Tablets e celulares, máquinas da desigualdade?

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Ativistas digitais alertam: pode estar surgindo acesso à internet de segunda categoria, que limita poder de criação dos mais pobres, para reduzi-los a meros consumidores

Por Gabriela Leite

Tablets e smartphones foram vistos com frequência nos últimos anos, como grandes ferramentas para democratização da internet. Relativamente baratos (88 modelos vendidos no Brasil custam menos de R$ 500), utilizam aplicativos que economizam banda de conexão e são incomparáveis em portabilidade. Agora, porém, estas vantagens estão sendo relativizadas por um número crescente de ativistas que lutam pelo livre acesso à rede. Ouvidos num texto recente, da revista Salon, eles sustentam: sob o manto de uma popularização ilusória, pode estar surgindo um novo apartheid digital. Nele, uma elite usufrui plenamente as possibilidades da rede, enquanto cria-se, para as maiorias, um uso de segunda categoria, que consiste basicamente em consumir o que os outros criam.

Larry Ortega, um dos ativistas ouvidos, explica que não se trata de condenar o aparelhos de acesso móvel à internet — mas de constatar as limitações impostas a quem se comunica exclusiva ou principalmente por parte de celulares e tablets. Neles, é muito difícil, ou mesmo impossível, desenvolver atividades refinadas: escrever um texto não-sumário, editar um vídeo, por exemplo — ou mesmo ações mais prosaicas e ligadas ao mercado, como preencher uma proposta de emprego online.

Ortega argumenta que o acesso à internet deve significar uma melhora na qualidade de vida e participação social dos seres humanos. Para ele, simplesmente passar um dia inteiro vendo vídeos no YouTube não é expressa nenhuma melhora significativa. Quem só consome, e não cria nada na rede, passa a ter uma relação meramente passiva, assim como acontece com a televisão.

Na “segunda categoria”, pobres e negros: Os ativistas citados por Salon revelam que, nos Estados Unidos, há nítida correlação entre as duas “categorias” de usuários e as relações de classe social e etnia. Em todo o país, cerca de um terço dos usuários da internet conecta-se “principalmente por celulares”. Mas este tipo de internauta é duas vezes mais frequente entre os negros e hispânicos que entre os brancos. A mesma discrepância repete-se quando se comparam usuários com renda anual em torno de 30 mil dólares com outros que ganham U$ 75 mil.

O cenário parece repetir-se no Brasil. Estudo recente do IBOPE Media revelou que, 53 milhões de pessoas acessam a internet pelo celular. Tablets e smartphones são meios utilizados por 56% dos usuários para entrar na rede, mostra pesquisa do IAB Brasil. E embora a maioria dos usuários brasileiros da internet use pelo menos dois dispositivos (além dos aparelhos móveis, também desktops, notebooks, videogames e outros), dois em cada três acessos é feito por smartphones (projeções para 2012).

Como enfrentar o problema? Stephanie Chen, outra ativista ouvida por Salon, não tem dúvidas em apontar a garantia do acesso universal à banda larga. Para ela, que participa do Greenlining Institute (uma organização em favor de justiça racial e étnica), o Estado deve reconhecer e assegurar a conexão em banda larga como necessidade e direito básico — assegurado, portanto, a todos, independente de capacidade financeira.

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