Empresa sonega informações ao público

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Registro de comunicação entre repórter e Companhia do Metrô revela: há intenção clara de recusar informações e despistar de forma primária investigação jornalística

Por Antonio Martins e Tadeu Breda*

Apenas nas últimas 24 horas, o metrô de São Paulo viveu duas novas ocorrências graves – uma delas com feridos. Antes das 5h da manhã desta quinta-feira (05/09), um trem que percorria a linha 3 (Leste-Oeste) teve falha nos freios, soltou forte fumaça na estação Sé e precisou ser esvaziado. Em horário normal, o fato teria gerado forte transtorno. Já na quarta-feira, um acidente ainda não esclarecido na esteira rolante que liga as estações Paulista (linha 4) e Consolação (linha 2) provocou ferimentos em vinte pessoas. Dez delas foram hospitalizadas. Houve pânico no local, frequentemente superlotado. Não há, no entanto, nenhuma informação a respeito, nos sites da Companhia do Metrô ou da Via4 (que administra a linha 4, privatizada).

Durante décadas, o metrô paulistano foi conhecido por sua excelência. Agora, diante dos sinais evidentes de crise na manutenção, os responsáveis pelo sistema parecem ter adotado uma política deliberada de sonegação de informações. Elas são coletadas: Metrô e Via4 fornecem em tempo real, em seus sites, dados sobre situação instantânea das linhas (1 2). Há algum tempo, após o aumento do número de falhas, o Metrô implantou inclusive um sistema que imprime automaticamente “declarações de ocorrência”, que podem ser impressas e apresentadas para justificar atrasos.

Mas a informação mais importante é ocultada. Qual a evolução exata do número de falhas? Para apurá-la, bastaria tabular as informações instantâneas, fornecidas dia a dia. Além de não fazê-lo, o metrô exclui de seu site, a cada dia, as ocorrências da véspera – o que impede tabulação independente.

Pior: quando questionada especificamente sobre falhas, a empresa recusa-se a responder. Prefere oferecer à imprensa dados genéricos e ufanistas, sem nenhuma precisão técnica. A comunicação registrada abaixo registra esta manobra. Em 22 de agosto, o repórter Tadeu Breda enviou à assessoria de imprensa da Companhia do Metrô um conjunto de questões concretas e específicas, copiadas a seguir. Outras questões foram enviadas nos dias 26 e 30 de agosto. Eis o conjunto das indagações:

> Qual foi o motivo oficial do acidente do último dia 5 de agosto? Foram problemas no truque, como tem sido noticiado? Se sim, que problemas foram esses?

> O trem acidentado foi mesmo o K07? Se sim, quando ele foi reformado? Qual foi a empresa ou consórcio responsável pela reforma? Se foi um consórcio, que empresas fazem parte dele? Qual foi o valor da reforma do trem acidentado?

> Por que o representante do Metrô na Cipa de Operação, Antonio Carlos Palácio, negou-se a chamar uma reunião extraordinária da Cipa para discutir o descarrilamento?

> Qual o valor de todo o contrato de reforma dos trens que entraram no mesmo pacote do trem acidentado no dia 5 de agosto? Quantas composições foram, estão sendo e serão reformadas? De quais linhas?

> A que velocidade estava o trem que descarrilou dia 5 de agosto? É a velocidade normal para o trecho?

> Quantas Cipas estão em atividade no Metrô? Quais são elas?

> Quem está conduzindo a sindicância ou investigação sobre as causas do acidente do dia 5 de agosto? É a Copese? Quem faz parte da comissão investigadora? Há representantes dos trabalhadores, do sindicato ou das Cipas?

> O relatório que se originar da investigação da Copese será público? Em casos anteriores, foi?

> Já houve descarrilamentos na história do metrô? Quantos? Quando? Quais? Houve vítimas? Houve reunião extraordinária da Cipa para discutir cada caso?

> Já houve quebra do truque como esta do dia 5 de agosto?

> Quais foram as reuniões extraordinárias de Cipas que já ocorreram na empresa? Por quais motivos?

> É verdade que a maquinista que conduzia o trem durante o acidente não percebeu o descarrilamento porque nenhuma indicação na cabine de controle indicou que o trem havia saído dos trilhos?

> É verdade que, devido a imperfeições na via, o sensor de descarrilamento dos trens do metrô permanecem desligados?

> O Metrô está impedindo que os funcionários e o sindicato vejam a peça danificada no acidente do dia 5 de agosto?

A empresa manteve total silêncio exatos doze dias. Ao final deles, enviou a seguinte nota, em que não responde a nenhuma das questões formuladas – preferindo substituí-las por propaganda repetitiva e imprecisa.

