleno florescimento da revolução colorida. O caminho para um golpe soft estava pavimentado – sem ter sequer de recorrer ao mortal terrorismo urbano (como na Ucrânia). O problema era que, se o golpe soft falhasse – como parece ser pelo menos possível, agora – seria muito difícil desencadear um golpe duro, estilo Pinochet, através da UW, contra a administração sitiada de Roussef; ou seja, executando finalmente a Guerra Híbrida Total.

No nível socioeconômico, a Lava Jato seria um “sucesso” total somente se fosse espelhada por um abrandamento das leis brasileiras que regulam a exploração do petróleo, abrindo-a para as Grandes Petrolíferas dos EUA. Paralelamente, todos os investimentos em programas sociais teriam de ser esmagados.

Ao contrário, o que está acontecendo agora é a mobilização progressiva da sociedade civil brasileira contra o cenário de golpe branco/golpe soft/mudança de regime. Atores cruciais da sociedade brasileira estão se posicionando firmemente contra o impeachment da presidente Rousseff, da igreja católica aos evangélicos; professores universitários do primeiro escalão; ao menos 15 governadores estaduais; massas de trabalhadores sindicalizados e trabalhadores da “economia informal”; artistas; intelectuais de destaque; juristas; a grande maioria dos advogados; e por último, mas não menos importante, o “Brasil profundo” que elegeu Rousseff legalmente, com 54,5 milhões de votos.

A disputa não chegará ao fim até que se ouça o canto de algum homem gordo do Supremo Tribunal Federal. Certo é que os acadêmicos brasileiros independentes já estão lançando as bases para pesquisar a Lava Jato não como uma operação anti-corrupção simples e maciça; mas como estudo de caso final da estratégia geopolítica dos Exceptionalistas, aplicada a um ambiente globalizado sofisticado, dominado por tecnologia da informação e redes sociais. Todo o mundo em desenvolvimento deveria ficar inteiramente alerta – e aprender as relevantes lições, já que o Brasil está fadado a ser visto como último caso da Soft Guerra Híbrida.

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30 comentários para "O Brasil no epicentro da Guerra Híbrida"

  1. Os cães ladram enquanto a caravana passa (provérbio árabe)

  2. Zoio disse:

    Deixa de ser maniqueísta simplório e desonesto intelectual tergiversador Roldão, tua retórica floreada nesse sentido tá te expondo ao ridículo meu velho!!!

  3. Zoio disse:

    Vai explicar isso pra toupeira desonesta intelectual do Roldão!

  4. Zoio disse:

    Roldão, vc é uma toupeira amestrada fundamentalista. “Deus” não vai nos tirar da merda que nos encontramos. Ah: E É GOLPE SIM!!!

  5. Perfeita análise do jornalista Pepe Escobar. Sempre acerta no alvo e com mestria. Precisamos muitos de profissionais com essa agilidade mental.

  6. Xavier disse:

    Hitler é sempre tachado como o mal da história..e a história é sempre contada pelos vencedores!! Só lembrando q o mesmo combatia a imposição de uma economia imperialista formada por França, Inglaterra(Europa) e EUA..parasitas de nações q lançam seus tentáculos nas nações através da agiotagem dos grandes empréstimo a juros astronômico, através dos bancos q são dominados na sua maioria por judeus sionistas , os mesmo q Hitler já identificava como os verdadeiros criadores de toda desigualdade social e econômicas..depois do milagre econômico na ditadura, o momento q se teve maior entrada de empréstimos pelos bancos internacionais foi no governo de Lula e agora chegou a conta juros sobre juros. A Petrobrás é de fato o alvo dessa cobrança.. Com Lula e Dilma fora fica mais fácil privatizar e entregar a preço de banana aos projetos sionistas..lula, dilma e o PT cometeu os mesmos erros da direita ao se intitula como esquerda e adota uma política econômica de direita, afinal se não você assim eles não tinham permitido sua governança..o fato q mesmo errando utilizou desses empréstimo para ampliação de investimentos na área social..principalmente educação.. Só esqueceu de fazer reforma tributária, agrária, política e judiciária q tanto pregava antes de ser presidente.. pra mim só seremos um país sério quando realizamos essas reformas em prol do benefício coletivo e não só priveligiando uma minoria. Pois temos potencial energético, recursos naturais e uma população de 200 milhões q movimenta a economia interna ao meu ver sem precisar de recorrer a esses parasitas de nações.. Falta mesmo é vontade de se libertar destas amarras econômicas políticos, judiciário e uma constituição q foi criada para perpétua a corrupção..

