Ciro Gomes, híbrido político

Uma conjuntura política rara permite-lhe acenar simultaneamente à esquerda e às oligarquias. Um mergulho na história do Ceará ajuda a compreender o fenômeno

170815-Cirão

.

“Eu Sou a Alternativa”! A afirmação poderia ser o título de um melodrama cinematográfico, ou de um destes inumeráveis livros-placebos. Trata-se, porém, de frase de efeito, que poderá ser slogan de campanha, proferida por Ciro Gomes em uma das suas últimas e constantes aparições públicas. O mais eminente político do clã Ferreira Gomes, após a condenação de Lula em primeira instância, inicia uma nova etapa de sua estratégia para a disputa da presidência da república.

Independentemente do que poderá ocorrer nesses tempos políticos frenéticos, é certo que está nova etapa descortinará um aspecto de Ciro que, para muitos, especialmente os não cearenses, parecia não existir, ou quando muito seria apenas uma mistificação falaciosa de seus opositores. Um Ciro que pela gênese da sua vida política institucional ainda não se desfez completamente dos resquícios de personalismo herdados de um difuso coronelismo arraigado na estrutura social do Ceará. Não se quer com isso afirmar que ele seja um coronel no sentido clássico do termo, mas que sua ação política ao longo do tempo guarda um certo hibridismo: um misto de velhas práticas combinado com um discurso que toma para si a tentativa de pensar um novo projeto de país. Ao contrário do que pode parecer, quando se ouve uma de suas falas públicas – sinceras na crítica das perversidades do ideário neoliberal – não se pode identificar uma atuação política pura em relação ao seu discurso. Isto é, no compasso entre o discurso e a prática há um átimo de tempo no qual é possível ver este hibridismo, que no último ano esteve mais sufocado à medida que Ciro se dirigiu para um público mais à esquerda, particularmente na sua denúncia do golpe.

Ciro Gomes é um híbrido político gestado em condições histórico-sociais bem particulares – ou seja, nas condições específicas da política do Ceará em sua longa duração. Ela se diferencia de outros coronelismos do Nordeste que não alcançaram a fase híbrida como, por exemplo, o clã Sarney no Maranhão e os Magalhães na Bahia.

Estas duas oligarquias não foram capazes, apesar das condições materiais, de criar herdeiros políticos que pudessem se sobressair mais por suas qualidades intelectuais, ou destreza discursiva, do que pelo sobrenome. É quase impossível que um dia possamos ver Roseana Sarney ou o neto de ACM debater, em alto nível, política com cientistas políticos; ministrar palestras sobre a saúde fiscal dos entes federativos; ou mesmo rebater renomados economistas em universidades estrangeiras. As legitimidades destes clãs políticos fundamentam-se, em grande parte, apenas no sobrenome que carregam. Tal não ocorreu no curso histórico político do Ceará. Deste curso vem a especificidade do híbrido Ciro Gomes. É preciso ter claro tal aspecto, pois em política, nunca se é apenas aquilo que se auto afirma no discurso. É preciso retroceder no tempo, e entender a constituição política do estado do Ceará para se entender a gênese do hibridismo.

Ora, no Ceará, o encontro entre as oligarquias que exerciam seu poder com base no mando do interior do Estado e os setores urbanos da capital nunca foi dos mais brandos – e dele resultou a marca constitutiva da política estadual. Em 1912, a oligarquia Nogueira Accioly foi deposta pelos setores médios e pela burguesia da capital, que se modernizava e via a si mesma como mais preparada para gerir o aparelho estatal. Nesse sentido, Fortaleza, por meio de suas elites, passou a se identificar como a cidade insurgente que não se submetia aos desmandos políticos de um interior atrasado e oligárquico. Esta burguesia fortalezense buscava não apenas a hegemonia política, mas também a hegemonia da narrativa histórica e do aparato simbólico.

Depois da queda dos Accioly e a retomada do poder pelos coronéis unidos em torno da figura do Padre Cícero, os dois setores – burguesia da capital e forças políticas do interior – nunca deixaram de disputar o poder, porém sem conflitos armados e com pactos temporários de benefícios recíprocos. Foi assim, por exemplo, durante a ditadura: os coronéis militares que governaram o Estado, em parte, pertenciam a tradicionais famílias do interior.

