Para que a Rio+20 não sirva apenas como palco de denúncias

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Texto de Ladislau Dowbor aponta caminhos para mudanças profundas na produção e consumo. Elas podem começar já, contagiar sociedades e converter-se em políticas públicas

Sobre o tema: O texto de Ladislau Dowbor a que esta resenha se refere pode ser lido em Ourras Palavras, em duas partes: 1 2

Há pelo menos duas formas de enxergar a conferência Rio+20, que começa em seis semanas. Uma delas é preparar-se para denunciar seu provável “fracasso”. Ao terminar o encontro, em 22 de junho, os chefes de governo não terão, tudo indica, desenhado um plano para deter o aquecimento global ou as diversas formas de devastação da natureza. Em quase todo o mundo, a política institucional está cada vez mais amarrada aos grandes negócios e capitais. Estes buscam valorizar-se ou por meio dos circuitos financeiros, ou dos velhos padrões de “desenvolvimento”. Sua lógica é o lucro máximo: não inclui buscar novas relações, sustentáveis e harmônicas, entre ser humano e natureza.

Por isso, a mera denúncia é radical apenas na aparência. Ela permite apontar culpados, mas não ajuda a deter o crime. Durante alguns dias, a grande exposição do evento na mídia garantirá algum alarido e desgaste dos governantes insensíveis. Depois a rotina das relações de produção e consumo atuais voltará a se impor.

Uma segunda atitude é menos dramática. Significa enxergar a Rio+20 não como o momento do tudo-ou-nada, em que o planeta será salvo ou perdido para sempre. Permite ter a conferência como um momento de articulação global das pessoas e movimentos dispostos a praticar novos padrões de produção e consumo – e a lutar para que eles prevaleçam.

É uma disputa cultural e política, ao mesmo tempo. Tem dimensão autônoma e imediata: pode começar já, na mudança de práticas cotidianas. Permite o contágio: as novas formas de produzir e consumir retiram a vida do automatismo cinzento a que o capitalismo normalmente a confina. São sedutoras, difundem-se com facilidade.

Para serem efetivas em larga escala, e fazerem diferença em escala planetária, precisam transformar-se em opções sociais. Substituir o carro pelo transporte público, as bicicletas ou caminhadas é importante desde já – se você está consciente. Mas para que centenas de milhões de pessoas o façam, será preciso assegurar metrôs, trens e ônibus de qualidade; reservar faixas de trânsito ciclovias nas metrópoles; tornar cada vez mais proibitivo o uso do automóvel particular, nas condições em que é desnecessário.

Os que estão dispostos a adotar esta postura diante da Rio+20 podem encontrar em Ladislau Dowbor [conheça seu site] uma grande referência. Pesquisador de atuação internacional, ele é um estudioso destacado dos processos econômicos em que a colaboração está substituindo a antiga lógica da disputa de todos contra todos. Mas não se limita à teoria: envolve-se em dezenas de projetos ligados à economia solidária, às cooperativas, aos novos arranjos produtivos.

Ladislau acaba de publicar um artigo inspirado – “Alternativas inteligentes de uso de energia” no livro Energias Renováveis no Brasil1, do qual é um dos organizadores. O texto é uma inspiração essencial para a conferência que a ONU realizará no Rio em junho. Outras Palavras tem a satisfação de publicá-lo em duas partes. A segunda estará no ar amanhã; o início do texto pode ser

1 Emílio Lèbre La Rovere, Luiz Pinguelli Rosa, Ladislau Dowbor e Ignacy Sachs – Energias Renováveis no BrasilRenewable Energy in Brazil – Edição bilíngue – Núcleo de Estudos do Futuro, NEF, PUC-SP. Editora Brasileira, São Paulo 2012 www.editorabrasileira.com.br

 

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2 comentários para "Para que a Rio+20 não sirva apenas como palco de denúncias"

  1. Nemis da Rocha disse:

    É isso mesmo, a famosa teoria do pequeno beija flor, se cada um de nós fizer a sua parte este mundo será muito melhor. Mas existe um grande inimigo desta teoria, o individualismo do mundo capitalista.
    Esse é o grande problema, todos se autodenominam católicos ou evengélicos, mas não praticam o principal mandamento do Cristo.
    Enquanto o homem for individualista, ira sofrer.

  2. Henrique de Souza Miranda disse:

    Muito boa a análise, e devemos entender que com pequenas medidas simples, praticadas individualmente podemos ajudar a construir uma sociedade que devagarzinho ajude o nosso Planeta Terra a sobreviver.

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