  7. Senhora Alana
    Concordo “em gênero e número” com a sua opinião. De fato, quem é que não quer se ver livre dos corruptos? Mesmo que o Juiz Moro esteja agindo parcialmente, o que é discutível, ele está prestando um grande serviço à nação ao mostrar para os brasileiros menos informados (brasileiros vira-latas como eu sou) o submundo da corrupção que abrange a classe política brasileira, sem exceções. Essa corrupção sempre existiu e não vai deixar de existir. A corrupção é intrínseca do mundo dos políticos. O exercício da política pressupõe a existência da corrupção, mesmo porque os salários percebidos nos cargos eletivos não cobrem os custos das campanhas eleitorais. O dístico DEIXA O MORO TRABALHAR é apenas uma figura de retórica, utilizada da mesma forma que o dístico DEIXA O LULA TRABALHAR, tão alardeado no início deste século. O DEIXA O MORO TRABALHAR representa a liberdade e a força que deve ser dada ao Ministério Público Federal para, dentro dos preceitos legais, “passar este país a limpo”, mostrando o tamanho da corrupção que sequestra “mentes e corações” no mundo político brasileiro. Mesmo que tenha objetivos escusos, em relação à elite conservadora que está no governo, a Operação Lava Jato deve ser considerada como o ponto de inflexão no hábito de votar do eleitor brasileiro. Eleitor que só vota pela aparência, boa conversa e marketing eleitoral evidenciado nas campanhas multimilionárias. Espero que os eleitores brasileiros votem com mais consciência política e saibam “separar o joio do trigo”. Para o Brasil subdesenvolvido – “país de merda” como se referiu o Jihad John de plantão do Estado Islâmico nas redes sociais – não interessa qual é o matiz ideológico da elite política que vai assaltar o poder na próxima eleição. O que os brasileiros desejam é viver num país justo, com liberdade de expressão, desenvolvido social e tecnologicamente, com oportunidades de emprego, livre iniciativa e com uma elite política engajada no bem estar da população.

  8. Prezado Jorge
    A sua réplica comprova um postulado: O Brasil tem tantas potencialidades, que o credenciam para torná-lo uma das grandes nações no concerto internacional, mesmo que seja governado por energúmenos. Não interessa o governo que está de plantão. O Brasil cresce…mesmo cambaleante. Talvez seja esta uma das razões do fato de que o Brasil ainda pertença ao grupo dos BRICS. É inegável que os mais recentes governos brasileiros aproveitaram a onda de prosperidade da economia mundial até 2008, quando ocorreu a primeira “marolinha” que foi desdenhada, solenemente, pelo governo de plantão. A partir de 2008, verificamos que o Brasil começou a “patinar” na macroeconomia e, por consequência, no desenvolvimento social. Mesmo assim, para continuar no poder, a elite conservadora energúmena, que ainda está no poder, mantem programas sociais que, não obstante o mérito de aumentar a circulação econômica no interior do país, tem objetivos explicitamente eleitoreiros. O aumento do PIB brasileiro observado nos últimos 10 anos foi determinado, exclusivamente, pela exportação de commodities sem valor agregado (grãos e minérios). Essas duas atividades do setor primário, sem o controle social adequado, são danosas ao meio ambiente, afetando negativamente o desenvolvimento nacional no lato senso. No caso brasileiro, a produção intensiva de grãos, sem controle de fertilizantes e agrotóxicos, por exemplo, contribui para o agravamento da crise hídrica na medida em que aumenta a contaminação das fontes naturais de água doce. A mineração, que é uma atividade intrinsecamente poluidora, contribui para degradação do meio ambiente pela produção de grande quantidade de material inerte ou rejeito, no caso dos metais, e pela possibilidade de vazamentos para o ambiente marinho, no caso do petróleo produzido na plataforma continental. Com a retração da economia mundial, o aumento desenfreado da produção dessas commodities, no afã de produzir superavit da balança comercial, traz mais malefícios do que benefícios para a sociedade brasileira. No caso da mineração, com a extração de petróleo na plataforma continental em profundidades abissais, convivemos com o risco de contaminação do ambiente marinho, com reflexos negativos na produção de pescados. A extração desenfreada de minério de ferro já produziu, no coração do Brasil, um desastre ambiental de proporções planetárias que provocou a contaminação do Vale do Rio Doce. Mas, porque esse discurso? Esse discurso é para mostrar que o Brasil, juntamente com a Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS), são países de segunda categoria, quando comparados com os países do chamado Primeiro Mundo, da época da détente, por não terem, dentre outros fatores, base tecnológica adequada para o desenvolvimento social. Esses países, sem exceção, ainda são subdesenvolvidos social e tecnologicamente. As suas economias são sensíveis às “marolinhas” do mercado internacional por ser dependente da exportação de commodities sem valor agregado. Essa dependência, por si só, não sustenta a geração de riqueza tão necessária para o desenvolvimento social. Para distribuir riqueza é necessário produzir riqueza. No mundo atual, a produção de riqueza não prescinde de base tecnológica consolidada. Todos os países do BRICS tem deficiências estruturais que impactam o desenvolvimento social. A Rússia, por exemplo, que tem base tecnológica desenvolvida para a indústria de guerra, vive na esperança de inverno rigoroso na Europa para lucrar com a exportação de gás natural (GASPROM) ou de conflito localizado para lucrar com o comércio de material bélico. Se não houver inverno rigoroso na Europa e/ou guerra no mundo, a Rússia está quebrada. Para compensar a sazonalidade da venda do gás natural, a Rússia participa, explicitamente, dos conflitos armados localizados, seja pela venda de armamentos, seja pela venda de serviços técnicos especializados nessa área. Enquanto isso, o povo russo vive em péssimas condições de desenvolvimento social. A Índia, não obstante o desenvolvimento sensível de base tecnológica, ainda convive com um sistema de castas sociais cruel. Na China, o desenvolvimento é desigual e desequilibrado, processado às custas de trabalho escravo. A África do Sul ainda convive com a lembrança do apartheid e com a ameaça constante da guerrilha tribal africana. O Brasil continua sendo o eterno “gigante adormecido … deitado em berço esplêndido”. Do jeito que está, continuará sendo o eterno paraíso de bandidos internacionais, sem perspectivas de mudança nos próximos 50 anos. Lotar o Brasil de universidades e de escolas técnicas, sem base tecnológica consolidada e ensino fundamental de qualidade, não surtirá efeito algum no desenvolvimento social brasileiro nos próximos 30 anos, a não ser se for por motivos eleitoreiros imediatos. Hitler e Fidel Castro, líderes aparentemente antagônicos, senhores de boa oratória e com altos índices de aceitação popular, cada qual no seu tempo, levaram seus países à bancarrota. Concluindo, o Brasil tem que deixar de ser BRICS. Enquanto isso: DEIXEM O MORO TRABALHAR!!!

