Troca de comando na segurança pública de SP não apaga crimes

Até agora não foram atribuídas responsabilidades pelos crimes cometidos, de mais de 150 pessoas desde outubro, nem se ouviu palavra de pesar aos civis assassinados

Por Gisele Britto, da Rede Brasil Atual

o novo secretário de segurança pública paulista

o novo secretário de segurança pública paulista

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Até agora não foram atribuídas responsabilidades pelos crimes cometidos, de mais de 150 pessoas desde outubro, nem se ouviu palavra de pesar aos civis assassinados

Por Gisele Britto, daRede Brasil Atual

São Paulo – O anúncio do pedido de demissão de Antonio Ferreira Pinto do cargo de secretário de Segurança Pública e sua substituição pelo ex-procurador-geral do estado Fernando Grella feito hoje (21) pelo governador Geraldo Alckmin não animou especialistas em segurança pública nem movimentos sociais. Para eles, é preciso mudar a orientação da política docombate à violência. “Não adianta mudar o nome sem mudar estruturalmente. Diversas mudanças desse tipo já aconteceram desde 2006 e a política de claro aval às matanças continua a mesma”, acredita Danilo Dara, integrante do Mães de Maio e do Comitê contra o Genocídio.

Dara se refere ao assassinatos de mais de 400 civis, na maioria homens negros com menos de 30, mortos com tiros em órgãos vitais entre os dias 12 e 22 de maio de 2006. Segundo estudos de organismos internacionais esses homicídios foram cometidos por policiais nas chamadas “resistências seguidas de morte” ou por policiais membros de grupos de extermínio que atuavam encapuzados em uma ação de revide às mortes de agentes de segurança em ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). O episódio revelou a fragilidade das políticas estaduais para a área e só foi remediada depois de o estado negociar com líderes do PCC. Desde então, entidades de direitos humanos apontam a falta de controle sobre setores da polícia militar.

Ferreira Pinto, à frente do Secretaria de Segurança Pública (SSP) desde 2009, sempre minimizou a atuação do PCC e a crise de segurança. Entre janeiro e outubro desde ano, 3.345 pessoas foram mortas, um aumento de 11,62% em relação ao mesmo período do ano passado. Só em outubro foram 505 mortes, média de 16,29 por dia – 93 policiais foram mortos. “Ele implantou uma ditadura militar na segurança pública. Toda a política se centrou na militarização. A Polícia Civil foi sucateada e deixada de lado. O que houve de positivo em sua gestão é que ele enfrentou a corrupção policial, princialmente nos primeiros anos, mas seu maior equívoco foi não confiar na corporação da Polícia Civil como um todo”, aponta o vice-presidente da Comissão Especial da Criança e do Adolescente do Conselho Federal da Ordem do Advogados do Brasil,  Ariel de Castro Alves.

Novo nome

Grella é conhecido pelo perfil mediador, sem ligação com nenhuma das duas forças de segurança do estado. Sua nomeação seria uma resposta à pressão do Ministério Público ao governador. Em julho, um procurador federal, Matheus Baraldi, fez diversas críticas à gestão da segurança em São Paulo e chegou a afirmar que as tropas estavam sem comando, o que justificaria a saída do comandante da PM, coronel Roberval Ferreira França.

Para Luciana Guimarães, diretora do Sou da Paz, “Grella parece ter todas as competências” para dar curso às mudanças necessárias. No entanto, ela também enfatiza que é preciso mais do que isso para que os índices de homicídios caiam. “É preciso aproveitar essa mudança como oportunidade para mudar a condução da políticas de segurança pública. Estávamos errando o caminho.”

Ela acredita que uma nova agenda de atuação deve se centrar em processos de gestão e elenca as prioridades: investimento nas polícias Civil e Militar com ênfase em tecnologia e mecanismos de diagnóstico e avaliação de resultados, além da integração entre as duas instituições, maior participação da sociedade civil, combate à corrupção e adoção de controles internos de combate à letalidade. “A Secretaria de Segurança Pública precisa se abrir para prestar contas, tanto para entender o que está acontecendo com a ajuda de quem quer ajudar, especialistas. Enfim, modernização. Isso é o básico em muitas áreas. E em segurança estamos no modelo antigo”, afirma.

Para o Mães de Maio, a troca de nomes no comando da SSP, no entanto, não isenta de responsabilidade Ferreira Pinto nem o governador Geraldo Alckmin das responsabilidades dos crimes que foram cometidos até agora. “Nem que Grella investigue o massacre de mais de 150 pessoas desde outubro”, afirma Danilo Dara. “Até agora não houve uma proposta que não fosse de mais encarceramento, pressão, nenhuma palavra de pesar aos civis. Continuaremos em cima, cobrando.”

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