Memória visual da metrópole que não se enxerga

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Nos desenhos de Carla Caffé, expostos em passagem de pedestres, paulistano vislumbra algo em que nunca prestou atenção antes — embora sempre tenha feito parte de seu cotidiano

Por Gabriela Leite

Em São Paulo, a Passagem Literária, que liga subterraneamente os dois lados da Rua da Consolação, na esquina com a Avenida Paulista, é quase despercebida pelas centenas de pessoas que passam ao lado dela diariamente. Identificada apenas por uma placa onde se lê “Parada Avenida Paulista” (em referência ao ponto do corredor de ônibus), a passagem foi reformada em 2005 e desde então é um espaço com sebo, exposições e atrações diversas.

É onde começou, sexta-feira (12/07), a exposição “Aérea Paulista” da artista e arquiteta Carla Caffé. E não poderia ser em lugar melhor. O projeto reúne desenhos, recortes e colagens que a artista fez de pontos marcantes da Avenida Paulista. Na exposição, estão dispostos de forma linear: colocados na mesma ordem que existem fisicamente, formando uma visão poética, fragmentada e muito representativa da avenida que é centro cultural e econômico de São Paulo. E, abaixo, como na cidade, há também o desenho de algo como um mapa topográfico das ruas que a seguem, sentido centro.

Carla Caffé é formada em arquitetura e trabalha como diretora de arte. Seu trabalho pessoal é formado por desenhos urbanos feitos com bico de pena, lápis de cor e colagens. Mas seu traço é bem diferente do que se pode esperar de um arquiteto. A perspectiva foge da forma renascentista e se assemelha mais à nossa percepção de um espaço do que uma representação objetiva. Ao mesmo tempo, recortes, formas e cores se misturam à tinta preta e espaços vazios de forma singular.

São esses detalhes que emocionam o observador. Ele reconhece, no desenho de Carla algo em que, talvez, nunca prestou atenção antes — embora sempre tenha feito parte de seu cotidiano. Nas palavras de Agnaldo Farias, a artista “vai representando excertos de construções notáveis por suas peculiaridades, arquiteturas e situações que, aqueles que vivem em São Paulo ou simplesmente vivenciaram essa avenida em algum tempo, percebem-lhes amadas, embora até esse momento a maioria não soubesse disso. A prova do afeto é que eles a reconhecerão de imediato e, como acontece, se reconhecerão nesse reconhecimento”.

Essa é a riqueza no fato de a Passagem Literária abrigar a exposição. Além de ser na célebre esquina onde existiram (e fecharam) pontos históricos da vida cultural paulistana, como o Cine Belas Artes e o Bar Riviera, fica em uma passagem de pedestres que foi transformada para ser espaço cultural público. E, quase de forma poética, a passagem se assemelha aos desenhos de Carla no que diz respeito à necessidade de olhar para a cidade (tanto sua arquitetura quanto seu relevo), da ocupação dos espaços públicos e da identidade de São Paulo.

A exposição, que já passou pelo Funarte no começo do ano, acontece até 27 de agosto e conta com uma tarde de desenho com Carla, no dia 4/8, às 16h. A Passagem Literária fica aberta de segunda a sexta das 7h às 20h; sábado, e alguns feriados das 10h às 20h. Seus desenhos e outros trabalhos também estão em seu site, Flickr, e Facebook.

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6 comentários para "Memória visual da metrópole que não se enxerga"

  1. Tiago Wonka disse:

    #sucesso

  2. Naiara Carvalho disse:

    Salve Carla Caffé!

  3. O desenho da Carla Caffé "é tudo de bom"!!

  4. Carol Caffé disse:

    Parabéns, Carla, por ajudar a tornar São Paulo mais alegre e colorida!

  5. Maze Leite disse:

    Parabéns, Carla Caffé, por ajudar a tornar São Paulo mais humana!

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