  9. JorgeMontenegro disse:

    Prezado Roldao ,
    Sua análise goza de inverdades histórica de fácil percepção, senão vejamos:
    1 – Lula pegou o país na 13a Economia do Mundo e deixou na 6a;
    2 – Foi o presidente que mais abriu universidades e escolas tecnicas;
    3 – A Petrobras hoje, nesse turbilhão, ainda vale mais de 2x o que valia;
    4 – O PIB na gestão de Lula quase dobrou;
    5 – Ele saiu com quase 90% de aprovação.
    No que concerne a Dilma realmente foi uma decepção para mim, porém o nome dela não está nesses falcatruas.
    Deixa Moro trabalhar!!! Mas sem seletividade, sem tendência para a escolher os acordos de leniência e delações que têm partidários do seu pai fundador do PSDB de Maringá, cuja a esposa é advogada do PSDB.
    Foi por isso que ela tinha 90% de aprovação e caiu para 60%.
    Ladrão, bandido, não tem partido, o partido é o seu.

  10. Roldão Lima Junior disse:

    Prezado Sr Alessandro
    Agradeço a vossa resposta, demonstrando que os meus argumentos conseguiram atingir os objetivos que planejei. Tenho certeza de que os meus argumentos causaram, inicialmente, espanto e revolta. É uma reação natural e instintiva de quem está acostumado a ver o mundo por uma perspectiva bem estreita. Mas, num segundo momento, voce vai começar a perceber que existem pessoas no mundo que tem um olhar bem diferente da conjuntura do que o seu olhar. Voce não está só no mundo. Nem eu. Temos que conviver com as diferenças de opinião por mais diversas e estapafúrdias que sejam. Por enquanto, na minha opinião, voce é um inocente útil que foi sequestrado pelas aparências conjunturais. Nem tudo que se vê e se sente corresponde à realidade. Não seja um radical fundamentalista. O fundamentalismo cega as pessoas. É preciso ter um choque conceitual para que seja iniciado um processo de autosubversão para trazer para a realidade do mundo. Sem perceber, voce já está iniciando o seu processo de autosubversão. É assim mesmo. A primeira reação é a de indignação, achando que o outro está redondamente equivocado. Esse comportamento é típico dos fundamentalistas. Eu já fui assim. Hoje, eu tenho uma visão mais realista e crítica do mundo. Para direcionar esse processo de autosubversão, sugiro que voce “tire o escorpião do bolso” e compre o livro Autosubversão, de Albert Hirschman, como sugeri ao João. É um livro de Sociologia. É muito enfadonho, mas tenha paciência e faça uma leitura atenta, crítica e inteligente. Deixe de ser fundamentalista “de carteirinha”. Veja o mundo com outro olhar. Enquanto isso, DEIXA O MORO TRABALHAR!!!

  11. HELIO FERRAZ FALCOCHIO disse:

    PS. S.M.J. Nós nos encontramos quando o nobre colega visitou com a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército – ECEME em 1999 as nossas unidades de fabricação de armas para o Oriente Médio, Europa, Ásia e afins.
    TFA

