Emergências: para combinar ativismo e cultura

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Encontro internacional vai reunir em dezembro, no Rio, coletivos do Brasil e de fora dispostos a construir novas formas de política. É possível intervir na programação desde já

Por Inês Castilho

Mais um vento fresco vem oxigenar a atmosfera política do país nesses tempos de conservadorismo e ameaças de retrocesso político. De 7 a 13 de dezembro, cerca de 1500 ativistas, pensadores, artistas, produtores e agentes culturais de todo o Brasil e alguns países mundo vão participar do Emergências, evento que acontece simultaneamente no Rio de Janeiro, em Niterói e na Baixada Fluminense. O projeto, realizado pelo Ministério da Cultura (MinC) em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF), é fruto de forte demanda dos movimentos sociais e está relacionado à conjuntura turbulenta vivida pelo país.

A ideia de um grande encontro de redes ligadas a cultura e comunicação do Brasil, América Latina e outras partes do mundo vem sendo construída há três anos por grupos de ativistas. Agora, tornou-se viável. Caravanas chegarão no Rio vindas da Argentina, Uruguai, Venezuela, Peru. Espera-se conseguir trazer grupos de mídia como Democracy Now, dos EUA, e Al Jazeera, do Catar. A EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) e rádios da AL vão montar um estúdio para transmissão ao vivo do evento.

Dialogarão, entre outros, com os sem-teto do MTST, Movimento de Economia Solidária, Levante Popular da Juventude, Liga do Funk, Agência Popular Solano Trindade, Fora do Eixo, Choque Cultural – já participando dos preparativos para o encontro em São Paulo. De outros estados virão a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Movimento Ocupe Estelita, Digitaldubs, Black Santa, Rede Baixada em Cena, AfroFunk, União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento Hip Hop da Floresta, Instituto Socioambiental (ISA), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), entre outros.

“Emergências no sentido da necessidade imediata de ações que superem a crise e façam frente ao retrocesso no campo dos direitos, e no sentido daquilo que está vindo à tona”, observa Ivana Bentes, Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) do MinC, referindo-se ao surgimento de uma “verdadeira revolução sociocultural”, que, aliada à mudança tecnológica e às comunicações, viabiliza novos territórios culturais, novas formas de organização social e um novo mundo no campo da informação.

“O objetivo é pensar a cultura na centralidade das lutas pela ampliação dos direitos e entender as mudanças no campo da política, dos comportamentos, da economia, das artes. Debater a emergência de novos modelos de sociabilidade”, considera.

Emergências acontecerá em ambientes de centro e periferia. Os debates ocorrerão tanto nos charmosos Fundição Progresso e Circo Voador, no Rio, quanto nas agitadas comunidades da Maré e da Rocinha, e no campus da UFF, em Niterói. Os acampamentos para abrigar os participantes serão montados em espaços públicos do Rio, com as tecnologias e arquitetura de ocupação de movimentos como o MTST e de grupos como o coletivo Muda. Os percursos culturais permitirão que os coletivos com trabalhos correlatos se conheçam uns aos outros.

Diversos grupos brasileiros estão levantando dinheiro para transporte via crowdfunding. Não se trata apenas de assistir, mas de definir a pauta: 80% das atividades serão construídas a partir de chamadas públicas a serem divulgadas nos próximos dias. Por meio delas, os coletivos poderão propor suas atividades e compor a programação autogestionada do evento.

Questões emergentes

Entre os temas de atividades já elencados estão mídia livre, cultura hacker, economia solidária, estética da política, feminismos, espiritualidade, arte e intervenção urbana, funk e hip hop, micro economia da cultura. “O MTST, por exemplo, veio com a proposta de fazer um encontro latino-americano de movimentos de ocupação urbana”, lembra Rafael Vilela, do Fora do Eixo, envolvido nos preparativos.

Outra questão em pauta são as novas estéticas políticas. Quais linguagens correspondem à forma de organização em redes e ruas? “Assim como o movimento estético-político construtivista surgiu com a Revolução Russa e maio de 68 trouxe novas formas de manifestação e comportamento, é interessante pensar sobre essas estéticas hoje”, observa Ivana. O Levante Popular da Juventude, criador da estética do escracho, quer debater o uso da música – maracatu, samba, funk – na política e propõe um encontro com movimentos de jovens argentinos que, como eles, usam bateria nas manifestações.

“Não sabemos onde o Emergências vai dar”, diz Rafael. “É uma articulação pela base, um monte de gente legal que vai se juntar num ano difícil. Talvez se consiga articular um documento que norteie eixos de conceitos e propósitos partilhados por todos.” A ideia é celebrar o reencantamento da política, diante do seu esgotamento pela crise das instituições e do discurso binário e panfletário ainda em voga. A cultura utilizada como campo de defesa dos direitos humanos, um tema transversal a todos os outros.

Página do evento: https://www.facebook.com/emergencias.cultura?fref=ts

Para confirmar presença: http://on.fb.me/1Ro4skN

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3 comentários para "Emergências: para combinar ativismo e cultura"

  1. marise vieira eiras disse:

    Que notícia boa no meio de tanto retrocesso !

  2. Elvira Maciel disse:

    Um espaço de rara qualidade para encontros, ideias, reconhecimentos, novas propostas de ação. Já me inscrevi e vou divulgar. Grande iniciativa!

  3. raul pereira disse:

    maravilha!!
    um respiro de esperança nesta conjuntura conservadora e asfixiante.
    raul

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