É no meio destes pactos que surge o pai daquele que apadrinhou politicamente Ciro Gomes – apadrinhamento para que ele pudesse ter maior alcance na política estadual, isto é, ganhar nome na capital Fortaleza. Ciro é filho e sobrinho de político, algo que não é demérito na sua história pública, porém é um dos signos mais expressivos de como o poder político no Ceará é feito por poucos. Seu padrinho foi o atual senador Tasso Jereissati, filho do já falecido político e homem de negócios Carlos Jereissati. A família Jereissati é a melhor representante da burguesia da capital e de seu pacto de não enfretamento com as grandes famílias do interior. Este acordo tácito é tão potente na história política do Estado, que se fez sentir na época da redemocratização.

É neste período que o jovem Ciro Gomes, vindo da família que politicamente até hoje comanda os rumos de Sobral (a segunda maior cidade do interior do Estado), é “ungindo” por Jereissati. Ciro chega a governar o Estado, precedido por Tasso Jereissati e após ser prefeito de Fortaleza — portanto deslocando sua imagem de simples membro de uma família politicamente mandatária do interior. Porém, esse deslocamento é apenas aparente. No acordo entre Jereissati e Ferreira Gomes renovou-se o vínculo entre uma família política de grande peso no interior do Estado e a burguesia da capital. Portanto um modo de fazer política que se assenta em velhas práticas, mas que precisa renovar suas estruturas para seguir ativo. É deste aspecto que nasce o caráter híbrido de Ciro.

Ademais, é preciso compreender o coronelismo não apenas como uma prática política. O coronelismo se alimenta do personalismo, e sem ele não perduraria, pois é o caráter individual que reforça a política do mando e do compadrio, enfraquecendo o caráter institucional. Ao fim, as relações de classe e as instituições são escamoteadas como elementos constituintes da vida política.

O personalismo é um dos traços mais duradouros que o coronelismo institucional deixou na vida política do Ceará. Este caráter personalista vem à tona em discursos de Ciro Gomes nos quais a questão econômica não é o assunto principal. Por exemplo: quando em entrevista diz que receberia “na bala” uma ordem judicial arbitrária. Não se tratava apenas de resistência ao injusto — mas de confirmar a aderência ao seu discurso da figura do cabra macho, valente, que debate economia e direito constitucional, mas também fala grosso. Por mais de uma vez, Ciro disse ser preciso operar na presidência da República com “rigor” e com “pulso”, como no caso de debelar, segundo ele, “a parte quadrilha do PMDB”, enaltecendo assim as “virtudes” privadas do ocupante do posto em detrimento do caráter institucional do cargo.

Nessa visão, o bem público dependerá de quão “másculo” for aquele que estiver no posto eletivo, e Ciro já dá mostras de querer afirmar tal aspecto, algumas vezes confundindo altivez com rispidez. A manutenção de um cenário cada vez mais polarizado, que na sua visão se tornará maior caso Lula se candidate de novo, fortalecerá este tipo de postura personalista, na qual o caráter individual tende a se sobrepor, escamoteando, por exemplo, as questões de classe.

Este caráter personalista parece ser a ordem do dia, pois o mesmo pode-se depreender de figuras como Bolsonaro e Dória. Em um, a qualidade pessoal é ser “gestor”; no outro, segundo seus seguidores, tratar-se-ia de um mito — portanto, alguém com qualidades individuais acima do comum. Nestes dois casos há a negação da política por meios distintos: na submissão do político a uma pretensa gestão racional-eficaz, por um lado; por outro, na substituição dos meios institucionais pela força. A isto, soma-se a dissimulação no caso do prefeito que se desfaz dos bens que deveria gerir; no deputado federal, o protofascismo centrado no culto de uma personalidade medíocre disfarçada como competente. Nos dois embustes políticos, o personalismo é maior, pois nem mesmo aparece qualquer menção a uma política de pacto ou conciliação.