  12. HELIO FERRAZ FALCOCHIO disse:

    Caro amigo Roldão,
    Podemos ser ou não colaboradores contra a corrupção. Não falo teoricamente. Já tenho tido muitas decepções e alegrias, mas o fato é que o preceito constitucional tem que ser respeitado. Não havendo respeito a Constituição de forma plena, a justiça virá a ser verdadeira injustiça.
    Lembra a inflação Alemã?
    Foi uma das desculpas iniciais para a derrubada do governo.
    Isso foi uma das coisas que deu início da perseguição aos Judeus, Testemunhas de Jeová, Maçons e alguns Illuminatis e muitos outros perseguidos (Que a mídia em geral omitiu).
    Há homens e mulheres justos e injustos em todos os partidos.
    O direito e as suas leis se aplicam a todos. (Apesar de nas américas Central e do Sul não ser bem assim.).
    Em relação aos BRICS é um caso à parte.
    O Juízes brasileiros tem uma grande vantagem em relação aos Juízes americanos, pois nossos Juízes são literalmente especialistas. Conheço o Judiciário, de dentro para fora, e sei que nosso país, só esta de “pé” em época de paz, graças ao JUDICIÁRIO e ao o MP; não que um morra de amores pelo outro…, mas isso é até bom. Mas o Executivo e o Legislativo, desde que o Brasil é Republica; as vezes e não poucas vezes, fazem uma certa lambança (Pois são seus líderes e parlamentares são pessoas comuns e do povo e o povo também erra). Mas como o Brasil é muito novo, tem muito tempo para aprender. O iluminismo, também ainda é muito novo em relação a experiência da China. Mas a China pela visão da cultura ocidental é muito cruel com seus criminosos e ideologistas opositores. Cultura, que querem hoje, muitos brasileiros, impor sobre a esquerda (desde a extrema até os “light’s”; ou seja (com todas as letras), do PSTU ao PT e do PMDB ao PSDB e do PTB da CLT a da REDE ao PV, assim nasce o verdadeiro partido de extrema direita o “99” do Partido Militar Brasileiro, com visão na segurança pública e bases na hierarquia e disciplina.
    No passado, muitos dos empresários, quiseram ‘MATAR NO NINHO A CLT’; ou seja, os partidos que lhe dão sustentação (TODOS OS ANTIGOS). Os sindicatos americanos, foram cooptados pela CIA no passado, (pois os americanos viam os sindicatos como “erva daninhas” a ser plantada no meio de nosso trigo, assim joio e trigo cresceriam), para trazerem para as américas Central e do Sul um forte sindicalismo e o consequente aumento dos preços dos produtos, com o objetivo de garantir maior competitividade aos produtos americanos e europeus.
    Voltando para a América do Sul:
    Lembra na Argentina quando a Presidente Cristina demitiu o Presidente do Banco Central Argentino, sendo que não tinha poder para demiti-lo? A justiça Argentina mais uma vez teve que “governar” o país, aliás isso ocorreu lá com frequência demasiada, dada a falta de consultoria (COMPETENTE) jurídica do Estado. Hoje no Brasil ocorre ao contrário, a Presidente Dilma é impedida pela justiça, de nomear quem ela quer na Casa Civil. Erro ou acerto? O mesmo Judiciário sentenciara!
    Em tempo de paz, o Brasil é apaziguado pelo judiciário, que traz paz social.
    Em tempo de Estado de Sitio, de Defesa ou de Guerra declarada (Artigo 142 da CF/88) essa missão apaziguadora e de proteção é das FFAA.
    Na época de paz, reina o império da Lei, mas no outro caso, o império das Armas.
    Me parece que HOJE muitos querem a segunda opção. Mas eu por exemplo quero a democracia. Mas em sentido contrário OUÇO: “DEIXA O MORO TRABALHAR!!!!” Quando na verdade queriam dizer: “DEIXA O EXÉRCITO TRABALHAR!!!!” Isso implícito quando você sitou os “27 anos”.
    (Em material de repressão aos delitos, os nazistas, também com amplo apoio da opinião pública, defendiam o lema “o punho desce com força”[2] e a relativização/desconsideração de direitos e garantias individuais em nome dos superiores “interesses do povo”) Ensinou com maestria Rubens Casara.
    Em relação a Rússia, respeitemos a cultura deles. Sempre que conversei e recebi para treinamento aqui no Brasil os militares russos e antes soviéticos; sempre foram amistosos e respeitosos, assim como os dos Oriente Médio e da Ásia. (Para quem não sabe desde 1900/2016), tivemos fortes relações comerciais militares com todos). Apesar de isso não ser divulgado oficialmente.
    Quando servi missão entre americanos, recebi um manual de cultura sobre o Brasil e lá os americanos falavam em detalhes sobre o nosso carnaval, manga com leite, Saci Pererê, “jeitinho brasileiro” e tudo mais, com uma orientação/advertência: “Não critique o povo, respeite-os!!!” Na verdade, haviam manuais em média de umas 200 páginas, com a cultura detalhada de cada povo e país do mundo, isso facilitava muito a integração e ajudava a “quebrar o gelo”.
    Quando treinávamos aqueles militares no Brasil eles eram educados e respeitosos.
    Respeito o MM. Juiz Federal Sergio Fernandes Moro, ele merece ser tratado como Excelência. E não pejorativamente, mesmo que o chamem sobrenome, “data máxima vênia”, se ele errar, cabe recurso. É melhor para o Réu ser julgado em primeira instância (3 a 7 anos ou mais), depois em segunda instância (5 anos ou mais), depois em terceira instância (10 anos ou mais) e depois arguir inconstitucionalidade no STF (5 anos ou mais) e já ter-se-ão passado em média 28 anos. Aí vem um inteligente e pede para tirar o cargo do Lula para ele ser julgado pelo MM. Juiz em Curitiba. Ora, como se os Ministros do STF fossem favorecer Lula. Ser julgado direto pelo STF significa para qualquer réu ir mais cedo para a cadeia se for culpado (mesmo com os recursos). Significa dizer que na verdade, que quem pediu para o Lula ser julgado em primeira instância, é amigo dele e não inimigo.
    Deixando de “tertúlias flácidas para adormecer bovino”, foi um prazer mais uma vez dar minha humilde opinião de proletário e esquerdista, neste site, que democraticamente me permitiu a manifestação.

