Boulos: a preparação do golpe e o governo pasmo

PSDB, Cunha e ministros do Judiciário já não escondem conspiração. Mas ela avança porque Dilma continua rendida à oligarquia financeira, e pode terminar de forma indigna

Os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e Câmara, Eduardo Cunha

Os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e Câmara, Eduardo Cunha

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PSDB, Cunha e ministros do Judiciário já não escondem conspiração. Mas ela só avança porque Dilma continua rendida à oligarquia financeira — e pode terminar de maneira indigna   

Por Guilherme Boulos, da coordenação nacional do MTST

A convenção do PSDB em 5 de julho domingo selou a guinada lacerdista do partido de Franco Montoro e Mario Covas. Com discursos recheados de meias palavras, os tucanos deixaram claro o que ainda não podem dizer abertamente: o apoio à interrupção do mandato de Dilma e sua prontidão para ocupar o posto.

Coube a Aécio Neves, em entrevista a uma rádio gaúcha, expressar a meia palavra num ato falho. “A convenção me reelegeu presidente da República”, disse o presidente reeleito do PSDB. Os atos falhos, mostrou Freud, são sempre reveladores. Neste caso, revelou aquilo que o também psicanalista Christian Dunker chamou de uma “falta de luto” de Aécio em relação à derrota eleitoral de 2014. E uma sobra de despudor.

O despudor, aliás, é o que melhor define o tom das articulações entre líderes do PSDB e do PMDB sobre as “saídas políticas”. Cassação via TSE? Impeachment a partir do TCU? Parlamentarismo com Cunha? Temer ou novas eleições? Tudo isso abertamente nos jornais e, ao que parece, em conexão com ministros de tribunais superiores, numa perigosa escalada de judicialização da política.

Numa palavra, o nome destas articulações é golpismo. Primeiro se constroem as saídas, depois buscam-se os argumentos que podem legitimá-las. Nenhum golpe se deu sem argumentos e muitos deles pretenderam-se constitucionais. Não deixaram de ser golpes por isso.

O tom da convenção tucana forçou Dilma a reagir numa entrevista dizendo que não irá cair. Para logo na sequência anunciar que serão tomadas novas medidas de ampliação do ajuste fiscal. Melhor teria sido o silêncio.

As reações de Dilma ao fogo cerrado contra seu governo parecem um caso grave da síndrome de Estocolmo. Quanto mais a direita a ataca, mais a presidenta a afaga. Repete o mesmo erro de outubro. Ao ser eleita, Dilma deu todos os sinais à direita acreditando que, com isso, garantiria governabilidade.

Deu no que deu. Agora, mais enfraquecida, repete o mesmo gesto, esperando resultados diferentes.

É claro que há um cálculo. Dilma e sua equipe sabem que nenhum golpe prospera sem apoio da elite econômica. Em particular do mercado financeiro. E este não tem razão alguma para queixas do governo Dilma até aqui. Aprofundar o ajuste antipopular poderia ser uma forma de garantir a governabilidade com a banca.

Mas este cálculo parece subestimar os efeitos da perda de governabilidade nas ruas. O governo tem hoje 9% de aprovação. O ajuste fiscal é um dos grandes responsáveis por isso e tudo indica que as consequências mais duras ainda estão por vir. Um governo tão impopular é um governo fraco.

E a banca não costuma se destacar pela lealdade. Se o governo não tiver força para aprovar as políticas de seu interesse – ainda que demonstre disposição para isso – será atirado aos cães sem qualquer remorso. A cada recuo, Dilma vai tornando-se refém desta possibilidade, que seria a mais indigna: ser derrubada não por contrariar os grandes interesses econômicos, mas por não ter condições de defendê-los.

O cenário é complexo. Aos movimentos sociais, cabe ter a firmeza de fazer o enfrentamento em duas trincheiras. De um lado, combater o golpismo sem tréguas, sabendo que – se prosperar – dará expressão a uma ofensiva reacionária de longo alcance. De outro, combater as políticas antipopulares deste governo, que se mostra incapaz de construir uma agenda que seja defensável.

Movimentos golpistas marcaram um ato para 16 de agosto. Importantes movimentos populares, sindicais e estudantis já começaram a se articular para construir uma grande mobilização em 20 de agosto.

Neste cenário de polarização e incerteza, o que é seguro é que a política transbordará cada vez mais para as ruas.

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12 comentários para "Boulos: a preparação do golpe e o governo pasmo"

  1. Ruy Mauricio de Lima e Silva Neto disse:

    Menas força, Walderez.Ruim com eles, pior sem eles (a não ser que venhamos a dar alguma oportunidade e espaço ao PSOL,PC do B, PSTU e nanicos assemelhados).

  2. Ruy Mauricio de Lima e Silva Neto disse:

    Grandes verdades aqui neste artigo. A mais dolorosa de todas : “Quanto mais a direita a ataca, mais a presidenta a afaga. ” Me lembra Jango dizendo “Não quero derramar sangue de brasileiros”. Deu no que deu. Tudo tão déjà vu, tão repetitivo, embora com nuances diversas.Me lembra também Bob Dylan no verdor de seus 20 anos: “And you’re sick of all this repetition / Won’t you come see me, Queen Jane?”