No caso de Ciro, na frase “eu sou a alternativa”, aparece o termo chave do seu caráter personalista. Ele diz ser necessário “criar um novo pacto entre quem trabalha e quem produz no Brasil”. Nesta afirmação, repetida com maior frequência nos últimos meses, está a senha de como seria um futuro governo do presidente Ciro Gomes. À primeira vista, nada de novo. Estabelecer pacto entre quem trabalha e quem produz foi o que fez o PT – ou seja, uma política de conciliação de classes. A novidade está naquele que sela o pacto, isto é, naquele que celebra o acordo entre as partes contratantes, neste caso, entre as classes sociais distintas.

O pacto celebrado por Ciro, segundo se depreende de suas afirmações, teria maior razoabilidade e segurança que o anterior, pois dotado de um discurso inteligível sobre os rumos econômicos; e, tendo por árbitro do pacto alguém que se posiciona fora da disputa de classes. Dizendo-se não pertencente a nenhuma das classes – nem “produtora”, nem trabalhadora – pretende mostrar-se como parte neutra. Diferente da conciliação anterior, no qual o fiador do pacto pertencia indiscutivelmente à classe trabalhadora.

Ora, mas tentar posicionar-se fora das classes para arbitrar um novo pacto é uma dissimulação. Não há neutralidade possível na pactuação, só há pacto porque há interesse distintos – portanto, ou se está de um lado ou de outro. Ademais, quanto mais fora da disputa de classe mostrar-se o fiador do novo pacto, isto é, dizendo-se nem de direita, nem de esquerda, mais obscuro será para nós de que lado o fiador pesará sua mão: em favor dos que acumulam grandes perdas, ou com aqueles que acumulam benefícios a qualquer custo?

Nesse sentido, há de se perguntar: a opção pelo híbrido poderá ser viável, ou será apenas mais um desvio momentâneo para não enfrentarmos as mazelas dos nossos esvaziamentos institucionais, depositando nossas expectativas em outros personalismos? Se Ciro pretende ser o fiador de um novo pacto, primeiro precisa dar mostras mais claras de que não será um pactuador tendencioso. Inclusive por sabermos, a partir do pacto que marca sua gênese política, que neutro ele não é.

Leia Também:

28 comentários para "Ciro Gomes, híbrido político"

  1. Ronaldo da Silva Thomé Júnior disse:

    Ao que parece, com certa distância do tempo, é possível inferir que Ciro com certeza seguiu os passos de Lula. Se seria um bom presidente ou não, não se pode saber agora. Mas certamente, seria uma alternativa melhor que o governo que temos. Dito isto, a retórica de Ciro em nada me agrada. Mas…

  2. Renan Costa disse:

    Henrique,
    Eu estava começando a escrever um comentário, quando parei para ler o seu. Suas colocações são perfeitas. O autor, apesar de escrever bem e mostrar ter conhecimento na área, acaba se confundindo quando faz algumas afirmações escondidas num texto esteticamente bonito e bem montado.

  3. econopratica disse:

    Excelente análise. Porém, na atual circunstância e devido ao desgaste político do PT, representado por Lula, eu acho que o Ciro Gomes é o candidato mais preparado no momento. Além disso, Ciro Gomes não está envolvido em nenhum escândalo de corrupção (pelo menos até o momento) e tem uma equipe experiente que trabalha com ele desde o início de carreira. Eu creio que o governo Lula foi fundamental para fazer essa transição entre a era Fernandista e a atual quadrilha de bandidos chefiada por Temer, mas diante das atuais circunstâncias diante do atual contexto de desmonte popular, roubos, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro público, estagnação da economia com viés de piora, lobistas fazendo fortunas e formando monopólios gigantes multinacionais, o hibridismo de Ciro Gomes pode ter o seu lado positivo, se levarmos em conta a capacidade de articulação política e econômica de sua equipe. Finalizo expondo aqui a minha opinião que, o coronelismo da família Gomes citado pelo autor, pode ser traduzido como patriotismo e coragem de um brasileiro que discursa pelo mundo com muita serenidade e sensatez.

