Perus, periferia paulistana: Arte para evocar lutas que não morrem

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História da fábrica que fez sete anos de greve será relembrada sábado. Oficinas, grafitti, shows, cortejo pelo bairro e baile na porta da indústria

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Por Jéssica Moreira e Larissa Gould

Para relembrar as memórias e lutas da primeira companhia de cimento do Brasil, o Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Cimento de Perus (região noroeste) realiza no dia 31 de maio o 1º Caramanchão Cultural, que acontece das 10h às 22h, em diversos pontos do bairro, inclusive no portão principal da antiga indústria. Com mais de 20 atividades, a abertura do evento será às 10h, com exposição fotográfica no calçadão em frente à estação de trem da CPTM. Ainda pela manhã, a Praça Inácio Dias, CEU Perus e passarela de pedestres recebem workshops de literatura, brincadeiras, estampa de camiseta e palestra sobre direito à cidade.

A partir das 13h, artistas, moradores e demais participantes se concentram na praça, de onde sobem em cortejo até o refeitório da Fábrica de Cimento. Às 15h, o portão da indústria se transforma em um salão de baile, recordando as antigas festas que lá ocorriam. Para finalizar, bandas e grupos de dança dominam o palco até as 22h. (Veja abaixo a programação completa).

Importância histórica

Criada em 1926, a Companhia de Cimento Portland Perus foi a primeira indústria cimenteira de grande porte do Brasil e principal abastecedora da matéria-prima até a década de 30. Das cerca de 500 mil toneladas produzidas no paísno período, pelo menos 125 mil vinham de Perus.

Foi palco também da greve de sete anos, realizada pelos sindicalistas denominados Queixadas em plena ditadura militar. Ao fim da longa reivindicação, os grevistas receberam os salários atrasados e tiveram ainda o direito de voltar ao trabalho. A indústria foi fechada definitivamente em 1987 e tombada como patrimônio histórico da cidade em 1992. Desde então, o prédio vem sendo deteriorado a cada dia (saiba mais).

Para a história não ser esquecida, há mais de 30 anos os moradores, ex-operários, viúvas e filhos de Queixadas lutam para transformar o espaço em um Centro de Lazer, Cultura e Memória do Trabalhador. Em 2013, essa causa ganhou novo sentido, com o Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Cimento de Perus, que reúne os já ativos militantes e os novos simpatizantes da causa, incorporando nas reivindicações a construção de uma Universidade Livre e Colaborativa e centros de pesquisa para agregar o conhecimento comunitário.

Serviço

I Caramanchão Cultural Data: 31/05 (sábado) Horário: das 10h às 22h Locais: Praça Inácio Dias, CEU Perus, Portão principal da Fábrica de Cimento, Passarela de pedestres, Calçadão E-mail: [email protected] Site:http://movimentofabricaperus.wordpress.com/ Facebook:https://www.facebook.com/movpelareapropriacaofabricacimentoperus Imprensa: falar com Jéssica Moreira (11) 9-6573-3582/jessicamoreira.[email protected] ou Larissa Gould [email protected]

Programação

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Exposição Fotográfica

A abertura acontece às 10h, com exposição fotográfica que ocupará o calçadão em frente à entrada da estação de trem, no sentido Av. Dr. Silvio de Campos. A mostra colaborativa reúne fotos de acervo dos moradores de Perus e traz uma linha do tempo da fábrica, com imagens que vão desde sua criação, em 1926, passando pelos momentos altos de atividade fabril, até o processo de fechamento e de total abandono.

Grafite

O dia contará ainda com intervenções artísticas dos grafiteiros Guetus, CMS13, Elfus, Sapiens, Joks e Tioch, que irão pintar a temática da fábrica em três pontos diferentes do bairro: pilastras do viaduto de Perus (sentido Av. Dr. Silvio de Campos), passarela e a viela que leva até o prédio da fábrica. Além disso, alguns deles farão intervenções em madeirite.

Oficinas

Para crianças

Às 11h tem início a oficina Brincar de Quê?, idealizada pela Casa das Crioulas. Destinada às crianças, a atividade fará um resgate de brincadeiras e brinquedos na Pça. Inácio Dias. Dentre as ações, está a construção de um mural com desenhos e registros escritos dos sonhos que as crianças têm em relação ao espaço da fábrica. No final da atividade, às 14h, serão elas que puxarão o cortejo.