  13. alessandro disse:

    Sr. Lima….sua visão é mesmo parcial, você confunde e mistura tudo; e seu complexo de vira-latas: não compartilho dele. Quanto mais leio seus argumentos mais estou convencido de que tenho que ajudar a nossa grande massa a se livrar de pessoas que têm ideias como as suas. DEIXA O BRASIL EM PAZ!

  14. Roldão Lima Junior disse:

    Prezado João. Gostei do seu comentário. Tenho a impressão de que voce leu os meus comentários sobre o tema BRICS e, num primeiro momento, ficou espantado…no segundo momento ficou indignado. Esse é o processo normal da auto subversão. A próxima etapa é a da autocrítica. Feita a autocrítica, voce vai ficar indignado consigo mesmo. E assim por diante, até mudar de opinião sobre como voce encara uma determinada conjuntura social. Essa técnica é demonstrada no livro Auto Subversão, de Albert Hirschman, que recomendo a leitura. Tire o escorpião do bolso. Compre o livro. Dedique uma hora da sua agenda pessoal diária para ler o livro. Mas faça uma leitura inteligente. Eu li o livro, com inteligência. Fiz a minha autocrítica e mudei o meu entendimento sobre a minha intervenção no grupo social ao qual pertenço. Sobre o artigo do Rubens Casara, eu reafirmo que está muito bem escrito. O articulista explica, na Alemanha entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, a tomada do poder por uma elite fundamentalista mal intencionada, com apoio da propaganda. Nas entrelinhas, explica, também, que, desgraçadamente, esse mesmo processo político vem ocorrendo no Brasil há mais de 26 anos, sob o risco de agravamento e consolidação, já que não temos nenhum motivo de invadir militarmente qualquer um dos nossos vizinhos. João, enquanto isso: DEIXA O MORO TRABALHAR!!!!
    Em tempo: Foi o Partido dos Trabalhadores Alemão que levou Adolf Hitler ao poder. Hitler era analfabeto de pai e mãe. Não é uma incrível coincidência?

  15. Simone disse:

    Não vou me dar ao trabalho de pesquisar por você, querido. Apenas vá no Google e busque intervenções dos EUA, vai aparecer muito coisa (basicamente todo ano há uma intervenção em outros Estados, com Desculpas diferentes, formas diferentes… procure também indústria bélica dos EUA e sua dependência). Como ao que parece você vive no “achismo”, deduzo que não sabes nem mesmo buscar informações, lá vai a dica: então pesquise intervenções dos EUA na América Latina.
    Não é porque você não possui conhecimento (principalmente histórico) de um assunto que ele não exista. O mundo é bem mais amplo do que você, querido. Ainda estas no darwinismo social? Procure se atualizar, essa teoria não é mais (nem nunca foi) aplicável.
    Não sabemos tudo, creio que mesmo no período de uma vida humana inteira dedicada ao estudo, leitura, pesquisa, não chegamos a apreender ou vislumbrar 1% do conhecimento disponível. Se você não sabe estão cale-se e procure saber (ou ignore e siga em frente), mas não venhas com achismo, estamos em pleno século XXI, as informações estão mais disponíveis que nunca, não tem desculpa.
    Inacreditável que tenhas lido (duvido muito) este texto e só tenha isso a falar, faça uma releitura, como já dito, há expressões que remetem a conceitos complexos e já estudados, o tema requer algum entendimento mínimo. E sem ter noção histórica… aí não dá mesmo.

  16. joao disse:

    roldao lima junior é papagaio-sapo pago pelos golpistas para cornetar, basta deixarem-no falando sozinho, ele some

  17. Prezado Hélio. É impressionante o artigo do jurista Rubens Casara. Muito bem escrito. Para a atual realidade política brasileira, basta fazer uma leitura do mesmo artigo, substituindo 1938 por 2009, nazismo por petismo, nazista por petista, Alemanha por Brasil, Hitler e Adolf Hitler por Lula. Nossa!!! Temos que apoiar o Juiz Sérgio Moro. DEIXA O MORO TRABALHAR.

  18. New disse:

    É a boa e velha teoria conspiratória desde os Iluminati…. Esse conceito de expansão e dominação de um povo contras outro é um só mais viés da Teoria da Evolução. isso vem de muito longe…. No Estado natural, é clássico e conhecido o caso dos ataques mortais de populações de chimpanzé a seus bandos vizinhos, “aparentemente”, sem motivo. E nos homo sapiens sapiens não tão sapiens assim, seria diferente, por quê?. Me afigura apenas a boa e velha luta pela sobrevivência, Nua e crua! A gente estranha isso porque aqui no nosso mundinho, na Sudameris, vivemos longe de tudo isso.