  4. Henrique MH disse:

    Incrível como se fala sobre a biografia do Ciro e nem sequer se dá ao trabalho de pesquisar a fundo a relação dele com o poder…
    Recomendo que leiam esta entrevista dele que conta, com minúcias, o início da carreira política dele e como o Tasso Jereissati era dependente do Ciro e, NÃO, o contrário: https://www.youtube.com/watch?v=2zOoCrwjYnE
    E para quem o chama de coronel, recomendo este vídeo de menos de 2 minutos: https://www.youtube.com/watch?v=NUoRp22PVME
    E é incrível dizer que o Ciro não tem base popular e, implicitamente, colocá-lo em cima do muro… É o problema de não ter lido Mangabeira Unger para se saber o que o progressismo que ele e o Ciro tanto defendem…
    A veia nacionalista, que impregna o progressismo lecionado/defendido pelo Unger/Ciro, não se contenta com a divisão maniqueísta entre direita e esquerda… Entre coxinhas e mortadelas… Inclusive, o Ciro inicia várias das palestras dele repudiando essa divisão…
    Ideologias passam LONGE do nacionalismo, até porque servem a propósitos externos… Sobre isso, um singelo texto do Benayon: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/adriano-benayon-os-brasileiros-brigam-por-causa-de-opinioes-e-teorias-como-o-imperio-anglo-americano-gosta.html
    Trecho:
    “Enrolados por doutrinas e por distorções dos fatos, os brasileiros brigam por causa de opiniões e teorias, como o império anglo-americano mundial gosta, pois sempre investiu em dividir suas vítimas com antagonismos ideológicos e querelas religiosas, étnicas e outras.
    6. É como uma cidade cujos residentes se digladiam, enquanto suas casas são ocupadas por assaltantes armados. E quanto mais se distraem nisso, mais aumenta o saqueio.”
    Geopolítica está MUITO além de disputas ideológicas e esta é a advertência de DÉCADAS do Ciro… Por isso ele fala em reindustrialização, em redução da taxa de juros, mudança na equipe econômica, auditoria da dívida pública, reforma fiscal, etc… Assuntos que os demais candidatos ou não conhecem ou têm medo de falar…
    E os artigos sobre o Ciro ainda focam nessas superficialidades tal este que vai acima e, assim, as pautas VITAIS que ele coloca são deixadas de lado…
    A troco de quê?
    De duvidar das intenções dele?
    Leiam isto aqui e me digam se há alguma característica “híbrida” nos objetivos/resultados almejados/alcançados por ele e os aliados dele:
    https://www.pressreader.com/brazil/valor-econômico/20170427/281612420293175
    http://g1.globo.com/ceara/noticia/2016/03/ceara-lidera-ranking-de-transplantes-de-figado-no-brasil-pelo-terceiro-ano.html
    http://mobile.opovo.com.br/app/opovo/cotidiano/2016/09/09/noticiasjornalcotidiano,3657675/77-das-100-melhores-escolas-do-pais-estao-no-ceara-mostra-ideb.shtml
    https://www.google.com.br/amp/g1.globo.com/google/amp/g1.globo.com/educacao/noticia/ceara-tem-maior-percentual-de-alunos-de-medicina-em-nivel-avancado-em-teste-nacional-diz-inep.ghtml
    https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/polo-industrial-e-tecnologico-da-saude (https://youtu.be/O30db3PDHHM)
    http://mobile.opovo.com.br/jornal/opiniao/2017/06/editorial-reducao-do-analfabetismo-no-ceara-muito-a-celebrar.html
    http://mobile.opovo.com.br/jornal/economia/2017/06/governo-negocia-us-200-mi-para-desenvolvimento.html
    http://mobile.opovo.com.br/jornal/economia/2017/02/ceara-esta-entre-os-destinos-mais-desejados-do-pais.html
    https://www.google.com.br/amp/g1.globo.com/google/amp/g1.globo.com/ceara/noticia/aeroporto-de-jericoacoara-no-ceara-e-inaugurado-com-voo-comercial-vindo-de-congonhas.ghtml
    https://www.google.com.br/amp/g1.globo.com/ceara/noticia/2016/12/fortaleza-e-cidade-que-mais-aprova-no-vestibular-ita-2017.amp
    Aproveitem e leiam este texto do IPEA, em que é traçado um histórico de conquistas durante o governo do Ciro, no Ceará (1991-1994): http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=3935
    Segue a conclusão do estudo:
    “Este documento apresentou uma análise do desempenho global do estado do Ceará no período de 1990 a 1996. A preocupação central consistiu em abordar os aspectos da situação econômico-social do Ceará e, ao mesmo tempo, buscar identificar as estratégias básicas adotadas pelo governo estadual com vistas à superação do atraso e subdesenvolvimento. Estas, por sua vez, foram submetidas a um criterioso cotejamento com os dados disponíveis, a fim de que se pudesse analisar sua eficiência. Desse modo, algumas conclusões puderam ser extraídas. Em primeiro lugar, pode-se afirmar que, no campo econômico, o Ceará obteve considerável avanço. A renda per capita cresceu de U$ 1,4 mil para U$ 1,6 mil, e o PIB, de U$ 9,2 bilhões para U$ 10,9 bilhões. Esse resultado, quando comparado com os obtidos pelo Brasil e o Nordeste no mesmo período, indica o êxito das ações desenvolvidas. Ademais, houve aumento da oferta de trabalho, proporcionado principalmente pela implantação de novos empreendimentos. Nesse aspecto particular destacou-se o Programa de Atração de Investimento, cuja importância para a diversificação