À Rede Brasil Atual

Repórter Tadeu Breda

Segue o posicionamento da Companhia do Metrô em resposta as três demandas encaminhadas no mês de agosto:

O Metrô de São Paulo é reconhecido internacionalmente como um dos melhores do mundo. Recebeu em 2012 o prêmio de Melhor Metrô das Américas, concedido The Metros Awards, a principal premiação do setor metroviário internacional, pelo alto índice de confiança, segurança e regularidade.

Diariamente, a Companhia do Metrô de São Paulo transporta 4,6 milhões de passageiros em suas cinco linhas: 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha, 4-Amarela e 5-Lilás. São 74,3 quilômetros de extensão, 64 estações e uma frota de 164 trens.

Com um índice de disponibilidade de 99,08% dos trens nos horários de pico, o Metrô de São Paulo mantém a regularidade de intervalos assegurando aos usuários a confiabilidade na prestação do serviço.Diariamente, são realizadas 3.714 viagens em todas as linhas do Metrô-SP. 

A expansão e a modernização do Metrô são prioridades do Governo do Estado de São Paulo, que executa atualmente quatro obras simultâneas de construção e ampliação de linhas. São elas: 4-Amarela (Vila Sônia-Luz), 5-Lilás (Largo 13-Chácara Klabin), 15-Prata (Vila Prudente-Cidade Tiradentes) e 17-Ouro (Aeroporto de Congonhas-Morumbi). Ainda em 2013, poderão ser iniciadas mais três linhas: a extensão da 2-Verde (Vila Prudente a Dutra), em licitação já em andamento; 18 Bronze (Tamanduateí e a Região do ABC) e a 6-Laranja (Brasilândia – São Joaquim), ambas em licitação no modelo de parceria público-privada.

O Metrô se estruturou com a compra de novos trens, redução de intervalos e oferta de novas viagens para atender o crescente aumento de demanda de usuários. Nos dois últimos anos, mais de 1 milhão de passageiros passaram a utilizar o sistema metroviário, o que representa um aumento de 25%. Somente o número de viagens passou de 1,1 milhão por ano em 2010 para 1,2 milhão em 2012.

O transporte metroferroviário é o mais rápido, confiável e econômico para a população. Com uma tarifa integrada de R$ 3, igual a dos ônibus urbanos do município, o Metrô paulista oferece aos seus usuários uma rede de 335 quilômetros de extensão, já que tem interligação gratuita com a CPTM em várias estações.

Em relação à ocorrência na Linha 3, a Companhia do Metrô de São Paulo esclarece que a Comissão Permanente de Segurança está apurando as causas do incidente com um trem da Frota K, ocorrido em 05/08.  Enquanto os trabalhos não forem concluídos, qualquer afirmação sobre as causas é prematura e irresponsável.

A maioria das falhas registradas nos trens da Companhia do Metrô, sejam esses trens novos, já modernizados ou programados para futura modernização, são problemas nos sistemas de portas, iluminação, som e ventilação/ar condicionado, que não comprometem a segurança dos usuários e que, em muitos casos, são resolvidos durante a viagem dentro do horário comercial com a pronta intervenção das equipes de manutenção.

Departamento de Imprensa do Metrô

Departamento de Imprensa – CMI

Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô

Fone: (11) 3291-9801 / Fax: (11) 3291-9807

E-mail: [email protected]

www.metro.sp.gov.br

Diante do ocultamento evidente de informações, Outras Palavras e a Rede Brasil Atual protocolarão, nos próximos dias, um pedido formal de acesso à informação, recorrendo à Lei de Acesso à Informação, promulgada em 16 de maio de 2012, e que obriga a todos os órgãos da administração pública, como o Metrô, a fornecerem dados a qualquer cidadão.

*Tadeu Breda é repórter da revista Rede Brasil Atual

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Um comentario para "Empresa sonega informações ao público"

  1. André disse:

    Caros Antonio e Tadeu
    Além de oportuno, creio que o jornalismo investigativo sobre transporte coletivo é um instrumento indispensável para organizar aquela que foi, a um ver, a mais forte reivindicação dos movimentos populares de julho: a qualidade do transporte coletivo. A defesa do transporte coletivo de qualidade é uma pauta política de amplo poder transformador, na medida em que reivindica uma alternativa eficaz ao transporte individual por automóvel privado. Isto é, uma alternativa à “civilização do automóvel”. O alcance é muito grande, e vai desde a qualidade ambiental, até os leilões de petróleo, passando pela estrutura industrial e composição do mercado de trabalho. A meu ver, devemos trabalhar para que essa seja uma pauta permanente de Outras Palavras. Abraço, André.

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