  19. HELIO FERRAZ FALCOCHIO disse:

    A história demonstra que um tribunal que julga de acordo com a opinião pública não deve ser comemorado
    tribunais justiça opinião pública perigo
    Nazismo alemão (reprodução)
    Rubens Casara*, Justificando
    “Que teríamos feito sem os juristas alemães?” – Adolf Hitler
    Em 1938, o líder nazista Adolf Hitler foi escolhido o “homem do ano” da revista Time. Antes disso, Hitler figurou na capa de diversas revistas europeias e norte-americanas, no mais das vezes com matérias elogiosas acerca de sua luta contra a corrupção e o comunismo que “ameaçavam os valores ocidentais”. Seus discursos contra a degeneração da política (e do povo) faziam com que as opiniões e ações dos nazistas contassem com amplo apoio da opinião pública, não só na Alemanha. O apelo transformador/moralizador da política e as reformas da economia (adequada aos detentores do poder econômico) fizeram emergir rapidamente um consenso social em favor de Hitler e de suas políticas.
    Diversos estudos apontam que a população alemã (mas, vale insistir, não só a população alemã) apoiava Hitler e demonizava seus opositores, inebriada por matérias jornalísticas e propaganda, conquistada através de imagens e da manipulação de significantes de forte apelo popular (tais como “inimigo”, “corrupção”, “valores tradicionais”, etc.).[1] Em material de repressão aos delitos, os nazistas, também com amplo apoio da opinião pública, defendiam o lema “o punho desce com força”[2] e a relativização/desconsideração de direitos e garantias individuais em nome dos superiores “interesses do povo”.
    A “justiça penal nazista” estabeleceu-se às custas dos direitos e garantias individuais, estas percebidas como obstáculos à eficiência do Estado e ao projeto de purificação das relações sociais e do corpo político empreendida pelo grupo político de Hitler. Aliás, a defesa da “lei e da ordem”, “da disciplina e da moral” eram elementos retóricos presentes em diversos discursos e passaram a integrar a mitologia nazista. Com o apoio da maioria dos meios de comunicação, que apoiavam o afastamento de limites legais ao exercício do poder penal, propagandeando uma justiça penal mais célere e efetiva, alimentou-se a imagem populista de Hitler como a de um herói contra o crime e a corrupção, o que levou ao aumento do apoio popular a suas propostas.
    Hitler, aproveitando-se de seu prestigio, também cogitava alterações legislativas em matéria penal, sempre a insistir na “fraqueza” dos dispositivos legais que impediriam o combate ao crime. Se o legislativo aplaudia e encampava as propostas de Hitler, o Judiciário também não representou um obstáculo ao projeto nazista. Muito pelo contrário.
    Juízes, alguns por convicção (adeptos de uma visão de mundo autoritária), outros acovardados, mudaram posicionamentos jurisprudenciais sedimentados para atender ao Führer (vale lembrar que na mitologia alemã o Führer era a corporificação dos interesses do povo alemão). Vale lembrar, por exemplo, que para Carl Schmitt, importante teórico ligado ao projeto nazista, o “povo” representava a esfera apolítica, uma das três que compõem a unidade política, junto à esfera estática (Estado) e à esfera dinâmica (Movimento/Partido Nazista), esta a responsável por dirigir as demais e produzir homogeneidade entre governantes e governados, isso através do Führer (aqui está a base do chamado “decisionismo institucionalista”, exercido sem amarras por Hitler, mas também pelos juízes nazistas).
    O medo de juízes de desagradar a “opinião pública” e cair em desgraça – acusados de serem coniventes com a criminalidade e a corrupção – ou de se tornar vítima direta da polícia política nazista (não faltam notícias de gravações clandestinas promovidas contra figuras do próprio governo e do Poder Judiciário) é um fator que não pode ser desprezado ao se analisar as violações aos direitos e garantias individuais homologadas pelos tribunais nazistas. Novamente com o apoio dos meios de comunicação, e sua enorme capacidade de criar fatos, transformas insinuações em certezas e distorcer o real, foi fácil taxar de inimigo todo e qualquer opositor do regime.
    Ao contrário do que muitos ainda pensam (e seria mais cômodo imaginar), o projeto nazista não se impôs a partir do recurso ao terror e da coação de parcela do povo alemão, Hitler e seus aliados construíram um consenso de que o terror e a coação de alguns eram úteis à maioria do povo alemão (mais uma vez, inegável o papel da mídia e da propaganda oficial na manipulação de traumas, fobias e preconceitos da população). Não por acaso, sempre que para o crescimento do Estado Penal Nazista era necessário afastar limites legais ou jurisprudenciais ao exercício do poder penal, “juristas” recorriam ao discurso de que era necessário ouvir o povo, ouvir sua voz através de seus ventríloquos, em especial do Führer, o elo entre o povo e o Estado, o símbolo da luta contra o crime e a corrupção.
    Também não faltaram “juristas” de ocasião para apresentar teses de justificação do arbítrio (em todo momento de crescimento do pensamento autoritário aparecem “juristas” para relativizar os direitos e garantias fundamentais). Passou-se, em nome da defesa do “coletivo”, do interesse da “nação”, da “defesa da sociedade”, a afastar os direitos e garantias individuais, em uma espécie de ponderação entre interesses de densidades distintas, na qual direitos concretos sempre acabavam sacrificados em nome de abstrações. Com argumentos utilitaristas (no mais das vezes, pueris, como por exemplo o discurso do “fim da impunidade” em locais em que, na realidade, há encarceramento em massa da população) construía-se a crença na necessidade do sacrifício de direitos.
    A Alemanha nazista (como a Itália do fascismo clássico) apresentava-se como um Estado de Direito, um estado autorizado a agir por normas jurídicas. Como é fácil perceber, a existência de leis nunca impediu o terror. O Estado Democrático de Direito, pensado como um modelo à superação do Estado de Direito, surge com a finalidade precípua de impor limites ao exercício do Poder, impedir violações a direitos como aquelas produzidas no Estado nazista. Aliás, a principal característica do Estado Democrático de Direito é justamente a existência de limites rígidos ao exercício do poder (princípio da legalidade estrita). Limites que devem ser respeitados por todos, imposições legais bem delimitadas que vedam o decisionismo (no Estado Democrático de Direito existem decisões que devem ser tomadas e, sobretudo, decisões que não podem ser tomadas).
    O principal limite ao exercício do poder é formado pelos direitos e garantias fundamentais, verdadeiros trunfos contra a opressão (mesmo que essa opressão parta de maiorias de ocasião, da chamada “opinião pública”). Sempre que um direito ou garantia fundamental é violado (ou, como se diz a partir da ideologia neoliberal, “flexibilizado”) afasta-se do marco do Estado Democrático de Direito. Nada, ao menos nas democracias, legitima a “flexibilização” de uma garantia constitucional, como, por exemplo, a presunção de inocência (tão atacada em tempos de populismo penal, no qual a ausência de reflexão – o “vazio do pensamento” a que se referia H. Arendt – marca a produção de atos legislativos e judiciais, nos quais tanto a doutrina adequada à Constituição da República quanto os dados produzidos em pesquisas sérias na área penal são desconsiderados em nome da “opinião pública”).
    Na Alemanha nazista, o führer do caso penal (o “guia” do processo penal, sempre, um inquisidor) podia afastar qualquer direito ou garantia fundamental ao argumento de que essa era a “vontade do povo”, de que era necessário na “guerra contra a impunidade” ou na “luta do povo contra a corrupção” (mesmo que para isso fosse necessário corromper o sistema de direitos e garantias) ou, ainda, através de qualquer outro argumento capaz de seduzir a população e agradar aos detentores do poder político e/ou econômico (vale lembrar aqui da ideia de “malignidade do bem”: a busca do “bem” sempre serviu à prática do mal, inclusive o mal radical. O mal nunca é apresentado como “algo mal”. Basta pensar, por exemplo, nas prisões brasileiras que violam tanto a legislação interna quanto os tratados e convenções internacionais ou na “busca da verdade” que, ao longo da história foi o argumento a justificar a tortura, delações ilegítimas e tantas outras violações). E no Brasil?
    * * *
    Por fim, mais uma indagação: em que medida, as tentativas de proibir a publicação da edição crítica do livro “Minha luta”, de Adolf Hitler, ligam-se à vergonha dos atores jurídicos de identificar naquela obra suas próprias opiniões? Da mesma forma que ilegalidades não devem ser combatidas com ilegalidades, o fascismo/nazismo não deve ser combatido com práticas nazistas/fascistas, como a proibição de livros (aqui não entra em discussão a questão ética de buscar o lucro a partir de uma obra nazista). Importante conhecer a história, para que tanto sofrimento não se repita.
    *Rubens Casara é Doutor em Direito, Mestre em Ciências Penais, Juiz de Direito do TJ/RJ, Coordenador de Processo Penal da EMERJ e escreve a Coluna ContraCorrentes