  3. Walderez disse:

    Norbert, atrás desse espelho só tem sujeira. Petista e de outras legendas também. Mas como lula e quadrilha, nunca se roubou tanto “nahistoriadessepaiz’. Já diz o dito popular: O pior cego é o que não quer ver. Boa sorte para voce.

  4. pepe disse:

    O,triste povo sem lembrancas!

  5. Pedro disse:

    Está bom? Claro que não, mas estamos em situação melhor que muitos paises do Euro. Sabemos que esta ecomomia ortodoxa não deu certo em nenhum lugar do mundo. O Governo está fazendo remendos agradáveis ao “mercado”, os bancos ficarão mais ricos. Já viram seus balanços?
    Ninguém que assuma no lugar da atual presidente dará jeito.Alguém viu classe média no governo do PSDB viajando de avião? Com dinheiro no bolso? Comprando eletrodomésticos?
    Não sou menino e já vi esse “filme” na decada de sessenta, e o final não é feliz para ninguém.
    Vamos ter paciência, 18 chega logo. Não vamos atropelar a democracia.
    Os processos estão andando e os bandidos serão, certamente, condenados.
    Muita calma nessa hora!!!

  6. Pereira disse:

    Sindicatos esses subservientes e controlados por uma politicagem hipócrita e medíocres líderes de movimentos sindicais comendo na mão de governos que se dizem pro trabalhadores e que na verdade traíram nosso povo mentindo de novo vendidos por milhares e milhares de reais e cargos inúteis que só serve para inchar uma máquina falida que alimenta esses abutres no poder.
    Alimentando uma política baixa marcada por vários lobbys que na verdade de democrático não tem nada.
    Se você é participe de movimentos sindicais repare como estão divididos, segmentados e servindo aqueles que eles deveriam protege-los.
    Quando vc sai como vc as ruas hj tem muito mais força do que como essas entidades de classe falsa que não tem defendido os que dizem ser legítimos representantes.
    Veja dentro do seus sindicatos se ele não está só defendendo o poder prq continuar mamando na teta do governo e ainda sugando vc com descontos no seu salário de forma obrigatório e arbitrar.
    Um bando de sangue suga falando de golpismo que ta sofrendo é o povo morô.

  7. Cris disse:

    E o PT omissão de olho na eleição?

  8. Norbert Fenzl disse:

    Limitado intelectualmente é aquele que não consegue ver ATRAS do espelho!

  9. Walderez disse:

    Golpe é o que lula e sua quadrilha petista fizeram com as eleições. Precisamos de uma renovação total de nossos políticos. Esses partidos estão todos vendidos por cargos e arranjos. Agora essa corja petista sair do poder é tudo de bom. Espero que quando descobrirem os outros escândalos de roubo (falta a Eletrobrás, a CEF, o BNDS…) a justiça tenha a dignidade de colocar todos eles na cadeia e destruir as chaves, para não correr o risco de alguém achar. Quando esses ladrões saírem só vai sobrar o esqueleto do país. Estão bilionários. Ladrões, mentirosos, corruptos. E ainda tem gente que defende… Consegue dormir e se olhar no espelho. Ou é limitado intelectualmente ou está tendo vantagem de alguma forma. Já mostra quem é.

  10. Guilherme disse:

    não quero dizer que justiça seja política no sentido de troca de favores, e sim no sentido de ser para o bem comum

  11. Guilherme disse:

    Cassação via TSE? Impeachment a partir do TCU? Parlamentarismo com Cunha? Temer ou novas eleições? Tudo isso abertamente nos jornais e, ao que parece, em conexão com ministros de tribunais superiores, numa perigosa escalada de judicialização da política.
    Pois bem, se houve improbidade administrativa, há de se conferir. A questão do parlamentarismo só teria efeito após o fim do mandato. E por mais que o modelo semipresidencialista que Cunha porpõe ainda guarda os vícios políticos (logrolling, clientelismo), seria uma boa alternativa para o Brasil ter mais representatividade popular. Além do mais, já está na hora de trocar o poder de mãos. Está na hora de acabar com esse medo de perder o poder. Tenho tendências esquerdas, mas abandonei esse governo devido obsessão pelo poder por parte de pessoas lá de dentro, e devido a medidas extremamente populistas – hoje todas as repartições públias estão infestadas de campanhas pró-PT.
    judicialização da política –> veja bem, o estado (como conhecemos) é dividido em três poderes, que estão explicitamente interligados e que servem para controlar um ao outro. Uma das características do estado de direito é justamente o controle dos direitos através de um orgão jurídico independente. Então a política é justiça e vice-versa. Apesar de no Brasil a nomeação dos ministros do STJ ainda ser partidarista.
    Na verdade “todos” os políticos brasileiros são obsecados por poder. Se assim não fosse, já teríamos tido reformas política, territorial (e agrária), no sistema de saúde, fiscal, educacional, judicial etc

  12. Em breve uma lista com 16 coisas para se fazer no dia 16 de agosto. E em nenhuma dessas inclui a convenção dos patéticos com a camiseta da CBF.

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