Contra aristocracia financeira, mais democracia, humor e crowdfunding

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Jovem inglês dá um tapa na cara dos mercados globais ao abrir, em site de crowdfunding, campanha para pagar coletivamente dívida grega

Por Cauê Seignemartin Ameni

Em meio a pressões cada vez mais intensas dos credores contra a Grécia, um jovem inglês que “trabalha numa loja de sapato”, Thom Feeney, teve a sensibilidade que falta à maioria dos políticos da União Europeia: enfrentar com solidariedade o problema que estrangula o país há 6 anos. Na mesma linha do primeiro ministro Alexis Tsipras, de combater austeridade com mais democracia, Feeney criou uma campanha de financiamento colaborativo (crowdfunding) para arrecadar dinheiro e pagar uma parcela da dívida.

Feeney fez o seguitne cálculo: se cada cidadão da União Europeia (503 milhões de pessoas) doar 3 euros, a Grécia terá um outro destino. A parcela da dívida que deveria ser paga hoje (30 de junho) ao FMI é de 1,6 bilhões de euros (equivalente a 5,8 bilhões de reais). O governo aguarda o resultado do referendo no próximo domingo (5 de julho) para decidir se pagará ou não.

Em entrevista ao The Independent, o jovem de 29 anos mostrou ter mais responsabilidade que os credores: “Parece que os políticos, primeiros-ministros e chanceleres estão esquecendo quem é realmente afetado por esta crise: o povo grego. Se os governos não querem ajudar os gregos, talvez as pessoas que vivem na Europa queiram”.

this-londoner-is-raising-thousands-for-a-greek-bailout-on-a-crowdfunding-siteOs prêmios oferecidos pela campanha são igualmente provocadores: vão de um cartão postal do Alex (sic) Tsipras para quem doar 3 euros; uma garrafa de Ouzo (aguardente grega) para quem doar 10 euros; azeite e queijo feta para salada para 6 euros e uma garrafa de vinho grego para quem doar 25 euros; até uma viagem à Grécia por dois dias para quem contribuir com 5 mil euros. “Na verdade, todo mundo na União Europeia poderia ajudar a levantar o dinheiro apenas tendo uma garrafa de azeite e queijo feta na salada do almoço. Então, por que não fazer isso? Escapamos dos políticos e dos credores europeus, ficamos com um saboroso almoço e a Grécia obtém estabilidade”.

Com a colaboração de 16 mil pessoas nos dois primeiros dias, a campanha já arrecadou 247 mil euros. O site, que opera o sistema de crowdfunding Indiegogo, encontra-se completamente congestionado, saindo frequentemente do ar. “Estou confiante que o povo da Europa irá se engajar nessa campanha e em breve estaremos levantando um copo de Ouzo numa grande festa!”, diz Thom. Para acompanhar o financiamento siga a pagina da campanha no Facebook, ou twitter da plataforma, ou busque pela hastag ‪#‎crowdfundgreece‬.

Já o pai da nouvelle vague, Jean-Luc Godard, que em 2013 recusou premiação em Cannes, em solidariedade ao povo grego, lembrou em entrevista ao The Guardian, que toda a humanidade está em dívida com a Grécia. “Os gregos nos deram a razão, devemos isso a eles. Aristóteles foi o primeiro a conceituar a palavra ‘portanto’, e usamos essa palavra milhões de vezes para tomar nossas principais decisões. É hora de começar a pagar por isso”. E concluiu: “Angela Merkel diz: ‘Nós te emprestamos dinheiro, portanto vocês terão de pagar’, mas ela é que deveria ser a primeira a pagar os direitos autorais por isso”.

Talvez o Syriza abrace o financiamento colaborativo para viabilizar o futuro do país. Talvez os credores e ministros europeus afrouxem as cordas que o estrangulam. Talvez essa história seja mais complicada que aprender grego. Mas é inegável que as atitudes introduzidas no jogo reoxigenam a democracia em busca de outras soluções, diferentes daquela que, está provado, só traz sofrimento: mais austeridade.

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