Muito mais grave que Belo Monte

Parque Nacional da Amazônia, cartão postal da floresta e um dos oito que podem ser atingidos: quase 1 milhão de hectares, 99% dos quais de floresta densa

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Hidrelétrica projetada para Rio Tapajós, no Pará, pode ser a quarta maior do país – e abrir clareira do tamanho de São Paulo numa das áreas de maior biodiversidade do planeta

Por Antonio Martins

São Luiz do Tapajós: os movimentos que lutam por uma uma nova política energética e pelas causas ambientais no Brasil precisam ficar atentos a este nome. É como está sendo chamada a possível usina hidrelétrica a ser instalada no Pará, em meio a um santuário amazônico, até agora intocado. Projetada para produzir 6 mil megawats (um quarto de Itaipu), a usina é peça importante do projeto estratégico da Eletrobrás – que quer explorar intensamente, nas próximas décadas, o potencial energético da Região Norte.

Uma rica reportagem de André Borges, publicada no Valor de 25/7, ajuda a compreender as dimensões e riscos de São Luiz do Tapajós. A usina chama atenção pelo ponto em que poderá ser construída: numa área cerca de 700 quilômetros a oeste de Belém e em meio a doze unidades de conservação que formam o Complexo do Tapajós, considerado por alguns o maior mosaico de biodiversidade do planeta.

Ao contrário da área semiocupada em que será erguida a barragem de Belo Monte, o ponto onde se quer instalar São Luiz do Tapajós é virgem. Não há assentamento humano. A cidade mais próxima é Itaituba (110 mil habitantes), 70 quilômetros rio abaixo. Mas a inundação será maior. Em Belo Monte, devido às pressões sociais e a mudanças na tecnologia de geração hidrelétrica, o lago projetado terá 516 km². Gerará 11 mil Mw (embora não possa funcionar com tal potência durante todo o ano). Já o novo projeto ocupará uma área com o dobro do tamanho (1368 km², quase tanto quando o município de São Paulo) e gerará pouco mais de metade da energia.

A decisão de construir não está 100% tomada. Para viabilizar o projeto, a presidente Dilma deu um primeiro passo. Baixou, em janeiro, Medida Provisória (já transformada em lei) reduzindo a área de oito das doze unidades de preservação que formam o Complexo do Tapajós. O processo é chamado, no jargão técnico, de “desafetação”. Houve compensações apenas parciais: as unidades ganharam novos territórios – porém, sem a mesma biodiversidade, segundo biólogos ouvidos por André Borges. Ainda não há licenciamento ambiental para São Luiz do Tapajós, o que pode favorecer a luta em defesa da floresta.

No Complexo de Tapajós já foram catalogadas 390 espécies de aves e 400 de peixes. Vivem animais em extinção, como a onça-pintada e onça-vermelha. Maria Lúcia Carvalho, chefe do Parque Nacional da Amazônia (uma das doze unidades) e pesquisadora do Instituto Chico Mendes, afirma que a construção da hidrelétrica traria grandes riscos para os ecossistemas. Também lamenta o caráter abrupto da decisão de iniciar o levantamento: “Estávamos trabalhando a mil por hora no plano de manejo do parque. De repente, fomos avisados de que parte dele simplesmente iria ser desafetada [desprotegida]. Recebemos este banho de água gelada, o trabalho foi perdido”. Em 30/7, André Borges informou que, além da diretora, um grupo de técnicos prepara manifesto contra a desafetação.

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21 comentários para "Muito mais grave que Belo Monte"

  1. Daniel disse:

    Não vou entrar no mérito da importância da floresta e da biodiversidade nos sítios de Belo Monte e Tapajós pq os dois rapazes comentando a favor dos projetos claramente não irão entender. O que pode ser facilmente compreendido por eles é que poderíamos investir em outras matrizes energéticas, como a solar, eólica,ou ainda a própria hidrelétrica, porém em pequenas usinas pulverizadas, o que reduziria a área alagada e as perdas de energia através dos cabos de transmissão.

  2. Thiago disse:

    Um absurdo a matéria afirmar que a área afetada é virgem e desabitada. Primeiro nunca foi vorgem, basta ver os estudos arqueologicos sobre a milenar ocupação dos Munduruku e nem e desabitada. Basta acompanhar as notícias, as decisoes da justiça, pareceres do MPF, movimento de autodemarcacao Munduruku, os relatórios de Impacto Ambiental da Empresa, o Relatorio da Funai recém divulgado sobre a demarcação de um terra indigena, para saber que sim a Barragem vai afetar assentamentos e territórios indígenas, alagando os total ou parcialmente.
    Esta matéria é parcial e desinformada, e atua para naturalizar o argumento do empreendedor, invisibilizando os povos e comunidades habitantes do Tapajós, mesmo valorizando a biodiversidade por outro lado.

