Curso: para enxergar História e Cultura indígenas em SP

Centenas de índios protestam em S.Paulo, em outubro de 2013, contra tentativas de frear demarcação de suas terras. Curso demonstrará que presença dos povos originários é marcante também no quotidiano da metrópole

Centenas de índios protestam em SP (2013), contra tentativas de frear demarcação de suas terras. Presença dos povos originários é marcante também no quotidiano da metrópole

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Última edição do ano. Investigue neste fim de semana (25 e 26 de outubro) – na redação de “Outras Palavras” e nas ruas do centro – a vasta presença dos índios na metrópole. Saiba como não ser indiferente a ela

Por Antonio Martins

Num texto recente, o linguista e dissidente norte-americano Noam Chomsky notou que os governos e mídia alinhados a Washington precisam efetuar uma operação ideológica especial, para justificar a agressão permanente praticada por Israel contra os palestinos. Implica tratá-los como impessoas (“unpeople”). Só tornando-os invisíveis é possível apoiar Telaviv e considerar-se, simultaneamente, partidário da Democracia e dos Direitos Humanos.

Neste fim de semana, em São Paulo, será possível compreender e debater um fenômeno semelhante: a invisibilização dos povos indígenas brasileiros. Num curso em duas etapas – conceitual no sábado, prática-peripatética, no domingo – o historiador Carlos José Santos abordará a presença dos povos originais no coração metrópole. Além disso (e talvez mais importante), fornecerá elementos para reenxergá-los, invertendo o processo descrito por Chomsky. Autor de diversos livros e artigos sobre a tentativa de dominação simbólica dos oprimidos, também doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, Carlos é professor na Universidade Federal de Santa Cruz, em Ilheus-BA. Indígena ele próprio, participa ativamente das lutas pela demarcação da terra tupinambá, na região. Estará acompanhado de quatro líderes deste movimento, o que permitirá, além de tudo, um debate sobre a relação atual entre o Estado brasileiro e os povos indígenas.

O curso é intenso. Em sua parte conceitual (no sábado, das 9h às 16h, na nova sede de Outras Palavras, no Bixiga), constituída de quatro módulos (veja programação ao final do post), procura identificar e desconstruir os processos sociais e as ideias que tornam os povos indígenas invisíveis no Brasil. Do ponto de vista material, eles são levados a se dissolver na cidade. Uma parcela ínfima dos paulistanos conhece, por exemplo, as aldeias guaranis no município – ademais, convertidas em favelas; ou sabe que há pelo menos seis povos com presença sólida na metrópole (guaranis, terenas, caigangues, pancararus, pancararés e tupinambás).

Mas Carlos debaterá, além deste, o aspecto simbólico da invisiblização. Para desaparecerem de fato, os povos indígenas precisam ser reduzidos a caricaturas. Associâmo-los a imagens como a choupana ou o corpo nu. Não nos damos conta que permanecem presentes em nossa cultura e sociedade. Foram destituídos de seu território e de parte de seus costumes – mas não de sua singularidade. É perfeitamente possível identificá-la em nossas cidades – mas para isso, é preciso superar conceitos homogenizantes, como a própria palavra “índio”.

A exposição e debate teóricos do sábado serão aplicados no domingo. Os participantes irão se encontrar às 14h, no Páteo do Colégio e percorrer as ruas do Centro. Poderão desvendar elementos vivos da presença indígena exatamente no ponto onde se deu o primeiro choque entre o colonizador e os habitantes originais da terra. Ao final, haverá roda de conversa com os participantes da luta pela demarcação das terras tupinambás no Sul da Bahia.

Dirigido a todos os interessados em examinar a fundo as culturas indígenas (inclusive professores dispostos a apresentá-las curricularmente a seus alunos), o curso oferece certificado de participação. A taxa de inscrição é R$ 150 e inclui documento valioso: um CD com textos, fontes, biografia, fotos, mapas, músicas e vídeos sobre as temáticas tratadas. Professores, estudantes e ativistas de movimentos sociais — além de participantes do programa Outros Quinhentos e colaboradores editoriais de Outras Palavras — pagam R$ 100. É possível parcelar em duas vezes. As vagas são limitadas. Inscrições podem ser feitas por email ([email protected]) ou formulário disponível em página no Facebook.

História e Culturas Indígenas e a cidade de São Paulo:

Abordagens, pesquisas e possibilidades de ensino (Lei 11.645)

SÁBADO, 25/10, das 9h às 16h

Na sede de Outras Palavras

Rua Conselheiro Ramalho, 945 – Bixiga – São Paulo (veja mapa)

> Apresentação

A importância do estudo sobre as histórias, culturas e saberes indígenas

 > Módulo I

Conceitos iniciais e a palavra índio / e com a palavra, o índio

– História como um conhecimento construído

– Cultura e suas variações

– Espaço, território e lugar

– Etnia, religião/religiosidade, rituais

– História, memória e oralidade

> Módulo II

De terra de índios à “invenção” do Brasil: o caso de São Paulo

– Presença identitária indígena

– O “achamento do Brasil”: “Paraiso” e ou “Inferno”

– Aldeias e Aldeamentos: imposições, resistências e ou reelaborações

– “Demốnios e Querubins”

– “Índios e as terorias raciais

 > Módulo III

Os povos indígenas, suas lutas e relações com o Estado brasileiro

– Colônia, Império e República: entre o extermínio, afastamento e tutela sobre os índios

– Diferentes formas de reelaborar as existências indigenas

– Os “ressurgimentos” e resistências indígenas

 > Módulo IV

Encontros, desencontros e estranhamentos: Quem é Índio?

– O que significa ser índio no Brasil?

– Índio ou Povos Indígenas?

– Educação, escola indígena e ensino das Histórias / Culturas indígenas

– Lei 11.645/2008: a “lei tarda mas não”?

Domingo, 26/10, das 14 às 16h

Páteo do Colégio

> Aula de Campo

No centro de São Paulo, partindo do Páteo do Colégio e caminhando por territórios que são vestígios da presença indígena em São Paulo

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2 comentários para "Curso: para enxergar História e Cultura indígenas em SP"

  1. Claudine Melo disse:

    Conheço o prof. Dr. Carlos José, mais conhecido como Casé Angatu, como ele mesmo gosta de ser chamado, seu nome indígena, e fiquei muito contente ao saber que Outras Palavras abriu as portas para esse encontro, curso que já fiz e indico para todos que querem se aprofundar no assunto com propriedade. Desejo saber se outras matérias foram publicadas sobre esse encontro, se houve cobertura, e se está havendo acompanhamento das notícias sobre o Seminário Caboclo Marcelino, que está acontecendo em Olivença/Ba, entre os dias 24 e 28/09? Grata se puderem nos atualizar, visto que o assunto interessa a muitas outras pessoas, como percebi ao ler os comentários elogiosos a respeito do trabalho e da militância do professor Casé Angatu!

  2. Osmir Dombrowski disse:

    Gostaria muito de participar do curso, mas estou a1000 km de distância. Ainda assim, se for possível, gostaria de conhecer as referências bibliográficas que serão usadas. Será que alguém poderia me mandar um email listando a bibliografia do curso?

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