  20. Alana Beletti disse:

    Só não enxerga quem não quer ver! Todos queremos ver corruptos fora da vida pública, o que é inadmissível é um juiz parcial agindo como um ditador, a serviço de uma emissora podre como essa rede esgoto e a favor de um partido inconformado com a derrota de 2014.

  21. Gerald Motta disse:

    Esse é o típico “ANALFABETO POLÍTICO” – difícil de combater, pois necessitaria muitos anos de uma educação diferenciada da que foi submetido. Enquanto lutamos para sair da escravidão, ele sugere deixar correr o jogo do Excepcionalistão tão bem narrado nesse texto. Só não entende quem é muito ignorante……..

  22. Caro Arthur. Muitos brasileiros que ainda não estão na condição de viralatas como estou, acham que apoiar “países que não pertençam ao eixo de influência dos EUA” é “cool”…chique…descolado. No entanto, esquecem que o Brasil dos viralatas tem a mesma idade política dos EUA. Porque os EUA são, hoje, potência hegemônica e o Brasil ainda é subdesenvolvido? Existe alguma razão para isso? No meu discurso de brasileiro viralata, no qual contei a minha experiência no interior da Rússia há dois anos atrás, insinuei nas entrelinhas que um pais classificado no grupo dos BRICS reúne as condições, a saber: É subdesenvolvido. Tem uma população que mal conhece o idioma pátrio. Tem base monetária expandida em relação ao DOLAR. Tem baixas condições sanitárias. A economia depende da exportação de commodities. Alguns tem até grupo de ditadores no poder. Quanto ao DEIXA O MORO TRABALHAR, faço uma alusão quixotesca ao lema DEIXA O LULA TRABALHAR. Quando deixamos o Lula trabalhar, o Brasil foi à bancarrota e perdeu credibilidade internacional. Agora, deixando o MORO (juizinho federal de 1ª instância – um verme na concepção da elite conservadora de esquerda) trabalhar vamos descobrir as tramoias que embalam o poder político nas altas esferas do governo brasileiro. O MORO está abrindo os nossos olhos!!! Se é legal ou ilegal, se é ético ou não, não interessa. O que interessa é o mérito. Isso é muito saudável para o Brasil dos brasileiros viralatas. Só espero que ele não tenha o mesmo fim do Celso Daniel. Bulir com a elite conservadora de esquerda brasileira é muito perigoso. Que Deus o proteja!

