Metrô-SP, em crise, admite: trens abriram portas em movimento

Após três meses de silêncio, empresa do governo paulista admite ocorrência, que considera “normal”. Matérias revelam sucessão de falhas, cada vez mais graves

descarrilamento metrô (1)

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Por Tadeu Breda, da RBA e Vinicius Gomes

A Companhia do Metropolitano de São Paulo admitiu, em nota enviada à reportagem na tarde de ontem (12), que duas composições do Metrô realmente abriram portas em movimento nos últimos dias 1º e 2 de novembro. E argumentou que é “normal” as portas se abrirem antes da imobilização completa do trem.

Ocultado pela empresa, o defeito foi denunciado por RBA e Outras Palavras na última quinta-feira (7), com base no relato de funcionários e no registro de falhas da própria companhia. Por isso, o Metrô não teve como negá-las. As panes aconteceram nas estações Pedro II e Belém, na Linha 3 Vermelha, e acometeram dois trens recém-reformados pelo consórcio MTTrens. As composições pertencem à chamada frota K, recordista em problemas.

“Os dados do registrador de eventos, dispositivo que grava toda a operação dos trens, como as caixas pretas nos aviões, mostram que as portas abriram dentro da janela de segurança e dentro das características da operação normal”, reconhece a nota, argumentando se tratar de algo corriqueiro no sistema. “Não houve ocorrência que oferecesse risco aos usuários da rede metroviária. As portas abrem antes da parada e imobilização completa do trem, quando a velocidade é bem reduzida.”

De acordo com o Metrô, tanto na estação Pedro II como na estação Belém, a velocidade dos trens no momento da abertura das portas era de apenas 1 km/h. Informações obtidas pela reportagem junto a funcionários da empresa, porém, mostram que, na realidade, pelo menos uma das composições trafegava a 3 km/h – o número está comprovado por um membro da equipe de manutenção que analisou o equipamento.

A diferença entre 1 km/h e 3km/h é residual, mas aponta para uma normativa da empresa que preocupa os metroviários. A nota enviada pelo Metrô atesta que a companhia aceita que portas se abram antes da frenagem completa das composições. Procurados pela reportagem, funcionários explicam que essa tolerância se estende a trens trafegando com velocidades nem tão reduzidas assim: até 6 km/h.

“Portas se abrindo com a composição na plataforma a 6 km/h não me parece nada seguro. As pessoas podem simplesmente cair”, afirma um operador, que não quis se identificar por medo de represálias. “Na verdade, se as portas se abrirem com o trem em movimento, a qualquer velocidade, pode causar acidentes. Imagina se o trem anda 20 metros com portas abertas a 6 km/h. Há riscos.”

Mas o Metrô insiste: “Essa abertura é prevista e não afeta a segurança dos passageiros.” No entanto, e apesar de supostamente não representar riscos aos usuários, as duas composições foram evacuadas nos dias 1º e 2 de novembro, logo após as falhas. E os vagões que abriram as portas acabaram “isolados” – ou seja, ficaram proibidos de receber passageiros. Então, se dirigiram ao pátio. Um deles permaneceu alguns dias retido para análise da Comissão Permanente de Segurança.

Histórico

É a primeira vez em mais de três meses que o Metrô responde a pelo menos uma das questões enviadas por RBA e Outras Palavras sobre as sucessivas panes do sistema. Desde agosto, uma série de reportagens indica a ocorrência rotineira de falhas nos trens fornecidos por empresas acusadas de formação de cartel para burlar editais de concorrência para modernização da frota e ampliação da malha metroferroviária em São Paulo. Membros da administração tucana no estado fariam parte do conluio.

Os problemas que relatamos têm atingido sobretudo composições que operam na Linha 3 Vermelha, que liga a capital de leste a oeste. Os trens pertecem à frota K, reformadas há menos de três anos pelo consórcio MTTrens. O pool empresarial é liderado pela companhia TTrans, envolvida nas denúncias de formação de cartel enviadas por uma delas – a alemã Siemens – ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Além dos trens que abriram portas em movimento no início do mês, pertence à frota K a composição que descarrilou em 5 de agosto, nas proximidades da estação Barra Funda, na zona oeste. O vagão que saiu dos trilhos foi arrastado, provocando curto circuitos. Também faz parte da frota K o trem que abriu portas do lado errado na estação Santa Cecília, em 2 de outubro, expondo passageiros ao risco de caírem no trilho eletrificado.

Em 27 de agosto, RBA e Outras Palavras noticiaram que o Metrô coloca em circulação as composições reformadas pela MTTrens mesmo quando estão com defeito. Diante das falhas sucessivas na frota K, essa tem sido a maneira encontrada pela companhia para atender à população em horários de pico.

Publicamos ainda um levantamento informal realizado por metroviários da Linha 3 Vermelha, que atestam: embora novos, os trens fornecidos pelas empresas do cartel apresentam quantidade de defeitos até quatro vezes maior que as composições antigas, com cerca de 30 anos de uso. Algumas chegam a registrar média de 35 problemas técnicos por dia.

Confira a íntegra da nota enviada pelo Metrô:

Em relação à matéria sobre “falhas” que teriam ocorrido em trens da Linha 3 Vermelha nos dias 1º e 2 de novembro, a Companhia do Metropolitano de São Paulo esclarece que, ao contrário do que quer fazer acreditar o texto, não houve ocorrência que oferecesse risco aos usuários da rede metroviária da cidade de São Paulo, seja em trens da frota K ou de qualquer outra frota em operação.

Os dados do registrador de eventos, dispositivo que grava toda a operação dos trens, como as caixas pretas nos aviões, mostram que as portas abriram dentro da janela de segurança e dentro das características da operação normal. As portas abrem antes da parada e imobilização completa do trem, quando a velocidade é bem reduzida. Nos dois casos, a velocidade era de 1 km/h em ritmo de parada. Essa abertura é prevista e não afeta a segurança dos passageiros. A segurança dos usuários é uma prioridade para o Metrô.Os profissionais de manutenção do Metrô são altamente qualificados e passam por constantes capacitações e atualizações. As atividades de manutenção preventiva de trens, equipamentos e vias acontecem regularmente, conforme o Plano de Manutenção Preventiva e por meio de protocolos de procedimentos técnicos que atendem com rigor as normas nacionais e internacionais, as especificações técnicas e as recomendações de fabricantes.  É por esse motivo que o Metrô de São Paulo conquistou uma posição de referência mundial em eficiência e qualidade no transporte de passageiros sobre trilhos.
COMPANHIA DO METROPOLITANO – METRÔ SP

Departamento de Imprensa – CMI

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2 comentários para "Metrô-SP, em crise, admite: trens abriram portas em movimento"

  1. Não publicaram, né? – Eu já imaginava…

  2. Rafael disse:

    eu já vi as portas abrirem na estação sacoma, da linha verda. e era um dos trens mais antigos, nao desses novos. o metro tinha acabado de chegar na plataforma e eu ia descer no sacoma, entao as portas ficaram abertas com o metro em movimento por uns 4 segundos antes da parada. não credito que, quando abriu, estava a 1km/h, ou 2km/h, devia estar com mais velocidade.

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