SP: coletivos ampliam Virada Sustentável

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Grupos articulam luta pela ocupação do espaço público na metrópole, programando sábado de debates e domingo de mutirão na Ilha do Bororé, quase desconhecida

Por Carol Gutierrez

Dia 30 e 31 de agosto, São Paulo viverá, com a Virada Sustentável 2014, um encontro sobre ocupação do espaço público e direito à cidade. Mas o evento, na verdade, reconhece algo que começou há muito. Coletivos de toda São Paulo vem se reunindo há mais de um mês para fomentar o debate, as conexões e atuações em rede.

No próximo sábado (30), os coletivos se reunirão no Largo da Batata e participarão de programação diversa: rodas de conversa, piquenique comunitário, atividades lúdicas e culturais, instalações e conexões envolvendo diferentes grupos e pessoas (veja a programacão completa aqui)

Na ocasião, estarão presentes diversos coletivos de ação político-cultural. Já no domingo, els partem para a mão na massa com um mutirão de revitalização das casinhas da Ecoativa, na Ilha do Bororé – na represa Billings, extremo sul de São Paulo. Após mutirão, o local passará a servir como sede comunitária para atividades culturais da região: abrigará o grêmio estudantil da escola, a associação de moradores e um grupo de escoteiros da região (assista ao vídeo abaixo).

Carolina Tarrio, mobilizadora e articuladora do movimento Conexões de Ocupação, concedeu entrevista para a equipe de cobertura colaborativa da Virada Sustentável. Confira:

O que é o Conexões de Ocupação?

O Conexões de Ocupação é um encontro de diversos grupos, movimentos e coletivos que trabalham com o tema do direito à cidade e da ocupação do espaço público em São Paulo. Esse encontro vai acontecer em dois dias: um de reflexão e outro de ação.

No dia 30/8, das 14 às 22hs, no Largo da Batata, teremos uma grande mostra do que são, o que fazem e como pensam esses grupos, com diversas atividades. Vai haver piquenique e oficina de construção de brinquedos com o Movimento Boa Praça; oficina de sonhos, lançando às pessoas a pergunta “o que você sonha para a cidade?”, com o Acupuntura Urbana; exposição de fotografias antigas e atuais do Largo da Batata, numa iniciativa da Subprefeitura de Pinheiros e do grupo Não Largue da Batata; projeção de curtas metragens em empenas de prédios feita pelo grupo Film System; música, happenings e muito mais.

No dia 31/8, na Ilha do Bororé (represa Billings, zona sul de São Paulo), esses  grupos vão se reunir para um mutirão que vai recuperar uma casa. Esse loca passará, após a revitalização, a servir como sede comunitária para atividades culturais. A ideia é provar que, juntos, em pouco tempo, é possível dar nova vida a locais abandonados. E o que é melhor, em parceria com a comunidade. Isso dá à reforma outro sentido – cria apropriação e faz com que os locais sejam melhor conservados (confira programação)

Qual a importância desse encontro durante a programação da Virada Sustentável?

O encontro e a articulação dos diversos grupos que vêm atuando em São Paulo, seja mais recentemente ou há vários anos, é essencial. Agindo juntos, estando  juntos, o impacto de suas ações individuais é potencializado. É possível criar soluções para problemas comuns e inclusive pensar em uma agenda comum — seja de debates, de revitalizações, de intervenções pela cidade. É possível pensar em demandas e em propostas comuns. Tenho certeza que, se somarmos as ações desses cerca de vinte grupos entre a Virada Sustentável do ano passado e a deste ano, encontraremos números impactantes. São milhares de atividades culturais, de recuperações de locais como praças e edifícios, de locais pensados e discutidos, de mobiliários criados. Não tenho problema em dizer que esses grupos, que às vezes contam cada um com cinco, seis pessoas no máximo, trabalhando na maioria das vezes de modo voluntário, já fizeram mais do que muitas autarquias do poder público pela cidade – sem demérito ao poder público, que, em muitos casos, trabalha em parceria, como deve acontecer!

Como foi a “curadoria” | processo de conexão dos coletivos que participarão da Virada Sustentável?

Alguns dos grupos e coletivos se conheceram durante a Virada Sustentável 2013 e seguiram agindo juntos. Outros vieram se somar este ano, seja por meio das chamadas e inscrições que a Virada Sustentável fez ou por convites abertos que divulgamos via internet. Até chegar ao formato deste ano, foram realizadas duas reuniões, uma no auditório de uma escola e outra ao ar livre, na Praça Roosevelt.

Na sua opinião, como as ações e movimentos espontâneos dos diversos coletivos que lutam pelo direito a cidade e ocupação de espaço público podem pautar – se escutados – a formulação de politicas públicas?

Acho que todos os grupos podem contribuir – e muito – a partir de suas próprias experiências. Isso ajuda a abrir canais de comunicação com o poder público, que levem a políticas baseadas nas necessidades das pessoas, em seu real desejo. A população raramente é perguntada sobre o que quer quando se opera uma mudança na cidade – seja urbanística, arquitetônica, de mobiliário, de trajeto, de mobilidade. Mas ela é tremendamente impactada! E, não raro, o que deseja e as soluções que apresenta são mais simples e baratas do que as planejadas dentro de gabinetes.

Como membro do Movimento Boa Praça, como você enxerga e acompanha as ações de ocupação do espaço público em SP? Se fosse fazer um exercício de prever o futuro e desencadeamento dessas iniciativas, para o que elas estariam apontando?

O Movimento Boa Praça começou em 2008, propondo algo absolutamente básico, que, há seis anos, era visto por muita gente como uma loucura: que as pessoas ocupassem as praças próximas de suas casas, que as utilizassem e, a partir dessa ocupação, pensassem e articulassem melhorias para elas. Não as melhorias de uma empresa que vem e coloca uma plaquinha, como gramar tudo. Mas pensasse em mudanças que as atendessem, que fizessem sentido, que ajudassem a criar laços de vizinhança, a devolver às praças seu propósito inicial: o de locais de lazer, debate, inclusão. A gente convidava as pessoas para fazer um piquenique muitas vezes em uma praça detonada, convidava todos para ir lá e falar da situação, catar o lixo, para pensar junto no que fazer.

Muitos nos olhavam como se estivéssemos fora de nosso juízo por levar nossos filhos para brincar nesses lugares, por propor essas atividades. Hoje, eu vejo que a mentalidade com relação à cidade avançou. Na praça em frente à minha casa ocorrem piqueniques espontâneos, comemorações de aniversário, brincadeiras. E, ao perguntar às pessoas o que queriam, obtivemos respostas absolutamente fantásticas. Várias das crianças de uma escola estadual que fica em frente à praça pediram, por exemplo “mesas para estudar e fazer a lição na praça, porque em casa era muito quente e barulhento”.

Sou muito otimista! Hoje vejo várias pessoas utilizando praças, parques e ruas para se encontrar, entendendo que quanto mais gente houver do lado de fora, mais seguras essas praças e ruas serão, combatendo a paranoia paulistana que tudo encastela, que tudo cerca com muro. Olhando para 2008, eu acho que temos hoje uma cidade melhor. Claro que ela é complexa, multifacetada, contraditória, mas vejo muita gente com vontade de viver de outro jeito, de fazer de São Paulo um lugar mais humano. E acho que tudo caminha para que a gente consiga isso no futuro: uma cidade com mais áreas verdes, mais ciclovias, mais eventos culturais nas ruas, mais conexão entre as pessoas.

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