Comissão da Verdade: por que calam os militares?

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Hipótese perturbadora: e se as Forças Armadas — onde já quase não há envolvidos com a ditadura — tiverem assumido o regime de exceção como parte de seu papel institucional?

Por Keytyane Medeiros

Em vias de concluir o relatório final de atividades, com entrega prevista para 16 de dezembro de 2014, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) ainda encontra dificuldades para apurar documentos sobre o regime militar. A colaboração das Forças Armadas tem sido questionada pelo Ministério Público Federal e pelo coordenador da CNV, Pedro Dallari, que acredita que “até hoje [as Forças Armadas] não reconheceram a sua responsabilidade institucional pelas graves violações de direitos humanos”, como disse em entrevista concedida à Carta Capital.

Responsável pelo Centro de Comunicação Social do Exército, o general Rêgo Barros alega que “o Exército tem atendido as demandas da Comissão Nacional da Verdade dentro dos ditames legais vigentes” e que as Forças Armadas nunca se colocaram contra os trabalhos da Comissão. No entanto, em 25 de fevereiro de 2014, o comandante geral do Exército, general Enzo Peri, encaminhou ofício a todos os quartéis do país determinando que qualquer pedido de informação sobre o período que compreende a ditadura militar, de 1964 a 1985, seja respondido exclusivamente por seu gabinete. Para o general Rêgo Barros, a decisão de Peri “trata-se de [medida de] gestão administrativa da Força, não de uma decisão pessoal”.

Mas, para o presidente da Comissão da Verdade “Irmãos Petit”, de Bauru (SP), o capitão reformado do Exército, ex-preso político e anistiado Carlos Roberto Pittoli, a falta de colaboração das Forças Armadas nos trabalhos do CNV não é recente. O ex-preso político lembra que a formação dada nas Escolas Militares é até hoje “antidemocrática e forma turmas com visão sobre o Golpe como se fosse a Revolução de 1964. Sendo assim, as Forças Armadas têm colaborado com o trabalho da Comissão Nacional? Não”, afirma. Ainda segundo Pittoli, “as Forças Armadas hoje não têm um grande número de oficiais culpados pelos crimes da ditadura, mas os oficiais formados hoje defendem os crimes, não como crimes cometidos em âmbito pessoal, mas como políticas executadas pela instituição”.

Pittoli lembra que a sociedade e a Comissão Nacional querem a reconciliação, mas é preciso que os documentos sejam entregues e a Lei da Anistia seja alterada. De acordo com ele, “a reconciliação passa também pelo pedido de desculpas das Forças Armadas”. Sobre o ofício do general Peri, Pittoli é categórico: “ele fez um juramento para respeitar as leis e a Constituição desse país. Ao evitar o acesso à informações e proibir que outras pessoas também as forneçam, o general está agindo contra o seu juramento e contra a representante máxima do país, que é a presidenta. Existe uma lei que cria a CNV, assim, ao atrapalhar as atividades da Comissão, o general está ferindo a lei.”

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5 comentários para "Comissão da Verdade: por que calam os militares?"

  1. Os militares, as Forças Armadas Brasileiras por sua vez, não pensam e não querem assumir novamente, voltaram a assumir constitucionalmente suas patrióticas funções, sobretudo, continuam com os seus olhos bem abertos: ” Um olho no gato e o outro no peixe”. Por nossa vez, devemos respeitar e honrar nossas Forças Armadas e nunca denegri-la…

  2. Paulo Santos disse:

    Tenho lido muito sobre bolsa-ditadura. Não houve ditadura – havia paz! O nome correto deve ser Bolsa-terrorismo.

  3. Dan Moche Schneider disse:

    Pedro Cunha, aqueles a quem você chama de “terroristas e canalhas” (daqui de longe dá pra ver o tamaaaanho do teu coração) são heróis brasileiros, valentes, que se insurgiram contra aqueles que derrubaram um governo democraticamente eleito. Acho que você não gosta da nossa presidenta mas, mais uma vez, a maioria vai votar nela. E ela irá governar. Se pessoas a quem você admira, mais uma vez, pelo uso da força, e não do voto, pelo uso do terror, e não do convencimento, não impedirem. Muita luz pra você.

  4. anônimo disse:

    Ontem à noite, 22/09/2014, no Hospital Central do Exército, o Diretor, General Vitor Cesar, comandou pessoalmente uma operação de remoção o ocultação de ossadas que se encontravam armazenadas no Serviço Médico Legal do hospital. As caixas com as ossadas foram removidas para as instalações do Contingente do HCE, localizado no final da Rua Abdala Chama.

  5. Pedro Cunha disse:

    Essa comissão da “verdade” é uma grande safadeza, só investiga os militares e coloca como heróis terroristas e canalhas da pior espécie, mentindo descaradamente, o que dizer de quem admira FIDEL CASTRO e esta envolvido com o INFAME FORO DE SP, vejam no YOUTUBE e tambem PNDH3, decreto 8243…
    Se não houver nova intervenção militar nós, nossos filhos e netos serão escravos dessa organização criminosa internacional.

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