da economia cearense e sua desconcentração, por meio da concessão de incentivos com vistas à instalação de empresas fora da região metropolitana de Fortaleza, constituiu relevante mecanismo indutor de dinamismo à atividade produtiva no estado. Esse programa no período 1991-94 atraiu um total de 446 empresas industriais e um investimento total previsto de R$ 5,2 bilhões, bem como geração de 469 mil empregos sendo 93 mil diretos. Atualmente, desse total já se encontram em funcionamento cerca de 98 empresas. O investimento total correspondente foi de R$ 1 004,4 milhões, com geração de 102 mil empregos, dos quais 20 mil diretos. Em termos de localização, 291 empresas estão previstas para se instalarem na RMF, das quais 73 já estão em fase de operação. Nesse particular é importante ressaltar que a tendência à interiorização do desenvolvimento industrial aumentou ao longo do período analisado, passando de 53 para 102 empresas no períodos 199194 e 1995-97, respectivamente. No que respeita às questões sociais, observou-se descompasso com os êxitos alcançados no setor econômico. A educação apresenta sérias deficiências em seus aspectos gerais, apesar da pequena melhora observada em 1995 relativamente a 1990. A taxa de analfabetismo é ainda bastante elevada, sobretudo no meio rural. Em 1990 havia 44,06% de analfabetos, enquanto em 1995 verificou-se redução dessa taxa para 36,0% da população. Observou-se também redução do total de pessoas com mais de 10 anos de idade que possuíam menos de um ano de estudo, de 41% para 31,9%, entre 1990 e 1995. A insuficiência de informações não permitiu o exame dos aspectos qualitativos do setor educacional. A redução da mortalidade infantil e a melhoria da saúde da população estão relacionadas a um conjunto de ações básicas de saúde e de saneamento. Nesse aspecto constatou-se um grande esforço do governo estadual para ampliar o atendimento à população do estado. O projeto SANEAR, que se encontra em execução, permitirá crescimento do índice de cobertura da rede de esgoto sanitário de 18% para 70% na cidade de Fortaleza, beneficiando 740 mil pessoas, bem como o abastecimento de água a todas as redes municipais. A saúde também apresentou um quadro de muitas deficiências, notadamente no que concerne à mortalidade infantil. É certo que nesse aspecto já houve avanço considerável nesses últimos anos. Embora a taxa de mortalidade infantil no Ceará, estimada em 50 por mil nascidos vivos, no ano de 1995, tenha sido muito alta, constatou-se significante avanço em relação ao ano de 1991, quando foi estimada em 75 por mil. Em 1991 o Ceará superava a média do Nordeste em mortalidade infantil, mas em 1995 situava-se abaixo da média da região. Entretanto, muito ainda precisa ser feito para uma mudança radical do quadro de carências sociais. Destacou-se, com bastante nitidez, a atuação do governo estadual no sentido de promover um ajuste fiscal no início de 1987 — o que possibilitou o saneamento das contas públicas. A restruturação e o controle dos mecanismos de arrecadação tributária e a negociação da dívida fundada do estado possibilitaram maior alavancagem dos recursos para a implantação de obras de infra-estrutura necessárias ao fomento da atividade econômica e do bem-estar da população estadual. Nesse aspecto, destacam-se, em primeiro plano, os recursos para a execução dos programas e projetos estruturantes, concebidos no plano de governo como centrais para a promoção do desenvolvimento econômico e social do estado. Isso porque, além de criarem externalidades para o desenvolvimento, irão representar a solução dos problemas e pontos de estrangulamento hoje existentes. Como exemplo, foram citados os investimentos em áreas como energia, meios de transporte, recursos hídricos, saneamento básico, etc.
    Para a execução desses programas e projetos, prevê-se a mobilização de U$ 3,1 bilhões, dos quais U$ 1,2 bilhão corresponde a recursos externos, U$ 887 milhões, à contrapartida estadual, e o restante, a instituições financeiras brasileiras. Adicionalmente a esses recursos foi mobilizado, seja para investimentos em empresas privadas, seja em obras públicas, um total de U$ 1,4 bilhão. Desse total, U$ 844 milhões corresponderam a recursos do FNE, e U$ 528 milhões, do BNDES. São evidentes, portanto, o grande esforço desenvolvimentista ora em andamento no estado e, por extensão, os impactos positivos sobre esse processo e sobre sua economia. Na parte final deste documento, fez-se a apresentação dos resultados da pesquisa direta realizada em 25 empresas instaladas ou em implantação no Ceará, por meio dos quais se constatou a importância dos incentivos e do mercado regional como fatores determinantes na realização dos investimentos privados. Observouse, de igual modo, o ambiente de confiança na atuação do governo estadual como um dos fatores determinantes aos empreendimentos que optaram pela localização no estado do Ceará. Essa constatação resulta da importância atribuída ao item perspectivas de continuidade administrativa.”
    Esses resultados viriam de um “coronel híbrido”? MESMO?