  3. RUBENS SOARES disse:

    Está chegando o FIM

  4. A ciência existe para ajudar a ESPÉCIE HUMANA nem a única ,nem a 1ª a habitar o PLANETA, a resolver problemas que nosso HABITAT sempre nos colocou desde os HOMENS PRIMITIVOS. Portanto vamos consultar cientistas e resolver os problemas DEMOCRATICAMENTE pra evitar o máximo possivel destruir os mananciais de AGUA POTÁVEL DO PLANETA. Obter energia é fundamental mas tb não é necessário superpovoar a terra. Será que MALTUS estava tão errado? quem sabe será necessário verificar o nivel de saturação da especie humana? O ritmo de crescimento do planneta se mede em milhões de anos e o nivel de poluição atual provocado pelo desconhecimeto da ciência e a ganância dos poderes capitalistas e outros anteriores não faz parte da ETICA da natureza pq ela não o tem. A ética é previlégio da sp humana que deve levar a posturas adequadas ás informações cientificas e solidarias com os desprivilegiados da TERRA. Não será destruindo nosso HABITAT que praticaremos a solidaridade e igualdade. E urgente criar novos hábitos não consumistas que a energia dará pra todos os atuais 09 bilhoes de terrqueos.

  5. leonardo disse:

    Você realmente acredita que essa energia mágica que será produzida é para você ligar seu lap top. A demanda é essa, ligar o laptop… para da fazer papel de troxa, seu alienado…

  6. João Carlos disse:

    Projeto da morte !

  7. Luiz Abbondanza disse:

    Desconsoladora e sempre atual a frase de Lacan: "Contra o capitalismo, somente a santidade".

  8. Leonardo Cintra disse:

    hahaha…

  9. Cesar Spina Donadio disse:

    MEGA CONSTRUÇÕES, MEGA DESTRUIÇÕES! AVANTE BRASIL!

  10. Quanto mais a gente reza, mais assombração aparece.
    E agora?
    Fim de mundo.
    🙁

  11. Thais Soares disse:

    diminuir o consumo é o primeiro passo para que a biodiversidade existente possa continuar a existir!!

  12. Arthur Araujo disse:

    Fazendo um comentário a respeito de alguns comentários anteriores é preciso dizer: primeiramente as florestas não são ovos que devem ser quebrados para fazer omelete, que, aliás, em geral só é comido pelos ricos; em segundo lugar, é muito cinismo tentar justificar uma brutal degradação ambiental, que trará sérias consequências à vida das populações e do futuro do planeta em nome da defesa de alguns privilégios como ter notebooks e outras “maravilhas” do mundo moderno, que a grande maioria da população não pode ter.

  13. Marcio Ramos disse:

    Conheço a Permacultura e vi nascer um dos primeiros centros no Brasil. O que eu nunca vi foi isto funcionar de verdade devido entre outros a própria incompetência dos administradores desta tão “ousada ciência”. Gerem energia para milhões de pessoas e briguem por suas idéias, mostrem trabalho, usem da criatividade e nos deem outras opções que serão aceitos enquanto isso não acontecer vão ficar só chorando as pitangas e conversando só entre vocês porque ninguem vai dar atenção mesmo…
    Vida longa mesmo que seja breve… e não adinata chorar…
    Jesus apaga a luz!!! Fui!

