Breve nota sobre a merenda escolar em São Paulo

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1460065823_737538_1460066899_noticia_normalAntropóloga relata seu espanto ao deparar casualmente com pobreza da comida servida aos estudantes e desânimo dos funcionários que deveriam produzi-la

Por Íris Morais Araújo*, editora do site Iricota

Em 2008, por conta de uma pesquisa freelancer, Daniela Perutti e eu almoçamos em duas escolas de São Paulo. A discrepância entre o que comemos nos chocou. No estado, arroz, nuggets e purê de batata em flocos. Eu não me recordo perfeitamente, e não tenho nenhuma anotação para conferir, da refeição da escola municipal. Mas sei que era bem mais fresca e rica, com polenta cozida, legumes e frutas.

A diferença entre as conversas com as merendeiras também nos marcou. A trabalhadora do município detalhou seu trabalho e suas experiências gustativas. Nascida em um engenho em Pernambuco, lembrava-se da quantidade de sabores – até do muçum, peixe em formato de cobra – de sua terra natal, em contraste com a monotonia do pão, o único alimento a que tinha acesso quando migrou para São Paulo. Já a merendeira do estado mal falou: lembro-me apenas da ênfase que deu do pouco que podia fazer para melhorar a qualidade daquela comida pré-pronta.

A política do Estado tornou-se a nós indefensável, pela má qualidade da refeição e pela desvalorização da trabalhadora responsável por produzi-la. Porque é política que empobrece – muito além de escândalos de corrupção – o gosto, o gesto e a fala.

* Antropóloga e professora da UNIFESP-Campus Baixada Santista.

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