  5. Rogerio Faria disse:

    O Coronelismo agora está mais sútil, e não menos destrutivo. O Coronel agora tem um discurso de “esquerda” e possui diploma de Harvard.
    Não adianta a testosterona do Coronel continua alta, como nos primórdios. A velha fala “mando bala” e “vou destruir” continua intacta.
    Como dizia Cazuza: “Um museu de grandes novidades.”

  6. Fillipe disse:

    Ao esteta
    a borboleta
    flutua.
    o neutro
    o dono do texto
    falta cerne
    aroeira
    a formiga
    sabe o pau que roe!

  7. Luiz Oliveira disse:

    Errata; por causa da sua inteligência

  8. CÉSAR BARRICHELLO disse:

    QUEM JÁ DISSE QUE LUGAR DA MULHER DELE É NA CAMA COM ELE E QUE RECEBERIA AGENTES DA LAVA A JATO A BALA NÃO MERECE RECEBER NENHUMA ATENÇÃO DE QUALQUER BRASILEIRO. JÁ CONHECEMOS TIPOS COMO ESTE SENHOR, QUE PARA MIM É DESPRESÍVEL EM TODOS OS ASPECTOS. QUE FIQUE LÁ PELO CEARÁ E NOS DEIXE ESCOLHER ALGUÉM MENOS MACHÃO, PARA AS NEGAS DELE, NÃO PARA AS MINHAS. AGORA VEM POSAR DE BOM MOÇO. JÁ TE CONHECEMOS Ô RAPÁ.

  9. Jefferson disse:

    Eu não li aqui nenhum dado ou projeto realizado por Ciro. Não.é citado em.nenhum momento sua experiência como gestor aliado a sua ficha limpa.
    Em resumo no texto todo eu só lia a palavra Coronel.

  10. Luiz Oliveira disse:

    Não confio no Ciro, tem um passado de direita e neoliberal. Esta sua reviravolta a la esquerda não me engana. Pra mim ele é um embuste. Tem perfil autoritário e truculento, só que mais sofisticado que Bolsonaro porque causa da sua inteligência, seu jogo de frases de efeito. Quem não conhece a família Ferreira Gomes que a compre. Acho que há pessoas que não entenderam o sentido do artigo. Analisaram pela aparência da reflexão. Parabéns Fran. Fiz um comentário mais completo, mas enviei como tweet.