  14. Marcio Ramos disse:

    Aqui em AIURUOCA lugar de nascentes de centenas de rios tambem quiseram fazer uma Usina mas não conseguiram – AINDA BEM!!!!! – devido a mobilização da população local.
    Uma Usina no meio da floresta parece ser interessante; podemos tambem não fazer usinas hidreletricas e tentar algo mais alternativo como querem a galera da religião light, do budismo picareta, da teologia da libertação, da ética capenga do politicamente correto e assim voltamos ao Neolitico porque sem energia ninguem vai sobreviver, quero saber como alimentar, cuidar e prover bilhoes de pessoas sem energia…
    Materias como esta são importantes para que toda a comunidade se organize a fim de fiscalizar as obras e diminuir ao maximo o impacto ou podemos fazer como os budistas lá no Nepal, Tibet e região por onde ja passei, que se tiver um formigueiro ali no campo onde se planta alimentos se muda o campo e deixam as formigas em paz e as favas com a comidinha das crianças… aos politicamente corretos ( que são a maioria hoje independente de classe social ou formação porque todo mundo a toda hora se esforça para ser aceito na sociedade em que vive) estes deveriam passar alguns meses – não vão conseguir – em uma aldeia indigena e ver que delicia é ficar dois, tres, quatro… dias sem comer ou so comendo farinha; ou viver na floresta distante de tudo – nao sei se ainda existe um lugar assim “distante de tudo” – e torcer para nao torcer o pé e não poder buscar o peixe; em Parintins, Amazonas, por falta de energia amiga perdeu o filho prematuro na UTI; os ribeirinhos sem energia nao podem fazer moveis, maquinas para moer mandioca, ter acesso a informações etc etc etc pois as maquinas – estas coisas horriveis que o HOMEM inventou – nao funcionam com “energia espiritual” e até ja tentaram bater o tambor aqui mas a chuva nao veio é impressionanate mas o que tem de gente querendo voltar ao Neolitico; deveriam se moibilizar e deixar o Pais nas mãos dos indios que até hoje nao produziram absolutamente nada – não conheciam a roda em 1500 – devido entre outros à politica burra de um Estado incompetente nas mãos desta gente que adora uma conversinha de escritorio nas dependencias das Universidades, mas da vida, da estrada, do mundo não sabem é nada em sua maioria… geralmente estes nao querem sair de seu conforto e são incompetentes para administrar ate a propria casa e amam os distantes mas detestam os proximos basta ver a atitude das pessoas em centros como São Paulo…
    Vida Longa, mas um dia acaba, mesmo que a gente nao queira, fui…

  15. Rede Psb disse:

    Vai entender essa raça de humanos? devem ser trangênicos até o último fio de cabelo…

  16. Mario Cajuhy disse:

    SE TIVÉSSEMOS JUÍZES, NA SUPREMA CORTE , COM VERGONHA NA CARA….ESTES MEGAS PROJETOS DE DESTRUIÇÕES EM MASSA DA NOSSA BIODIVERSIDADE , NÃO VINGARIAM….OS MARGINAIS ATUAM ONDE SABEM Q. AS MALHAS DA JUSTIÇA NÃO LHES ALCANÇAM . . .

  17. valdir disse:

    A mesma balela de sempre…. aqui em Belo Monte é por conta dos índios, comunidades ribeirinhas, etc.. etc. Engraçado que aqui também diziam que a área de Belo Monte era uma das maiores biodiverisidades do Planeta…… Em Tapajós é a “floresta”. Nossa!!! Quanto drama. Quero ver na hora que não tiver energia (pra vc ligar ou carragar a bateria do seu notebook, pra funcionar seu provedor de internet, seu celular, sua central de ar…) hummmm que sufoco. Fala sério!!! Acho que dá pra dividir um pouco pra cada coisa… Dá pra fazer a usina e ainda sobra muita floresta. Desafio esse pessoal que são do contra a revelar seus verdadeiros motivos de ser contra.

  18. Maria Castro Fisher disse:

    oi Vitor,
    O problema da destruição das florestas..não é so quebrar os ”ovos”..porque não é um problema local (unicamente), a floresta está prestando um importantissimo trabalho na regulação do clima, não somente para o estado, ou região em que está localizada, mas a nivel nacional e internacional.
    Destruir as nossas florestas é um perigo não para futuras gerações, mas para nós mesmos que estamos aqui no planeta, nesse momento, se duvidas, pode entrevistar e pesquisar agricultores na região sul do Brasil, que sofrem com a falta de chuva. Devemos arriscar nossa sobre-vivencia e bem estar como raça humana, por um presente de comodidade, preguiça, e desinteresse dos governantes em investir em recursos renovaveis para geração de energia?
    Não faz sentido… destruir a floresta para gerar energia, que abastecerá mineradoras estrangeiras, que reviram e poluem nosso solo, por um preço barato e nos vendem manufaturados de alto valor agregado. É sensato?

  19. Victor Medeiros disse:

    1300 km2 não é nada para um país de 8,5 milhões de km2. A área é desabitada.
    Prefere que venhamos a ter problemas de eletricidade como a Índia, ou que terminemos por queimar carvão, gás natural ou resíduo de petróleo?
    Não se faz uma omelete sem quebrar ovos.

  20. Ronaldo Rosa disse:

    Venho falando isso desde o ano passado!

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