A um passo da unidade palestina
Em novo desdobramento da revolta árabe, Fatah e Hamas podem firmar, no Cairo, acordo histórico para encerrar disputa interna
Publicado 27/04/2011 às 18:16
Da Al Jazeera | Tradução de Daniela Frabasile
A organização política palestina Fatah, chegou a um acordo com o rival Hamas para formar um governo provisório e fixar a data para eleições gerais, segundo anunciou, na tarde desta quarta-feira (27/4) a inteligência egípcia. Em fevereiro, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina e membro do Fatah, havia proposto que as eleições presidenciais e legislativas ocorressem antes de setembro, um movimento que foi rejeitado pelo Hamas na época.
“As reuniões resultaram em um completo entendimento em todos os pontos de discussão, incluindo o arranjo de um acordo provisório com tarefas específicas e para marcar uma data para a eleição”, disse a inteligência egípcia em uma declaração na quarta-feira.
O acordo, que pegou autoridades e analistas de surpresa, foi debatido no Egito, numa série de reuniões secretas. “Os dois lados assinaram cartas de acordo provisório. Todos os pontos de diferenças foram superados”, relatou à agência Reuters Taher Al-Nono, porta-voz do governo do Hamas em Gaza. Ele acrescentou que as autoridades do Cairo convidariam em breve os dois lados para uma cerimônia de assinatura.
Marwan Bishara, um analista político senior da Al Jazeera, afirmou: “é uma notícia importante… a situação geopolítica não era exatamente útil [para a reconciliação]. Mas vivemos seis meses de agitações, que refletem as mudanças ocorridas no Egito”. Ele prosseguiu: “Em resumo, poderia-se dizer que o presidente Abbas perdeu seu protetor egípcio, que era o presidente Mubarak, e o Hamas está mais ou menos enfrentando problemas similares agora, com Bashar Al-Assad [presidente sírio] enfrentando seus próprios problemas em Damasco. Então, e como os Estados Unidos mantêm-se distantes e Israel não faz concessões para o processo de paz, era hora de os palestinos se juntarem e concordarem naquilo que basicamente concordavam há quase um ano e meio atrás”
O primeiro ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, reagiu de imediato. Ele afirmou, ainda esta tarde, que o presidente palestino não poderia ter esperanças em forjar um acordo de paz com Israel se buscasse um acordo de reconciliação com o Hamas. “A Autoridade Palestina deve escolher entre a paz com Israel e a paz com o Hamas. Não existe a possibilidade de paz com os dois”, disse Netanyahu. O Hamas não reconhece Israel como um estado.
Separação amarga
O Fatah detém o poder na Cisjordânia ocupada, enquanto o Hamas, que ganhou a última eleição parlamentar em 2006, expulsou da Faixa de Gaza as forças da Fatah em 2007, para assumir o controle da região.
Rawya Rageh, correspondente da Al Jazeera no Cairo disse “esse efetivamente será o fim da amarga separação que os palestinos têm testemunhado desde 2007: “Espera-se um anúncio nas próximas horas para revelar os detalhes do acordo”
Rageh disse que era esperados que o acordo fosse assinado na próxima semana, numa cerimônia a qual se supõe que comparecerão Abbas e o líder do Hamas, Khaled Meshaal, que está em Damasco.
Nicole Johnston, correspondente da Al Jazeera em Gaza, noticiou: “um dos maiores grupos da sociedade civil aqui pede que todas as facções palestinas se encontrem na praça principal da cidade de Gaza, a praça do soldado desconhecido, para começar as celebrações”.
“Certamente parece que em Gaza há uma necessidade de boas notícias. Esse tem sido muito um mês difícil aqui em vários aspectos, uma intensificação de violência com Israel, o sequestro e assassinato de um estrangeiro. Por isso esse tipo de notícia realmente pede celebração”.
O acordo de quarta-feira foi relatado em primeira mão pelo serviço de inteligência do Egito, que intermediou as negociações.Em uma declaração dada pela agência de notícias do estado Egípcio MENA, o serviço de inteligência disse que o pré-acordo foi celebrado pela delegação do Hamas liderada por Moussa Abu Marzouk, e pelo membro do comitê central do Fatah, Azzam Al-Ahmad.
Al-Ahmad e Abu Marzouk disseram que o acordo abrangeu todos os pontos em que antes havia discórdia, incluindo a formação de um governo de transição, medidas de segurança e a reestruturação da Organização pela Libertação Palestina para que o Hamas possa se juntar a ela. Na televisão estatal egípcia, Al-Ahmad afirmou que haverá eleição geral em um ano. Mahmoud Al-Zahar, um antigo membro do Hamas, disse que todos os prisioneiros não-criminais seriam soltos.
Como sempre, nada disto foi noticiado nos telejornais de ontem (é bem verdade que não vi a CNT, nem a Record).Mas o mais provável é, como em todas as notícias que possam ser interpretado como um avanço para os palestinos e um revés para Israel, que a camarilha telejornalística precise de pelo menos 24 horas para forjar a sua versão, que deverá vir hoje, em que o avanço será minimizado ou omitido e o papel sempre louvável de Israel se esforçando para alcançar a “paz” sejam devidamente enfatizados.Que pecado cometemos nós para merecer um telejornalismo tão medíocre, tão rasteiro, tão científicamente direcionado para as camadas lumpen (se algum classe-média quiser pegar carona, melhor.Se não quiser…). Sinceramente, e é trágico ter que admitir isso, na Ditadura éramos informados melhor, pelo menos no que diz respeito ao noticiário estrangeiro.