  11. Luiz Mendonça disse:

    Um ponto deixado de fora do texto.
    No discurso, Ciro diz sobre um pacto entre quem trabalha e quem produz, contra a especulação financeira.
    O pacto da década passada rendeu as maiores receitas dos bancos nacionais.
    Essa diferença é importante para entendermos que ao contrário de um pacto que “favoreça” a “todos”, essa proposta escolhe um adversário.

  12. Falar de coronelismo sem latifúndio é a maior estupidez.

  13. Lídia Cunha disse:

    Excelente texto. Valeu.

  14. Texto na linha não fedo nem cheiro, poderia até passar por coisa de sujeito entendido se estivéssemos em 2010, mas agora, na situação em q estamos, é texto de isentao de esquerda, pseudo intelectual de pseuda esquerda sem coragem pra enxergar a perigo que nos ronda a alternativa clara que se nos apresenta.

  15. Genovan de Morais disse:

    Ótimo jornalismo, Fran Alavina! Situar pessoas e fatos no contexto histórico é sempre rico e esclarecedor. Como comentei outro dia, não me iludo com o Ciro. Não acredito que seu perfil notoriamente belicoso seja a alternativa que este país conflagrado politicamente precisa. Personalismos à esquerda ou à direita são odiosos. Deixo como sugestão a continuidade da matéria com a análise política de suas gestões no Ceará e no governo federal, suas constantes trocas de partido como expressão do seu “estilo”, de discurso rebuscado e pouca articulação com a prática.

  16. O video de André Singer , em Diálogos, Globonews, 23 horas, quintas-feiras, horário e tema que a maior parte do povo não vê, nem se interessa e a Globo posa de pluralista… O video está válido, não sei por qual motivo não aparece aqui, testei agora. https://www.youtube.com/watch?v=Ujf-BqF-L74&t=1320s&list=PL2P2pRRmLiJbWjcYTrQao-cAp4zOgQcqI&index=9

  17. Personalismo ou autoestima sem disfarce de humildade? Alguém já viu, sem preconcepções e disputas não muito limpas eleitoreiras, longo bate-papo com Ciro Gomes? Tem no youtube. Alguém já disse que a humildade muitas vezes não passa de autoritarismo disfarçado – La Rochefoucauld. E as rasteiras que o PT-Lula deram nele ao caluniá-lo, por jogo eleitoreiro, numa das eleições presidenciais, de ser um “Novo Collor”. Ou convencê-lo a mudar de domicílio eleitoral pra São Paulo prometendo não sei o quê? A Direção, a hierarquia, a militância e simpatizantes foram atrás dessa verdade e da luz que praticou o stalinista e despolitizador Culto À Personalidade (Diz o maior intelectual do PT, segundo Perry Anderson, num longo artigo, diz André em Diálogos, tá no youtube do ano passado, que “o lulismo é despolitizador, abertamente despolitizador”, talvez por isso tenha sido colocado no ostracismo (segundo o mesmo artigo do Perry Anderson, da New Left Review) . Artigo típico de mais um jogo não muito limpo eleitoral. https://blogdaboitempo.com.br/2016/04/21/perry-anderson-a-crise-no-brasil
    e André Singer:
    https://www.youtube.com/watch?v=Ujf-BqF-L74&t=1320s&list=PL2P2pRRmLiJbWjcYTrQao-cAp4zOgQcqI&index=9

  18. Análise interessante da origem, só não quarda relação com a sua saída do PSDB, no poder, a não provável reeleição, no primeiro turno, do Cid Gomes é o grande esforço para tornar a educação pública do Ceará a melhor do país, coronel de povo esclarecido???

  19. Bom artigo. Porém, boa parte pareceu uma psicodelia argumentativa à Olavo de Carvalho. Tentar atribuir ao estilo conciliador a pecha do coronelismo é demais, chega a parecer preconceito com o Nordeste, já que tal estilo é adotado e desejado em todo Brasil, no entanto, só é ligado ao coronelismo quando o político tem origem nordestina. De resto, estou em total concordância, falas como o “receber na bala” é, de fato, típico de algum político patrimonialista do começo do século XX, apesar de ter notado que a autora quis chamar, nas entrelinhas, Ciro de machista, mas preferiu só categoriza-lo como um orgulhoso de sua “macheza”.
    p.s- Apesar da crítica, vejo o candidato como a melhor opção para 2018.