  23. Arthur disse:

    É incrível como alguns indivíduos tentam desqualificar qualquer país que não pertença ao eixo de influência dos EUA. Devem ter comido muito hamburguer e bebido muita coca-cola, por isso seus cérebros já fracos ficaram ainda mais abalados. Quanto ao juiz de 1ª instância Moro, antes de trabalhar é preciso que ele como juiz respeito os preceitos constitucionais e tente manter uma atitude imparcial como deveria ser sua obrigação.Que ele contribua sem querer se elevar a estrela, nas investigações contra a corrupção com a mesma presteza e veemência em direção a todos os setores e partidos. Ai sim, poderá ajudar a prestação de um bom serviço. Só que não parece ser esse o caso.

  24. Gerson Silva M disse:

    Realmente é hilário este ‘desespero’ contra as investigações.
    Acreditar que tudo isso é fruto de conspiração Norte Americana contra o Brasil / BRICS é o mesmo que acreditar em contos de fadas!
    O tal ‘golpe’ que vocês esquerdas tanto menosprezam foi dado pelo próprio governo (PT/PMDB) quando VOCES, repito, vocês os elegeram com seus lindos votos!
    O maior desespero agora, pelo que consta, não é a saída do PT do governo, tão pouco a oposição (direita hipócrita) em tentar conquistar o ‘trono’, mas sim do PMDB chegar ao ‘reinado’. Sim, e isso vai acontecer. Lamentavelmente, mas vai!
    Agora, destrinchar discurso de Teorias Conspiratórias e segmentar o Brasil, como vocês esquerdas fazem, isso é ridículo. Essa patética tipificação de Esquerda e Direita tem que acabar. Isso está pior que campeonato de futebol.
    Desmerecer as investigações em torno da Lava Jato chega a ser hipocrisia total. Ainda que ruim, a justiça neste pais tem mostrado o único recurso ou saída que nós brasileiros temos a nosso favor.
    Claro que não podemos também idolatrar um juiz e seu bando, isso já seria um fanatismo tosco, assim como os tais que idolatram Marx etc.
    Ah, mas os vazamentos só favoreceram a oposição! Claro, tudo que diz respeito a roubalheira esta intricadamente ligado ao PT e ao governo! E convenhamos, é só estar ligado pra saber que os últimos vazamentos aconteceram a mando do próprio governo, pra é claro, deslegitimar a PF.
    é aquela famosa frase: esquerda de esquerda e direita sempre de direita. São extremamente opostos e estes nunca se atraem, pelos menos ideologicamente não, mas no Brasil sim, vide o tal golpe que estamos levando de nos mesmos.

  25. Marcos disse:

    Muito bom o texto. Serenidade e coerência.

  26. siri disse:

    Esta tradução não é tendenciosa. Excelente matéria do Pepe.
    Basta ler com cuidado. E muitos brasileiros podem não entendem vários termos usados. Mas basta um pouco de vontade e uma pesquisa básica na internet para entender.

  27. Dasha Nataliz disse:

    Eu sou Russa e o Sr Lima é um mentiroso!!!

  28. Não comento artigo traduzido. Na maioria das vezes, as traduções são tendenciosas. Mas o tema é instigante. Há dois anos atrás, visitei a Rússia durante 20 dias. A minha visita ficou restrita ao eixo São Petersburgo – Moscou. Perambulei pelas cidades do interior situadas nesse trecho. A não ser em alguns poucos hotéis em São Petersburgo e em Moscou, não consegui dialogar com as pessoas comuns em ingles ou em qualquer outro idioma que não fosse o idioma russo. Obviamente, sendo um brasileiro vira-lata, que não entende patavina do idioma russo, fiquei mais perdido do que cego em tiroteio. Para comer e beber, apontava para o alimento e a bebida que estava no mostruário. Pagava em rublo, cotado a 1/50 (1 DOLAR = 50 rublos). Até para urinar, eu usava a primeira árvore que estava na minha frente. Pasmem os senhores, isso é costume no interior da Rússia. Moral da história: Se voce pretende conhecer um pais do BRICS que não seja o Brasil, faça uma visita à Rússia. Lá, voce terá a exata noção do que é um país do BRICS. Vá lá e confira. Enquanto isso: DEIXA O MORO TRABALHAR!!!

  29. É exatamente isso. A guerra na Síria começou com uma passeata de 200 pessoas contra a corrupção. Que Deus nos acuda!

  30. Pepe disse:

    Escobar,
    obrigado, por tao objetiva descricao da ”verdade oculta”.
    Voce enaltece a profissao dos jornalistas ” profissionais e honestos” .
    Tao necessarios por aqui.

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