Literatura

Ao meio dia, o CEU Perus será palco do workshop Do pó ao grafite: poetizar da fábrica de desilusões à fábrica de cultura, do grupo literário Gelufuego. Com uma hora de duração, o objetivo é escrever poesias sobre a história, memória ou sensações que dialogam com a fábrica de cimento. Aberta a todos os públicos, um grupo já é garantido na oficina: os filhos de ex-trabalhadores da indústria.

Direito à cidade

O projeto Praça Gigante, financiado pelo VAI/Secretaria Municipal de Cultura, realiza neste dia duas oficinas que dialogam com a ideia de ocupar espaços públicos da cidade. A primeira delas, “Cores da Terra”, com Gabriela Santos, das 10h às 12h, na parte de cima da passarela de pedestres, destinada a 20 participantes. A segunda é a oficina “Direito à Cidade”, com participação da professora Rosalina Burgos, da Universidade de São Carlos em Sorocaba, das 12h às 14h, na sala UAB do CEU Perus.

De camiseta

Às 11h, o artista Andreas Giumarães realiza a oficina de estamparia em camisetas utilizando, que reaproveita chapas de radiografia e rolos de tinta para criar máscaras que funcionam como carimbos. Nas camisetas serão carimbadas frases embláticas do Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Cimento.

É preciso levar uma camiseta apenas. Intervenções de artes cênicas Durante todo o evento, atores e demais artistas realizam a intervenção Corrente de Arte do Caramanchão rumo à Fábrica, com intervenções nas atrações, nos bares, padarias e demais espaços do bairro de Perus, chamando moradores e comerciantes para o evento.

Intervenção de dança

Às 11h e às 13h, o Eita Ação Cultural realiza intervenção de dança no calçadão em frente à estação. Cortejo artístico rumo à Fábrica Ao fim das oficinas, por volta das 13h, os grupos se concentração para o cortejo, que sairá da Praça Inácio Dias e vai até a Fábrica de Cimento.

Diversos artistas e demais participantes percorrerão a passarela de Perus, passarão pela exposição fotográfica e subirão a Av. Dr. Silvio de Campos e seguirão em direção ao refeitório da fábrica, em ato simbólico relembrando o maior ponto de encontro das famílias locais durante anos.

Durante o cortejo, participam a Comunidade Cultural Quilombaque, a Esquerda Marxista do PT – que coordenará uma oficina de gritos de guerra -, artistas, palhaços e demais interessados. (*o trajeto pode se alongar a mais ruas no dia do ato).

Baile da memória

O Baile do Caramanchão acontece às 15h, na entrada principal da Fábrica de Cimento. A banda Confira o Groove recordará os antigos hits dos anos 70. A atração conta ainda com aulão de dança da professora Michelle Lomba.

Dança e Música

Após o baile, entra em cena as coreografias de bolero e forró da escola Fábrica de Dança, seguida do espetáculo de jazz dance da escola Espaço Dança com Arte, com as coreografias Guerreiras do oriente” e “Guerra“, que dialogam com as reivindicações enfrentadas pelos sindicalistas da fábrica. Às 17h, o público conta com o rock autoral do músico Eder Moraes. Em seguida, sobe ao palco o compositor e intérprete peruense Thiago Rodrigues toca canções como a Linha 7-Rubi, Velhos Trilhos O Convite, que abordam o dia a dia da população peruense, assim como sua história e problemas ainda enfrentados.

Por volta das 18h, a Comunidade Cultural Quilombaque marca presença com o Jongo da Quilombaque e o Sarau D’Quilo (o microfone estará aberto a poetas e demais artistas que queiram intervir nos intervalos das bandas). Em seguida, a plateia se agita com a dança do grupo Street Son. Por volta das 19h30, é a vez do rock alternativo das Bandas Deuz e Telúrica. às 20h20, a banda de rock pop Mono Surround sobe ao palco, com músicas próprias e couver de bandas de rock nacional. Depois, entram no palco a Banda O Mandruvá e às 22h, o encerramento com a Banda Doutor Jupter, em estilo folk e rock caipira.

Teatro

Às 19h, o Grupo Pandora de Teatro apresenta o espetáculo “Relicário de Concreto”, que recorda a história da fábrica de cimento e mostra como a greve dos sete anos influenciou a vida dos moradores de Perus. A apresentação acontece no CEU Perus, na sala multiuso. Apenas 40 lugares.

Artesanato

A partir das 10h, o Coletivo Arteferia organiza exposição de artesanatos no calçadão em frente a estação de trem.

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