Para tentar entender o imbróglio paraguaio

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Em 30 de março, manifestação contra a reeleição

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Incêndio no Congresso não foi nem insurreição popular, nem ataque de gângsters neoliberais. Mas Fernando Lugo pode estar entrando em arapuca

O cenário em Assunção permanece turvo e contraditório. O Senado debate, dividido, um projeto que permite a reeleição presidencial, Na sexta-feira, foi tomado e parcialmente incendiado por manifestantes em protesto. O fato foi visto por muitos, nas redes sociais, como início de insurreição.

Horas depois, militantes como Breno Altman sugeriram uma versão contrária. A lei de reeleição seria um caminho para permitir a candidatura do ex-presidente Fernando Lugo, deposto por golpe parlamentar em 2012 e hoje líder nas pesquisas. Para viabilizar a lei, a Frente Guasú, de Lugo, teria se aliado ao Partido Colorado, do presidente Horacio Cartes, eleito em 2013. O Senado teria sido incendiado por marginais a serviço de uma oposição neoliberal descontente, porém sem voto.

No sábado, surgiu uma nova versão, que parece mais completa e nuance que as anteriores. Foi publicada no site espanhol “Rebelión” e é de autoria de Henrique Ferreira, secretário de Relações Intencionais do partido paraguaio Movimento ao Socialismo,

Ferreira sustenta que: a) A reeleição é, além de impopular, inconstitucional; foi proposta e rejeitada pelo Congresso em agosto; segundo a Constituição paraguaia, uma mesma medida não pode ser apresentada ao Congresso antes de um ano após rechaçada; o próprio Lugo, que é senador, votou contra ela em agosto; b) Horácio Cartes, o atual presidente, aplica um neoliberalismo extremo, mesclado com clientelismo. Conseguiu aprovar leis que permitem privatizar todos os serviços públicos. Entregou a construção e manutenção de estradas à construtora do pai do ministro de Obras Públicas. Acelerou a expulsão de camponeses e a instalação de pecuária e frigoríficos (inclusive da JBS brasileira), nas terras deixadas por eles. Investe feroz, com apoio do Judiciário, contra os sindicatos e o direito de greve; c) A reeleição é contestada por setores dos partidos de direita interessados em evitar que Cartes se perenize no poder. Entre os opositores da medida está o presidente do Senado, que recusou-se a colocá-la em votação; d) De forma encoberta, a Frente Guasú associou-se de fato a Cartes, em torno da reeleição. Lugo desapareceu do Senado nas últimas semanas. E a frente ofereceu seu escritório no Parlamento para que os senadores articulem, à revelia da presidência da casa, as medidas que poderão levar à aprovação da proposta inconstitucional.

O texto de Ferreira, embora sempre respeitoso com Lugo e a Frente Guasú, aposta que ambos estão entrando em uma grande cilada política. Aparecem como associados à Cartes, queimam-se com o eleitorado e permitirão, caso a manobra fracasse, que o presidente os responsabilize pela lambança. A matéria completa pode ser lida aqui.

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