  20. André Souza disse:

    Excelente texto, entendo que é estamos num momento importante para o povo buscar e se empossar deste entendimento histórico dos possíveis candidatos.

  21. caio disse:

    A análise é boa apenas no que concerne à história política de Ciro e a gênese da formação de uma oligarquia liberal no estado do Ceará. Mas se engana o autor ao supor que as críticas do candidato ao sistema político são personalistas e não institucionais. Exemplo: quando Ciro fala que será firme ao desbarrancar a quadrilha do PMDB, isso nada tem a ver com se mostrar como “cabra macho”. Ciro está nesse caso se utilizando da teoria de Marcos Nobre, qual seja o “pemedebismo”. Uma das características do “pemedebismo” é a formação de imensas maiorias para se afastar do fantasma do impeachment. Isso gera despolitização e uma política de bastidores. Ciro, de maneira bastante acertada, diz que buscará governar com maiorias menores, mais homogêneas e chamando o povo para decidir por meio de plebiscito e referendo quando o Congresso empacar. Ora, se isso acontecer é uma profunda mudança cultural e institucional e nada tem a ver com um machão resolvendo problemas complexos de forma simplista. Ciro não tira as ideias de Brasil de sua caixola. Estudioso, busca em ideias de Mangabeira Unger e Bresser Pereira, por exemplo, propostas de viabilizar esse país. Em suma, é preciso ver as ideias por trás dos gestos e arroubos. Sem dúvida não há presidenciável com ideias melhores em matéria de política, economia e sociedade que Ciro.

  22. Glaucus disse:

    Caro Fran Alavina, eu não acredito em direita e esquerda, em polarizações que o seu discurso aparenta propôr nesse artigo; “ou se está de um lado ou se está de outro” mostra que você também mostra e acredita na polarização; existem muitos lados para se ficar, sobretudo num país polarizado de maneira sumamente idiota como o nosso. Para concluir, observo que você faz a análise mas não propõe absolutamente nada, mas, subterraneamente, sugere que fiquemos como estamos e rejeitemos a tentativa e oportunidade num cenário sem saída procurando defeitos em todas as alternativas. Sei que Ciro Gomes é que é, mas, infelizmente, não vejo nenhum intelectual ou pensador, ou cientista político, ou quem quer que seja, apontar ou propôr soluções sob a forma de um candidato. Há séculos viemos aceitando o inaceitável para chegar a esse ponto vergonhoso de descobrir que nunca passamos de uma Republiqueta de Bananas. Se queremos democracia, temos que ter “peito” para escolher, sabendo que poderemos ganhar ou perder com a escolha ! Aliás, coragem é coisa que não existe neste país, sobretudo no mundo acadêmico, como muito bem diz o excelente Nildo Ouriques !!!

  23. Deusdedith disse:

    Excelente análise, gostaria de ler análise semelhante sobre a gênese de Bolsomito e Doriana… Parabéns Fran Alavina…

  24. Sueli Stipp disse:

    bom texto. Mas que alternativas temos pensando na eleição de 2018? Entre este pacto e nenhum???

  25. Ash disse:

    Muito bom artigo

  26. Frank Santos disse:

    texto lixo. explique um coronelismo que não tem tvs, rádios, fazendas, empresas, jatinhos. explique que coronelismo é esse que investe em educação e possui as melhores escolas públicas do país, os estudantes de medicina mais qualificados, o maior percentual de aprovação no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronaltica), o estado mais líquido da federação, que faz investimentos em plena crise. esses esquerdistas fanáticos não aprendem nunca.

  27. Joézer Carvalho de Castro disse:

    Mais um artigo que tenta forçar o aspecto coronelista do Ciro, mas não traz nenhuma informação relevante a respeito disso. Ser apadrinhado por político tradicional? Personalismo? Se colocar como alternativas e conciliador de classes? Isso não basta. Se quiser chamar de coronel tem que justificar atitudes coronelistas nas posições políticas passadas, ou então do projeto político futuro. O nordeste sofre há muitos anos com grupos hegemônicos na política, mas falar desse coronelismo de forma irrefletida mais parece uma atitude xenofóbica.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *